Música: este dispositivo cabe no bolso e cria efeitos “infinitos”

É portátil, ajustável e permite aos músicos controlarem uma “multiplicidade infinita” de efeitos em qualquer instrumento. Sensi M, a criação de João Neves, deverá chegar ao mercado ainda este ano, com a ajuda de uma campanha de “crowdfunding”

Com esta ferramenta os músicos conseguem controlar tudo o que acontece em palco  DR
Fotogaleria
Com esta ferramenta os músicos conseguem controlar tudo o que acontece em palco DR
O Sensi M pode ser aplicado em qualquer instrumento DR
Fotogaleria
O Sensi M pode ser aplicado em qualquer instrumento DR
O sistema funciona através de um “software” que comunica com os módulos fixos no interface DR
Fotogaleria
O sistema funciona através de um “software” que comunica com os módulos fixos no interface DR
João Neves no Lisbon Maker Faire com a Sensi Guitar, em 2016 DR
Fotogaleria
João Neves no Lisbon Maker Faire com a Sensi Guitar, em 2016 DR

Em 2016, João Neves vencia o Startup Lisboa Momentum e estava entre os finalistas do Prémio Nacional das Indústrias Criativas com a Sensi Guitar, um instrumento único e personalizável. Entretanto, nos últimos dois anos, fundou a Sensi Systems e acaba de lançar o primeiro “rebento”: um dispositivo sem fios, portátil e ajustável, que dá a possibilidade aos músicos de criarem uma “multiplicidade infinita de efeitos”. O Sensi M permite ao utilizador controlar qualquer parâmetro, previamente definido, desde luzes a efeitos sonoros, passando pelo volume de um microfone ou pelas notas de um sintetizador. Agora, o jovem quer começar a comercializar o Sensi M com a ajuda de uma campanha de crowdfunding, a lançar ainda em 2018.

 

Mas para chegarmos até aqui é preciso falar do percurso de João Neves. Natural de Rio Maior, Santarém, sempre gostou de música. “Guitarristas como o Jonny Greenwood dos Radiohead, Tom Morello dos Rage Against the Machine, Matt Bellamy dos Muse, Adrian Belew dos King Crimson ou o próprio Jimmy Page influenciaram-me bastante pela forma como tocam guitarra para lá de simples notas ou acordes”, aponta o jovem empreendedor, que admite ser bastante eclético no gosto musical. “Talvez até demais”, admite. Sem deixar de lado bandas como os Depeche Mode ou Nine Inch Nails, João diz adorar também “os pianos de Chopin, o experimentalismo e a irreverência de Stockhausen ou John Cage e o minimalismo de Steve Reich”.

 

Passar de “mero ouvinte a alguém que realmente faz música” aconteceu durante a adolescência, quando aprendeu a tocar guitarra. Aos 16 anos, formou uma banda com o simples objectivo de passar tempo com os amigos, mas, enquanto esses amigos foram seguindo outros caminhos, João percebeu que “não queria fazer outra coisa”. Foi estudar piano e decidiu, a seguir, ingressar na licenciatura em Música Electrónica e Produção Musical, no Instituto Politécnico de Castelo Branco, onde nasceu “o bichinho” de construir a própria guitarra. 

Foto
O sistema funciona através de um “software” que comunica com os módulos fixos no interface DR

 

Foto
João Neves no Lisbon Maker Faire com a Sensi Guitar, em 2016 DR

Da ideia passou à acção e desafiou Marco Félix — que, para além de cunhado de João, é carpinteiro e também tocava guitarra — a construir o instrumento de raiz como projecto final de licenciatura. “A ideia era construir a minha própria guitarra”, explica, mas com a adição de “algo mais” que permitisse usar, “de forma expressiva”, os efeitos usados numa “guitarra eléctrica normal”. 

 

Aprendeu a criar a guitarra e a programar o controlador e assim nasceu a Sensi Guitar, uma guitarra convencional com um sistema de controlo integrado que permite interagir com equipamentos e software externos. O software pode estar ligado a vários instrumentos ou a um microfone e continuar a ser controlado a partir do instrumento — neste caso, uma guitarra —, enquanto o músico toca. A ideia era também fazer — qual one man show — com que o artista conseguisse, sozinho, introduzir elementos no espectáculo, como vídeos e luzes.

 

“Ferramentas têm de se adaptar aos músicos”

Durante um estágio em Itália, João apercebeu-se do potencial de negócio da Sensi Guitar. “Percebi que alguns músicos tinham necessidades específicas para a maneira como queriam fazer música, mas que não eram satisfeitas pela oferta do mercado e comecei a olhar para um potencial negócio que quebrasse essa barreira.”

 

Quando regressou a Portugal, em 2015, apresentou esta ideia de construção de sistemas personalizados para músicos no Lisbon Maker Faire e concorreu ao Startup Lisboa Momentum. Sem estar à espera, ganhou a primeira edição deste concurso, o que lhe deu acesso a um ano de incubação gratuita, com direito a um quarto na residência da Startup Lisboa e a uma bolsa de 500 euros mensais para desenvolver o projecto. Foi aí que fundou a Sensi Systems.

 

Tentar responder a todas as necessidades dos músicos com quem se foi cruzando “seria de doidos”. “Se dou uma ferramenta extra a um guitarrista, convém não mudar muito a forma como ele toca guitarra”, refere. “As ferramentas é que têm de se adaptar à pessoa e não o inverso.” A grande dúvida era como fazer uma ferramenta adaptável que, ao mesmo tempo, pudesse ser massificada. A resposta assumiu a forma de um produto modelar que pode ser aplicado a qualquer instrumento e permite “que cada músico consiga escolher que tipo de interface quer, onde o quer fixar e que tipo de interacção quer”.

 

Como funciona?

O Sensi M adapta a tecnologia que João usou na Sensi Guitar a qualquer instrumento através do protocolo de comunicação de equipamentos Bluetooth Low Energy MIDI, lançado recentemente pela Apple. Combinados com um software que permite ao utilizador definir a forma como cada um dos módulos responde à interacção, o Pressure Atom (sensível ao toque) e o Turn Atom (com um potenciómetro como interface — um simples botão de rodar como os do volume do rádio) permitem ao utilizador controlar qualquer parâmetro previamente definido (luzes, efeitos sonoros, o volume de um microfone ou notas de um sintetizador).

 

Além de poder ser levado no bolso para qualquer lugar, este dispositivo não deixa marcas ou sujidade e também pode ser utilizado a solo, controlando instrumentos virtuais instalados em computadores, smartphones e tablets. O software será ainda “baseado numa comunidade onde os utilizadores podem criar e partilhar diferentes interpretações para o Sensi M”. João Neves quer “dar aos músicos algum espaço para poderem criar” e ensinar à própria equipa as diversas formas como este produto pode ser utilizado.

 

De momento, a equipa da Sensi Systems é constituída por João — a única pessoa a trabalhar a tempo inteiro —, um designer e uma pessoa responsável pelo desenvolvimento do hardware e placas de circuito. No segundo semestre de 2018 será lançada uma campanha de crowdfunding para a angariação de cerca de 50 mil euros necessários à comercialização do Sensi M, cujo preço deverá rondas os 150 euros.

Sugerir correcção
Comentar