Afinal, Costa abriu a pré-campanha

Costa teve o rasgo de avançar com soluções e respostas para os sub-30 e até os sub-40 que serão centrais na conquista de votos.

A grande surpresa do 22.º Congresso do PS foi o facto de António Costa ter lançado a pré-campanha para as legislativas de 2019. Contra todas as expectativas, depois de oficialmente ter apresentado uma moção de estratégia global em que assumia apenas as linhas enquadradoras do que virá a ser o programa eleitoral do PS, no discurso de encerramento, Costa lançou medidas para a resolução das questões que se colocam ao futuro de Portugal (e do mundo) e que na sua moção Geração 20/30 estão organizadas em quatro temas: alterações climáticas, demografia, sociedade digital e combate às desigualdades.
Como quem tira um coelho da cartola, o líder do PS e primeiro-ministro trouxe a discussão teórica sobre o futuro a médio prazo para o presente, através do anúncio de medidas para o actual mandato, que têm o objectivo de lhes responder. A saber, o Governo vai propor à Comissão Permanente de Concertação Social um “grande acordo para as novas gerações” que responda à necessidade de conciliação da vida profissional e familiar. E até precisou que as propostas irão centrar-se no alargamento de direitos parentais, reconhecendo “às avós e aos avôs os direitos que os pais têm” (tema em que o CDS já teve propostas), e na introdução do princípio de que haja “horários de trabalho adaptados às fases da vida”, de modo a que os jovens casais tenham condições de ter “os filhos que quiserem”.
Isto com o objectivo de criar condições para os mais novos se fixarem em Portugal, o que é complementado com a promessa de, no próximo Orçamento do Estado, haver “um programa para fomentar o regresso” a Portugal dos jovens que procuraram carreira fora dele durante o período de intervenção da troika. Além destas medidas concretas, Costa fez um discurso centrado nos problemas que se colocam às novas gerações.
Insistiu na necessidade de criação de condições de habitação para todos. Elegeu a educação como chave do desenvolvimento, num mundo em que o conceito de trabalho está em mutação acelerada pela pressão das novas tecnologias. Prometeu a aposta em “emprego qualificado”. Garantiu o combate à precariedade. Defendeu que os salários em Portugal têm de “convergir para a média europeia”. E anunciou que o Governo quer discutir a qualificação salarial com “o tecido empresarial”.
Tudo o que Costa disse no discurso pode parecer etéreo, mas não é. São questões centrais e Costa teve o rasgo de avançar com soluções e respostas para os sub-30 e até os sub-40 que serão centrais na conquista de votos nas legislativas de 2019. Não só dos que votam pela primeira vez, mas para todos, porque as questões que se colocam hoje aos jovens preocupam também os seus país e avós e nesse sentido são largamente abrangentes na hora de decidir o voto.
Com perspicácia política e sem ser forçado a apresentar já neste congresso o seu programa eleitoral — cuja concretização adiou para uma convenção a realizar em Junho ou Julho de 2019 —, Costa antecipou assim a pré-campanha. E fê-lo com propostas que tiram o tapete à oposição à direita e à esquerda.
Qual dos partidos poderá estar contra a conciliação entre vida profissional e vida privada ou familiar, nomeadamente através do reconhecimento de mais direitos parentais aos avós? Qual o partido que pode estar contra a adaptação dos horários de trabalho às necessidades da vida familiar? Qual o partido que pode estar contra a aposta no Orçamento do Estado para 2019 na concretização de um programa que atraia de novo a Portugal os jovens que emigraram? Por mais que o BE e o PCP optem por insistir em que a disponibilidade orçamental tem de ser para aumentar os funcionários públicos, quem irá considerar que isso é prioritário, fase à aposta no regresso dos que foram obrigados a emigrar?
Costa teve assim um rasgo político de mestre ao lançar, com absoluta surpresa, um discurso de pré-campanha que só poderá capitalizar votos ao PS.

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