FUTOU: estes sapatos têm nome japonês e tradição portuguesa

Dois designers decidiram recuperar as técnicas centenárias da tecelagem de Almalaguês, em Coimbra, e criar uma linha de calçado de inspiração japonesa

O calçado da FUTOU recupera a tecelagem de Almalaguês Pedro Carvalho de Almeida
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O calçado da FUTOU recupera a tecelagem de Almalaguês Pedro Carvalho de Almeida
A tecelagem de Almalaguês nasceu em 1088 Abhishek Chatterjee
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A tecelagem de Almalaguês nasceu em 1088 Abhishek Chatterjee
São as tecedeiras que dão continuidade à tradição Pedro Carvalho de Almeida
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São as tecedeiras que dão continuidade à tradição Pedro Carvalho de Almeida

Tem nome japonês, mas tradição portuguesa: o calçado da FUTOU recupera o conhecimento de tecelagem da freguesia de Almalaguês, em Coimbra, e aplica-a em pares de sapatos, revitalizando moldes e técnicas de produção. O projecto é um dos dez finalistas do Prémio Nacional das Indústrias Criativas (PNIC).

Pedro Carvalho de Almeida, um dos impulsionadores do projecto, explicou ao P3 que a tecelagem de Almalaguês "é uma técnica pouco conhecida. Existe desde 1088, mas está em risco de desaparecer, o que a torna num caso raro, muito relevante em termos históricos e culturais". Depois de conhecer este material através da tese de doutoramento de António João Gomes, hoje professor na Universidade de Aveiro, Pedro, designer de comunicação, começou a trabalhar com Abhishek Chatterjee, designer de produto de Nova Deli, na Índia. Juntos resgataram o conhecimento das indústrias tradicionais, "propondo novas reconfigurações formais e a sua recontextualização no mercado através do design". Por isso, a tecelagem de Almalaguês assenta como uma luva no projecto dos dois sócios.

Mas não é só a tradição que valoriza a tecelagem daquela freguesia. Pedro assegura que o material tem "características de elevada qualidade, durabilidade e amplitude de aplicações", sendo "um material exclusivo, de luxo, fabricado em teares manuais com origem nas mais profundas raízes da nossa nacionalidade e que não é fácil encontrar no mercado". O produto artesanal é típico de Coimbra e "está nas mãos das tecedeiras da região, que têm um papel fundamental na preservação e continuidade da actividade", explica o cofundador da FUTOU.

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São as tecedeiras que dão continuidade à tradição Pedro Carvalho de Almeida

Os protótipos do produto foram produzidos na fábrica mecânica da Cortebel, em Cortegaça, Ovar. O método de produção passou por "usar o arquivo da marca e moldes originais das décadas de 70, 80 e 90 e equipamento que pode ser hoje considerado uma parte importante do legado industrial do calçado em Portugal".

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A tecelagem de Almalaguês nasceu em 1088 Abhishek Chatterjee

O nome invulgar FUTOU é japonês e relaciona-se com a ideia de resistência, resiliência e capacidade de superar a adversidade. E a FUTOU, apesar de ter nascido em Portugal — na incubadora do Pólo das Indústrias Criativas da UPTEC, no Porto —, quer chegar precisamente ao Japão, mas também ao mercado do Reino Unido e Norte da Europa. Inicialmente, os produtos vão estar disponíveis em plataformas online, mas prevê-se a abertura de uma loja em 2019. 

A FUTOU concorre ao PNIC na categoria de Arquitectura e Artes Visuais, juntamente com outros nove finalistas: Móvel ao Quadrado, Sugo Cork Rugs, Horizon 47, Guava Shoes, Quarteto Comtratempus, Glymt, Inygon, Luggage Driver e MOOT. O primeiro, o segundo e o terceiro classificado recebem prémios de 15 mil, 7000 e 3000 euros, respectivamente. O vencedor vai representar Portugal na Creative Business Cup, em Copenhaga, na Dinamarca.

Artigo actualizado às 12h32 de 13 de Junho.

Foi acrescentada informação ao segundo parágrafo.

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