Parar na Moita por bacalhau e carnes na grelha

Falta a cozinha de tacho, mas o bacalhau e as carnes grelhadas de qualidade mostram que nem só de leitão se alimenta a Bairrada.

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Adriano Miranda

Sem segredos ou alguma coisa para esconder, Moita é uma aldeia comum, com um aglomerado de moradias, algumas ruelas que denunciam a antiguidade do local e rodeada de hortas e campos de cultivo como todas as outras pequenas localidades da zona da Bairrada. Nada deixa hoje entender que a região da Moita foi, nos primórdios da nacionalidade, um concelho medieval, com carta de foral e couto outorgada em Maio de 1210 por D. Sancho I. Nada nos leva à aldeia, a não ser a variante a Anadia em direcção ao Buçaco, que passa mesmo ao lado da povoação, ou o atravessamento obrigatório para chegar às Caves São Domingos, no lugar de Ferreiros, hoje um dos templos dos vinhos da Bairrada, com impressionantes caves subterrâneas onde, para lá de vinhos e aguardentes de qualidade, repousam em permanência cerca de dois milhões e meio de garrafas de espumante. Aqui sim, há um valioso esconderijo que vale a pena visitar.

Na Moita, o costume era parar apenas nos dias de feira, a 25 de cada mês, mas há agora também um restaurante que convida a paragens mais assíduas. O Moita 25 fica mesmo em frente ao recinto da feira, e daí a denominação adoptada há pouco mais de dois anos, quando o espaço do café central da aldeia foi reconvertido à função única de restaurante.

Sala ampla com capacidade para sentar à volta de uma centena de pessoas e a prometer algum ruído em dias de enchente. Há também uma convidativa varanda/terraço ainda com ares de café, um espaço que se anuncia como prazenteiro para os dias mais quentes e longos. A decoração em tons quentes, e umas quantas frases em estilo provocatório inscritas nas paredes, piscam o olho a uma clientela jovem e diversificada.

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Adriano Miranda

Na carta predominam os pratos de bacalhau, carnes grelhadas e espetadas diversas, sendo que aos fins-de-semana a oferta se pode alargar a alguns pratos de cozinha mais tradicional, como cabrito ou vitela assados no forno, que, por solicitação, se podem servir todos os dias.

“Para evitar longas filas, não diga a ninguém que aqui se come a melhor carne da Bairrada”, presume um dos tais ditos inscritos na parede. As carnes são, de facto, de muito boa qualidade, mesmo quando em preparações culinárias pouco a condizer, mas que pelos vistos são muito do agrado da clientela mais jovem. E como o cliente tem sempre razão, siga o negócio!

Produto de qualidade é também a regra com os pratos de bacalhau, seco e de curas prolongadas, que é servido em diversas versões e receitas. Provámo-lo na versão com broa, que tosta no forno com um molho de cebola e pimento vermelho e é servido com batata a murro. Dose generosa (14€), com meia posta de lombo alto a deixar-se decompor em lascas firmes e gelatinosas, a evidenciar a qualidade da cura.

Para início, tinha sido já servida uma saborosa canja de galinha (2€), seguida de apetitosas fatias de salpicão de porco e queijo de cabra (5,95€). Bem menos convincentes as amêijoas à Bulhão Pato (13€), em dose bem generosa e cozinhado correcto mas parcas de sabor e suculência como consequência da longa congelação.

O polvo à lagareiro (14€) apresentou-se com quatro exemplares do octópode de dimensões reduzidas, textura al dente e mais uma vez a deixar perceber a qualidade do produto, que foram servidos com a mesma batata a murro assada no forno.

Nas carnes, o bife à casa (15,50€) confirmou o agrado do sector juvenil. Carne rosada de bom corte e correcto trato culinário, que chegou à mesa coberta por um espesso e gorduroso molho de ervas. Pouco convidativo, mas mesmo muito convincente para alguns dos mais novos, que avidamente o devoraram na companhia dos palitos e batata frita.

Numa oferta onde a estrela parece ser o exagerado Tomawak de novilho, muito boa nota para o naco de alcatra (13,70€), alto e avantajado, que chegou à mesa com fibras e texturas húmidas, rosadas e suculentas, como impõem as melhores práticas. Carne saborosa e de textura aveludada e a alegrar o palato, servida com legumes salteados igualmente bem executados, num conjunto que, no entanto, não escapou à monotonia das batatas a murro assadas no forno e um molho de ervas a que faltava alguma frescura (um pouco de cebola e salsa podiam ajudar).

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Adriano Miranda

Nas sobremesas, destacou-se a torta de cenoura, num conjunto (9,20€) que incluía leite creme, pudim de ovos e torta de laranja.

Nos vinhos, a carta privilegia naturalmente a Bairrada, com destaque para a oferta de espumantes, com propostas consensuais. Alguns vinhos de autor e/ou com idade facilmente tornariam a oferta mais atraente e convidativa.

Com um serviço esforçado e simpático e a privilegiar o despacho, o Moita 25 é uma alternativa à generalizada oferta de leitão na Bairrada e convida à paragem. Mesmo que possa ficar a sensação de que resultaria bem mais atraente com alguns cozinhados de tacho.

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