Não sejas taimauta

Lisboa, como todas as grandes cidades, precisa de lugares e hábitos que alimentem e distraiam o dia-a-dia dos moradores, ano após ano.

Gosto da revista Time Out Lisboa e gosto de Lisboa, mas não gosto da maneira como Lisboa está a taimautizar-se. Deveria ser a Time Out Lisboa semanária a reflectir Lisboa eterna — e não o contrário.

A Time Out fala de mais das novidades, das gracinhas e das velharias. É uma estética kitsch que confunde antiguidade com vintage, e retro com fake velharias. É concebido para enganar o turista, que não conhece Lisboa suficientemente para distinguir o que é tradicional do que é implante recente, feito para ludibriar os facilmente ludibriáveis.

Parte do problema é que as coisas novas não aparecem como novas — insistem em ir buscar autoridade a falsas origens e conversas fiadas sobre histórias e viagens, contadas no linguajar automático das relações públicas e da publicidade.

Os novos comerciantes concebem os negócios conforme os padrões da Time Out, imitando a imitação. Ao aplicar manias jornalísticas a lojas e restaurantes acabam por reificá-las, tornando-as modas que nunca tinham sido.

Uma parte cada vez maior de Lisboa parece-se com um pop-up. São efemeridades feitas para visitas breves que apodrecem rapidamente, condenados ao mofo fura-vidas da repetição.

Lisboa, como todas as grandes cidades, precisa de lugares e hábitos que alimentem e distraiam o dia-a-dia dos moradores, ano após ano. É esta eternidade que os turistas mais ganham em visitar — e não as gaiolas berrantes, armadas em very cool, very hipster (o novo very typical) com que se caçam os turistas e o dinheiro deles.

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