Reforma da zona euro mais distante

Merkel em visita de dois dias a Portugal com uma vasta agenda, incluindo a reforma do euro que a Itália tornou ainda mais difícil.

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Angela Merkel chega esta quarta-feira a Portugal LUSA/FILIP SINGER

A visita de Angela Merkel a Portugal, onde permanecerá dois dias, foge aos padrões habituais da chanceler nas suas rondas pelas capitais, em vésperas de uma cimeira europeia que vai ser muito mais difícil do que estava previsto. Na agenda do Conselho Europeu de 28 e 29 de Junho figura a reforma da zona euro, a gestão das migrações, incluindo a uniformização do direito de asilo, e uma discussão sobre o próximo Orçamento Plurianual da União Europeia. São três temas polémicos, em relação aos quais já houve mais optimismo. Para Portugal, a conclusão da reforma do euro é fundamental. A crise italiana e a distância que ainda separa as propostas do Presidente francês daquilo que a chanceler parece disposta a aceitar não são particularmente animadoras. A sua visita é vista, no entanto, como um sinal de que ainda não desistiu de encontrar alguns pontos de consenso, para evitar que o Conselho Europeu revele uma Europa incapaz de dar um forte sinal de vida.

Esta quarta-feira, Merkel, que aterra no Porto, visita com o primeiro-ministro alguns centros de excelência em Braga e no Porto. Como António Costa refere na entrevista que publicamos aqui, o investimento industrial alemão é responsável por uma fatia significativa das exportações nacionais, mas também pela criação de centros de excelência que procuram em Portugal a “matéria-prima” de engenheiros e cientistas que o país lhes pode oferecer. O caso mais visível é o da Bosch. No Porto, a chanceler responderá às questões de estudantes de doutoramento daquela universidade sobre o futuro da Europa.  

A próxima cimeira

Na quinta-feira, já em Lisboa, o dia é para passar em revista os temas politicamente mais difíceis do Conselho Europeu de Junho. Haverá um encontro a sós. “Os dois líderes conseguiram criar nos últimos anos um clima de mútua confiança”, disse ao PÚBLICO uma fonte diplomática em Lisboa. Merkel aprecia a “agenda positiva” do primeiro-ministro e a sua “abertura para encontrar consensos”. Costa continua a entender que “é preciso dar um sinal” de que as reformas mais urgentes não foram retiradas do caminho. Mas o primeiro-ministro já teve mais esperança sobre um avanço rápido da reforma do euro, fundamental para enfrentar novas crises, evitando os efeitos dramáticos da última. De um modo geral, o Governo apoia as propostas francesas que vão no sentido da “partilha do risco”, para que o euro volte a ser visto como uma moeda verdadeiramente comum. O que se está a passar em Itália não poderia chegar em pior altura para este objectivo.

Também quanto ao sistema financeiro, a Alemanha tem-se recusado a pôr de pé o terceiro pilar da União Bancária, que diz respeito à garantia comum dos depósitos. O Eurogrupo aprovou na semana passada algumas medidas destinadas à redução do risco no sector bancário, incluindo a antecipação da entrada em funções de um backstop para o Fundo de Resolução Bancário, ao qual um país pode recorrer em caso de emergência, de acordo com um conjunto de condições de acesso.

A guerra dos fundos

Outro tema “quente” é o novo Orçamento Plurianual da União Europeia (a versão final da proposta da Comissão foi entertanto aprovada). Apesar de pontos de partida distintos, “ambos têm posições próximas, porque partem de um ponto de vista construtivo”, disse ao PÚBLICO a mesma fonte diplomática. Merkel já disse que está disponível para aumentar a contribuição alemã e o seu homólogo português também, num contraste evidente com uma maioria de países, sobretudo a Norte, que querem exactamente o contrário: reduzir o Orçamento, não substituindo sequer a contribuição britânica.

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