O samba sem fronteiras da gentrificação

Eles estão “muito felizes”: a sua “casinha”, a que chamavam O Casarão, também já foi “promovida a hotel”. Foi por esta altura, no ano passado, que o projecto cultural da banda Samba sem Fronteiras ficou sem morada. “O proprietário vendeu o prédio” e o último andar do n.º 305 da Rua do Almada, no Porto, deixou de ter concertos, ensaios, exposições e jantares e passou a ser um espaço abandonado, à espera de novo destino, conta (e canta) Luca Argel, vocalista da banda luso-brasileira. E eles sempre a sambar: “Fechou o livreiro, fechou a quitanda e o florista/ A cidade vai virar só hotel para turista”, anunciam, sorrisos carregados de sarcasmo, na Gentrificasamba, a música que apresenta o álbum Samba sem Fronteiras, com data de lançamento marcada para Setembro.

 

Longe do estereótipo do “é só Carnaval, cerveja e festa”, “o samba tem a tradição de reflectir muito sobre a realidade social”, explica ao P3. E olhando para o Porto, onde a maior parte do colectivo vive há seis anos, não havia como fugir da “gentrificação das grandes cidades portuguesas” (já disseram que também “fechou a taberna, a confeitaria e o alfarrabista”?). É isso que vêem de porta em porta, dentro do “quiosque do piorio”, a base da The Worst Tours. As próprias janelas da casinha amarela vão fechando ao longo do videoclipe — cenário que vai mesmo acontecer (temporariamente?) a 31 de Maio, data em que expira o contrato com a câmara. Resta-lhes subir para o telhado — ou aderir à “profissão turista”.