Grevistas da CGD França manifestam-se na Embaixada de Portugal em Paris

Protesto deste sábado é o terceiro em duas semanas na capital francesa. Em causa está a redução de actividade do banco público naquele país.

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CGD tem 500 trabalhadores de 48 agências em França PAULO PIMENTA / Arquivo

Cerca de 80 pessoas voltaram a manifestar-se neste sábado junto à Embaixada de Portugal em Paris para "lutar contra a privatização" da sucursal em França da Caixa Geral de Depósitos.

"Não, não, não à alienação", "A Caixa unida jamais será vendida" e "os trabalhadores unidos jamais serão vencidos" foram alguns dos slogans ouvidos, no meio de bandeiras de Portugal.

Cristina Semblano, porta-voz da intersindical FO-CFTC e membro da comissão de negociação dos trabalhadores em greve, recordou que os trabalhadores da CGD França iniciaram a paralisação a 17 de Abril, "há mais de 50 dias".

E adiantou que haverá novas manifestações na próxima semana que poderão contar com a presença do deputado do Bloco de Esquerda Moisés Ferreira, "que fez parte das duas comissões de inquérito à Caixa Geral de Depósitos".

O protesto deste sábado é o terceiro em duas semanas, em Paris, depois de uma manifestação, na quinta-feira, em frente ao Consulado-Geral de Portugal e de outra manifestação junto à Embaixada de Portugal, a 25 de Maio.

"Estamos a lutar contra a privatização acordada entre o governo português e Bruxelas em contrapartida da recapitalização. Estamos aqui para protestar contra a falta de transparência que envolveu todo o processo. Continuamos sem ter acesso ao plano de reestruturação em violação completa da lei portuguesa e da lei francesa", disse à Lusa Cristina Semblano.

A porta-voz da intersindical FO-CFTC enviou, a 29 de Maio, um pedido de audiência urgente ao Presidente da República para apresentar "a verdadeira situação da Caixa Geral de Depósitos em França e as soluções que urge adoptar", mas ainda não teve resposta.

Por outro lado, estão a ser recolhidas assinaturas para uma petição a entregar na Assembleia da República "contra a privatização da sucursal em França da Caixa Geral de Depósitos".

"Continuamos o nosso trabalho de recolha de assinaturas até chegarmos às 4000 assinaturas, sabendo que temos largamente mais de 50%", continuou.

A petição também pede "a investigação das condições em que o Estado português aceitou sacrificar a sucursal num país com uma emigração portuguesa tão importante e manteve outras sucursais como o caso de sucursais offshore".

Por outro lado, a representante da comissão de negociações contou que a petição quer que "sejam escrutinadas as despesas de investimento e com consultadoria que foram efectuadas nos últimos seis anos na sucursal em projectos que, longe de contribuirem para a modernização da sucursal, contribuíram para a degradação do serviço da banca pública à emigração portuguesa e também para a deterioração das condições de trabalho".

Cristina Semblano acrescentou, ainda, que os grevistas "não receberam salário e são vítimas de intimidação".

A greve na sucursal em França da Caixa Geral de Depósitos, que tem 48 agências e mais de 500 trabalhadores naquele país, foi apoiada pela intersindical francesa FO-CFTC, mas não foi seguida pelos sindicatos CGT e CFDT.

A redução da operação da CGD fora de Portugal (nomeadamente Espanha, França, África do Sul e Brasil) foi acordada em 2017 com a Comissão Europeia como contrapartida da recapitalização do banco público.

Na semana passada, o Governo aprovou os cadernos de encargos com as condições para a venda dos bancos da Caixa Geral de Depósitos na África do Sul e em Espanha, segundo comunicado de Conselho de Ministros.

A 10 de Maio, o presidente executivo da CGD, Paulo Macedo, afirmou querer manter a operação da CGD em França e adiantou que está a negociar isso com as autoridades, apesar de ter sido também acordada a venda, mas acrescentou que isso só acontecerá se a "operação for sustentável, rentável e solidária" com os esforços feitos pelo banco.

A Caixa Geral de Depósitos teve lucros 68 milhões de euros no primeiro trimestre do ano, o que compara com prejuízos de 38,6 milhões de euros no mesmo período de 2017, sendo que 30 milhões de euros vieram da actividade doméstica e 38 milhões de euros da actividade internacional.

Quanto aos contributos da actividade internacional, o BNU Macau contribuiu com 15 milhões de euros, a sucursal de França com sete milhões de euros, o BCI Moçambique com sete milhões de euros e o Banco Caixa Geral (Espanha) com 9,3 milhões de euros. Para a África do Sul não foram desagregados resultados.

Em 2017, a CGD encerrou as sucursais de Londres, ilhas Caimão, Macau Offshore e Zhuhai (na China), segundo informação do banco.

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