Greve de camionistas leva à saída do administrador da Petrobras

A interferência do Governo Temer na petrolífera para satisfazer reivindicações terá passado linha vermelha de Pedro Parente, dizem analistas.

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Bloqueio de camionistas em São Paulo,Bloqueio de camionistas em São Paulo Leonardo Benassatto/REUTERS,Leonardo Benassatto/REUTERS
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Exército guarda entrada de uma refinaria da Petrobras em Canoas Diego Vara/REUTERS
Miguel Díaz-Canel, Brasil
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Pessoas fazem filas com bidons em bombas em busca de gasolina, que esgotou JOEDSON ALVES/EPA
Brasil, protesto, greve, ação
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Na sede da Petrobras Pilar Olivares/REUTERS
Brasil, supermercado
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Supermercados meio vazios, por falta de abastecimento Ricardo Moraes/REUTERS

As greves dos camionistas brasileiros, a que se seguiu a greve dos trabalhadores da petrolífera nacional, levaram ao pedido de demissão do administrador da Petrobras, Pedro Parente — um acto que retirou 12 mil milhões de dólares ao valor da empresa num só dia.

O seu afastamento era uma das exigências dos trabalhadores da empresa e a contestação à política de preços dos combustíveis que imprimiu durante nos dois anos que levava no cargo eram duas das principais motivações das greves que deixaram o Brasil bloqueado, sem gasolina e gasóleo nas bombas, e sem bens de consumo nos supermercados.

As acções da Petrobras caíram 20% ao longo do dia, depois de saber que Pedro Parente se demitia por considerar que a sua “presença na presidência deixou de ser positiva”, como escreveu numa carta tornada pública.

Em causa está a política que impôs há cerca de um ano de deixar que fosse o mercado a ditar o preço dos combustíveis. O aumento do preço do petróleo fez com que com os efeitos desta abordagem começassem a repercutir-se de forma drástica na economia e gerou a revolta dos camionistas. Estes chegaram ao ponto de ameaçar fazer cair o Presidente Michel Temer e pedir uma intervenção militar já, reflectindo o clima político agitado que se vive neste momento no Brasil.

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Pedro Parente tornou-se num bode expiatório da crise com os camionistas, disse um analista Sergio Moraes/REUTERS

A greve dos camionistas e o bloqueio das estradas pelos grevistas levou Michel Temer a ceder às suas reivindicações, anunciado uma descida dos preços — embora subsistam incógnitas sobre como irá ser financiada.

“A política que Parente aplicou foi o bode expiatório desta crise”, comentou à Reuters Roberto Castello Branco, um ex-membro da direcção da Petrobras, especulando que Temer lhe deve ter pedido mudanças que ultrapassaram as suas linhas vermelhas da interferência do poder na empresa. “Para o país, para a Petrobras, abriu-se uma grande fonte de incerteza que é muito perigosa”, acrescentou Castello Branco.

“A saída de Parente mostra que continua a política de interferência política na empresa. A Petrobras vai ter de pagar dos custos, comentou ao New York Times Gilberto Braga, professor de Finanças na universidade privada Ibmec, no Rio de Janeiro.

Parente chegou à presidência da Petrobras em Junho de 2016, substituindo Aldemir Bendine, que está actualmente preso pela operação Lava Jato. A petrolífera estatal foi amplamente utilizada para financiar políticos e campanhas eleitorais, por isso está no centro do escândalo de corrupção que abala o Brasil.

Para ajudar à pressão que levou à queda de Parente foi importante ainda a greve dos próprios trabalhadores da Petrobras, que tal como os camionistas pediam o fim dos preços deixados ao sabor do mercado, além de exigirem o afastamento de Parente.

Os sindicatos da Petrobras são também contra a privatização da empresa — algo que é rejeitado por 55% dos brasileiros, ou 75%, se for vendida a estrangeiros.

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