Diogo Dalot, do Fintas ao Manchester United

Talento detectado precocemente, integrou projecto portista Visão 611 como Potencial Jogador de Elite. Andou sempre a queimar etapas até já não caber na carteira do FC Porto.

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Diogo Dalot no jogo do FC Porto com o Liverpool REUTERS/Andrew Yates

Depois de ter sido o mais jovem “dragão” titular num clássico pelo FC Porto desde Fernando Gomes, em 1974, Diogo Dalot confirmou, com o anúncio da sua transferência iminente para o Manchester United, a ideia de precocidade que o tem diferenciado desde o dia em que entrou para o Fintas, em Braga, há 11 anos… pouco antes de integrar o projecto Visão 611 como “Potencial Jogador de Elite” portista. Queimar etapas é uma das especialidades do lateral-direito de 19 anos, que cresceu ao ponto de ultrapassar os limites financeiros do próprio FC Porto.

Treinadores como Bino Maçães, Mário Sérgio e António Folha – todos eles referências portistas – parecem unânimes sempre que se referem ao fenómeno Dalot, um “miúdo” com capacidades excepcionais detectáveis à vista desarmada e, claro, com um futuro brilhante pela frente. A dimensão física e psicológica, a dedicação insuperável, a inatacável ética de trabalho e humildade são os pilares dos verdadeiros campeões e Dalot enquadra-se na perfeição num perfil que, juntamente com a qualidade e arte, talhou um "monstro" como Cristiano Ronaldo.

Diogo Dalot apresenta traços deste ADN raro, sublinhados pela curiosidade de iniciar a grande aventura internacional, em Old Trafford. Essa capacidade e maturidade são um diferenciador face ao “complexo” Renato Sanches (exemplo incontornável na hora de julgar se a decisão de jogar no estrangeiro tão prematuramente não terá um preço elevado no futuro).

Uma das provas da mentalidade adulta, associada à competência, está na forma como respondeu ao repto de Sérgio Conceição, quando a lesão de Alex Telles promoveu a sua estreia como titular. Dalot não vacilou, respondendo com duas assistências para Soares e Brahimi na goleada do FC Porto, em Portimão. No Dragão – depois do “aquecimento”, duas semanas antes, na goleada imposta ao Rio Ave –  Dalot surgiu no "onze" do clássico que deixou o Sporting a oito pontos do FC Porto.

Os “tubarões” europeus – Barcelona incluído – estavam de sobreaviso e dispostos a pagar os 20 milhões de cláusula. Agora, sabe-se que Manchester United e José Mourinho terão sido mais diligentes.

Na verdade, o FC Porto não tinha grande margem de manobra e apesar de estarem criadas as condições ideais para Dalot cumprir, com a ajuda de Maxi Pereira, a época de afirmação plena antes de experimentar outras galáxias, a SAD portista (apesar da venda de Ricardo Pereira) sabia que as hipóteses de perder Dalot no imediato – depois de sucessivas manobras dilatórias do empresário e pai do jovem futebolista – eram demasiado altas e óbvias.

No fundo, Dalot – tal como André Silva e até Ruben Neves – acaba por cumprir o seu desígnio enquanto “Potencial Jogador de Elite”, recuperando, ainda que com uma derrapagem de meia dúzia de anos, o objectivo do projecto Visão 611, implementado por Antero Henrique, em 2006.

Luís Castro, actual treinador do V. Guimarães, coordenava nessa altura toda a formação portista, pelo que está intimamente vinculado a uma ideia que continuará a revelar frutos enquanto houver capacidade para detectar jogadores como Diogo Dalot, cujo trajecto se percebe, também pelo currículo nas selecções jovens, nunca se desviou do rumo.

Dalot, tal como Cristiano, parece insuperável em termos mentais. Nunca oscila, é muito compacto apesar da idade. Está pronto e vai responder de forma muito rápida, garantem sem hesitar e sem excepção todos os responsáveis contactados.

De facto, 20 milhões de euros – valor que poderá ascender aos 25 milhões caso Manchester United e FC Porto optem pela transferência “amigável”, permitindo agilizar a operação com benefícios para ambas as partes – é um número importante atendendo à idade e à posição de lateral-direito de Dalot, apesar de na perspectiva do atleta, o que poderá pesar mais é a possibilidade de se afirmar na Liga inglesa - à medida do estilo de Dalot -, com o patrocínio de José Mourinho, num clube em busca da glória recente.

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