Temer cedeu, mas camionistas já pedem um golpe militar para derrubar Governo

Apesar de terem visto praticamente todas as suas exigências atendidas pelo Presidente, camionistas não pararam acções de protesto e continuaram a paralisar o Brasil.

Soldado, infantaria
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Militares controlam o descarregamento de gasolina no aeroporto em Brasília,Militares controlam o descarregamento de gasolina no aeroporto em Brasília Ueslei Marcelino/REUTERS,Ueslei Marcelino/REUTERS
Carro, transporte
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Polícia e exército vigiam grevistas Reuters/UESLEI MARCELINO
Camionistas paralisaram as principais vias das cidades
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Camionistas paralisaram as principais vias das cidades Reuters/UESLEI MARCELINO
Filas nas bombas de gasolina, sem combustível para abastecer os carros
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Filas nas bombas de gasolina, sem combustível para abastecer os carros Reuters/RICARDO MORAES
Rio de Janeiro
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Populares levam bidons para tentarem abastecer-se de combust´vel Reuters/RICARDO MORAES

Apesar de ter reduzido a intensidade, a greve dos camionistas brasileiros continuou nesta terça-feira, entrando no nono dia, mesmo depois de o Presidente Michel Temer ter cedido perante praticamente todas as exigências do sector. O Governo acusa movimentos políticos infiltrados de fomentar os protestos e nas ruas há cada vez mais manifestantes a pedir a queda de Temer. Na quarta-feira, é a vez dos trabalhadores da Petrobras de se manifestarem.

Durante os últimos nove dias, cidades um pouco por todo o Brasil viveram paralisadas: o abastecimento a hospitais, supermercados e bombas de gasolina não aconteceu, dezenas de voos foram cancelados e escolas e universidades foram encerradas, para além do trânsito infernal que provocou o bloqueio das principais vias das cidades.

Nesta terça-feira, os protestos mantiveram-se, mas com menor intensidade. O governador de São Paulo, Márcio França, anunciou que o abastecimento de combustível na região, uma das mais afectadas pela greve, começava a voltar ao normal, e que daqui a alguns dias tudo voltará a ser como antes.

Cedências ignoradas

Foram dois pacotes de benesses que Temer ofereceu aos camionistas. O primeiro na quinta-feira e um segundo no domingo. Este último incluía  a redução do preço do gasóleo em 0,46 reais por litro pelo prazo de 60 dias, o que representa uma queda de 12%. O Presidente propôs ainda que a revisão deste preço fosse realizada mensalmente e não diariamente como foi feito até aqui.

Perante a cedência aos principais focos de descontentamento dos camionistas, que se centravam no preço dos combustíveis, Temer dizia na segunda-feira que a greve estava prestes a terminar.

As primeiras reacções dos sindicatos e associações de camionistas que organizaram os protestos pareciam dar razão ao Presidente. Por exemplo, José da Fonseca Lopes, presidente da Associação Brasileira dos Camionistas, chegou a anunciar, na segunda-feira, o fim da greve depois do acordo alcançado com o Governo. No entanto, não só os protestos não terminaram como em alguns locais aumentaram.

May 29, 2018/Por que a greve não termina mesmo depois que praticamente todas as reivindicações foram aceitas pelo governo? O presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros, José da Fonseca Lopes, foi duro na resposta">

Fonseca Lopes explicou depois que já não eram os camionistas que estavam na rua mas sim "intervencionistas" que "querem derrubar o Governo".

Infiltrados 

Muitos dos manifestantes ouvidos pela comunicação social brasileira não se deram por satisfeitos com as cedências de Temer e aproveitaram para aumentar as suas exigências. Para além de reivindicações mais profundas relativamente ao preço dos combustíveis, muitos pediam uma intervenção militar que derruba o Governo de Temer, que garantiu que não há qualquer ameaça de que isso possa acontecer.

“Além de tudo, temos a esperança de que alguém do Exército tome a decisão de tomar conta do país. Já não é só o diesel e as portagens, é a questão política”, diz, por exemplo, ao El País Brasil, Álvaro Neto, um mecânico de 37 anos que saiu à rua em apoio aos camionistas.

Desde que foi alcançado o acordo no domingo, que não é identificável qualquer liderança dos protestos. Muitas das acções são consideradas espontâneas e autónomas. Porém, o Palácio do Planalto, de acordo com o que noticiou o Estadão, identificou pelo menos três movimentos políticos – intitulados de “Intervenção militar já”, “Fora Temer” e “Lula Livre” - que se infiltraram nos protestos para lhes darem gás.

A pressão sobre Temer aumenta exponencialmente à medida que se aproximam as presidenciais de Outubro, e quando lidera o Governo que é já o mais impopular da história moderna do Brasil.

Quem vai pagar?

A greve dos camionistas afectou praticamente todos os sectores da economia brasileira e os prejuízos são incalculáveis. Por isso, as críticas a Temer surgem também devido à fraqueza demonstrada perante a chantagem dos camionistas.

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Apoiantes do candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro solidarizam-se com camionistas e pedem intervenção militar Ueslei Marcelino/REUTERS

“O Governo do Presidente Michel Temer mostrou-se frágil ao lidar com o protesto dos camionistas que parou o país”, diz o editorial desta terça-feira do Estadão. “Está claro que ao Governo faltou pulso para administrar uma crise desta dimensão, restando à sociedade a sensação de que o que está sendo feito é insuficiente e que os camionistas – e todos os oportunistas que apanharam boleia do movimento – estão a ditar os rumos da crise."

Por sua vez, a Folha de São Paulo faz outra questão no seu editorial: quem vai pagar as promessas feitas por Temer para acabar com a greve? “Está claro que o Governo de Michel Temer ainda não sabe como vai pagar – com o dinheiro dos contribuintes – as promessas feitas para pôr fim à paralisação dos camionistas. Resta descobrir se as autoridades federais têm ao menos ideia de com quem negoceiam."

Na sua intervenção num fórum de investimento em São Paulo, Temer acabou por responder a alguns destes anseios: “Quando alguns rejeitam o diálogo e tentam parar o Brasil, nós exercemos a autoridade para preservar a ordem e os direitos da população."

Nesta quarta-feira, o Brasil enfrenta mais uma greve, desta vez dos trabalhadores da Petrobras, a maior petrolífera do Brasil e uma das maiores do mundo. Temer já sprometeu recorrer ao Supremo para impedir um protesto que considera ser ilegal.

Apesar de faltarem menos de cinco meses para as presidenciais, o espectro de eleições antecipadas começa a pairar por Brasília. 

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