Marcelo diz aos EUA: “We trust you, trust us back

No arranque de uma grande ofensiva diplomática que Portugal realiza este mês nos Estados Unidos, o Presidente sublinha a importância da confiança nas relações bilaterais. Encontro com Trump ainda depende da “volatilidade” da conjuntura internacional.

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o Presidente de braço dado com o embaixador americano em Portugal, George Glass LUSA/NUNO FOX

Marcelo Rebelo de Sousa encerrou o encontro EUA e Portugal – uma parceria para a prosperidade com uma mensagem clara: é preciso confiança recíproca para dar continuidade à secular aproximação entre os dois países. “We trust you, trust us back”, disse o Presidente da República em frente ao embaixador dos Estados Unidos, George E. Glass, na Fundação Calouste Gulbenkian, no início de uma semana que marca o arranque da grande ofensiva diplomática que Portugal realiza este mês naquela potência mundial.

“Nós confiamos e gostaríamos de continuar a confiar nos Estados Unidos da América, independentemente das conjunturas”, sublinhou, também em português, o chefe de Estado. “Sabemos que toda a verdadeira aliança e amizade tem de ser cultivada todos os dias. E que actos e omissões unilaterais devem visar reforçá-la, e não enfraquecê-la. Mas estamos naturalmente cientes de que o significado destes gestos só pode ser inteiramente apreendido se houver conhecimento mútuo, empatia, e é por isso que temos vindo a apostar em dar-nos a conhecer melhor nos Estados Unidos da América", declarou.

Palavras fortes proferidas dias antes da partida para aquele país do Presidente e do primeiro-ministro lusos, que pela primeira vez vão comemorar o 10 de Junho em terras do Tio Sam, visita durante a qual não foi possível compatibilizar agendas para o encontro entre os dois chefes de Estado. A reunião com Donald Trump está agora prevista para o fim do mês, mas, como disse Marcelo aos jornalistas, aguarda-se marcação definitiva, pois “a conjuntura internacional é muito volátil”.

Na conferência, o Presidente da República insistiu na mensagem deixada de manhã pelo primeiro-ministro, de que Portugal pode ser “uma segunda casa” para investidores norte-americanos após o "Brexit". Portugal, disse Marcelo, é "a primeira porta da América do Norte para a União Europeia do futuro", mas também "um país fiável, que trilha um caminho consistente, que foi capaz de lidar com a crise".

“Só por visão curta ou distracção recíproca nos podemos esquecer deste apelo à aproximação”, disse o chefe de Estado no fim da sua intervenção, concluindo que os dois países estão “condenados” a estarem juntos e garantiu que “nada nem ninguém" os afastará dessa "convergência secular”.

Questionado pelos jornalistas sobre se a confiança entre os dois países está em causa em 2018, Marcelo reafirmou “as relações seculares” entre ambos. “Nós corremos o risco de confrontar o nosso aliado, que era a Inglaterra, para reconhecer a independência dos EUA [em 1763] e ao longo da história”, sublinhou o Presidente, salvaguardando no entanto que “houve momentos em que o relacionamento não foi tão intenso, por razões historicamente compreensíveis”, como aquele em que os EUA se distanciaram da política colonial portuguesa.

“O que eu quis dizer é que, sendo Portugal afirmadamente europeu e solidário com a União Europeia, também é simultaneamente transatlântico no quadro da Aliança Atlântica, da NATO, e portanto há que permanentemente afirmar e cultivar esta amizade que tem séculos. Isso faz-se com actos, conjugação de vontades, e não com actos unilaterais, com actos que reforcem e não que enfraqueçam”, insistiu.

Em pano de fundo nas relações entre os dois países está, desde logo, a saída da maior parte do contingente militar americano da Base das Lajes, mas também a guerra comercial decretada pelos EUA a diversos blocos, com a União Europeia e a China, e os recados de Marcelo passam por aí.

"A América não tem alternativa para a UE como aliado, não tem alternativa na Europa e não tem alternativa no diálogo com outros continentes. A Europa esteve onde os EUA não estiveram, conhece África melhor que os EUA, conhece uma parte da Ásia melhor do que os EUA, mantém um relacionamento muito intenso com a América Latina, e portanto é do interesse das duas partes permanecerem não só aliadas, como amigas. Eu penso que isso é tão óbvio que tem muita força”, explicou aos jornalistas.

Sobre a presença americana nos Açores, lembrou que as relações bilaterais envolvem sempre como ponto central o Atlântico, “só que o Atlântico pode ser vivido de forma diferente”. “A ideia do AIR Center, um centro de estudos e pesquisa mas com importância estratégica, a importância que tem o mar, as pesquisas sobre o mar e até o papel da Marinha portuguesa no mar, correspondem a uma outra forma de afirmar a importância do Atlântico e dos Açores que pode ser parcialmente diferente ou complementar daquela que existe há 60 anos”, afirmou.

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