Zidane sai de Madrid um treinador de feitos “galácticos”

Nove títulos em dois anos e meio, incluindo três Ligas dos Campeões, é o legado do francês como treinador dos “merengues”. Na segunda despedida, Zizou deixou muita coisa por explicar.

Dani Alves, Zinedine Zidane, Real Madrid CF, Liga dos Campeões da UEFA, Madrid
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Real Madrid CF, Liga dos Campeões da UEFA
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Zinedine Zidane, Real Madrid CF, La Liga
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Zinedine Zidane, Florentino Pérez, Real Madrid CF, Treinador
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Não se sabe se foi antes ou se foi depois de ter conquistado a terceira Liga dos Campeões consecutiva como treinador do Real Madrid. Zinédine Zidane não quis revelar o momento em que decidiu abandonar o banco dos “merengues” e deixar o mundo do futebol de boca aberta. “Isso vou guardar para mim”, disse o francês nesta sua segunda despedida do Santiago Bernabéu, de onde sai como um treinador de feitos “galácticos”: nove títulos em apenas dois anos e meio no cargo, incluindo três Ligas dos Campeões consecutivas, dois Mundiais de clubes e uma Liga espanhola. Se há outra razão para a saída, Zidane e Florentino Pérez não a revelaram. “Zizou” apenas disse que o Real precisa de mudar para continuar a ganhar.

“É o momento certo para todos. Para mim, para o clube e para os jogadores. A equipa tem de continuar a ganhar e precisa de mudar. Sou um ganhador e não gosto de perder. E tenho a sensação de que não vou ganhar. Se não vejo claramente que não vamos continuar a vencer, é melhor sair e não fazer parvoíces”, justificou Zidane, que cumpriu 149 jogos como treinador do Real — teve 70% de vitórias, média superior à de Benítez (64%), mas inferior às de Ancelotti (74,7%), Mourinho (71,9%) e Pellegrini (75%). “Depois de três anos, a equipa precisa de outro discurso, de outros métodos de trabalho e, por isso, tomei esta decisão. Quero muito a este clube e, por isso, é preciso mudar”, acrescentou o francês.

É um desconforto com o presente e com o futuro imediato semelhante ao que Zidane tinha deixado na sua despedida como jogador em 2006, embora em circunstâncias diferentes. A final do Mundial em que foi expulso pela cabeçada a Materazzi foi o último jogo da sua carreira, mas ele já tinha anunciado antes que o seu percurso de cinco épocas no Real tinha chegado ao fim (tinha mais um ano de contrato), numa fase de crise para os “merengues”, um fim de ciclo para aquela geração de “galácticos” que tinha Figo, Ronaldo e Beckham. Nessa altura, “Zizou” falava de “cansaço psicológico” para justificar a decisão de abandonar o Bernabéu, onde tinha vencido, entre outros títulos, uma Liga espanhola e uma Champions.

Esse Zidane de 34 anos reconhecia que estava em final de carreira e que o Real já não precisava dele para ganhar. Este Zidane de 46 está ainda no início da sua vida como treinador e, em menos de três anos, conseguiu mais títulos europeus que Alex Ferguson e José Mourinho em carreiras bem mais longas. Logo, não é pela falta de títulos continentais que sai do Bernabéu. E também não será pela má relação com os jogadores, como provam as muitas mensagens de quase todos nas redes sociais (Gareth Bale foi uma das excepções).

Até Florentino Pérez, o todo-poderoso presidente do Real Madrid, se declarou surpreendido com esta decisão, ele que o contratou duas vezes (primeiro como jogador, depois como treinador) e que o vê sair agora pela segunda vez. “Uma decisão completamente inesperada”, confessou o presidente dos “merengues”. “É um dia triste para mim e para os adeptos”, reforçou Florentino, que confiou em Zidane para o banco numa altura em que Rafa Benítez não estava a dar conta do recado, apesar da reduzida experiência do francês — tinha sido adjunto de Ancelotti e Mourinho e conduzido o Real Madrid Castilla durante ano e meio.

Muitas dúvidas ficaram sem resposta neste surpreendente anúncio de Zidane. O desconforto do francês no Real talvez esteja relacionado com a falta de acordo com Florentino no que diz respeito à gestão do plantel, incluindo a continuidade (ou não) de Cristiano Ronaldo em Madrid, ou o ataque ao mercado (Neymar é um assunto que continua na agenda), mas é apenas uma teoria. Ou talvez Zidane, como contava o El País, se tenha sentido esgotado a lidar “com egos” numa época a antecipar o Mundial em que “cada um reclamava a sua parcela de minutos”.

Outra coisa que ficou, também, por saber foi o nome do sucessor do francês em Madrid. Mauricio Pochettino, treinador argentino do Tottenham, parece ser o candidato mais forte, até porque, segundo alguma imprensa espanhola, terá uma cláusula no contrato que lhe permite sair caso o Real esteja interessado. Joachim Löw, seleccionador alemão, será outra hipótese, tal como Guti, antigo jogador do Real que tem tido sucesso como treinador na “cantera”.

Também ficou por saber o futuro de Zidane, que garantiu não ter planos para treinar na próxima temporada, não descartando um regresso ao Real num futuro próximo. Há quem o dê como seleccionador da França, a começar por Didier Deschamps, antigo companheiro de selecção de Zidane e actual treinador dos “bleus”. “Será, de certeza. Quando, não sei, mas parece-me lógico”, assumiu Deschamps. Por sua própria vontade e antes que o mandassem embora, Zidane saiu pela porta grande e, quando decidir voltar, terá, de certeza, muitas portas abertas.

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