Seis desafios lançados a Costa na Batalha

As preocupações dos socialistas ficaram expressas nos discursos do segundo dia.

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António Costa Rui Gaudêncio

A propósito do congresso, houve quem falasse sobre o posicionamento ideológico do PS, mas também houve quem lançasse reptos ao líder. A seguir, os seis desafios deixados no Exposalão.

Aumentar a Função Pública

José Abraão, o dirigente socialista que também é líder do sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública não podia deixar de lançar um desafio ao primeiro-ministro. O sindicalista pediu aumentos salariais no Estado, defendeu o descongelamento das carreiras e considerou que é preciso reforçar a negociação colectiva e a concertação social. “Temos de olhar para a classe média, temos de olhar para o salário mínimo que tem vindo a ser aumentado”, disse. “Já que governar é optar, é a vez de optar por valorizar o trabalho e os serviços públicos, é a vez de optar pelos salários da administração pública depois do esforço que a direita nos pediu nos últimos sete anos", desafiou ainda.

Criar um Ministério do Futuro

O repto lançado por Graça Fonseca foi o mais original: crie-se um Ministério do Futuro, que pense na realidade a 25 anos. Agora de regresso ao secretariado do PS a secretária de Estado adjunta da Modernização Administrativa subiu ao palco do conclave para propôr a António Costa que, num futuro executivo, crie o Ministério do Futuro. E defendeu que esta pasta deve tratar de forma integrada, transversal e prospectiva das questões do futuro, já que os outros ministros “que gerem o presente e as políticas públicas não têm tempo nem disponibilidade para pensar” em questões como “o que será o mercado de trabalho” daqui a 25 anos.

Conquistar a maioria absoluta

Augusto Santos Silva pediu-o à TSF, mas não no palco. Quem lançou o desafio aos microfones do ExpoSalão foi Vasco Cordeiro. O líder do governo regional açoriano foi claro a pedir a maioria absoluta do PS, tal como ele próprio conseguiu fazer nos Açores, e a pedir calma aos socialistas na questão da solução governativa pós-2019. “É um debate prematuro, apressado e precipitado. Prematuro porque tal significa prescindir já daquilo que me parece legítimo, possível e desejável, que é o PS pedir aos portugueses um reforço de confiança que se traduza numa maioria absoluta nas próximas legislativas”, defendeu. “O PS é o equilíbrio virtuoso entre vários interesses em presença, os partidos que apoiam este Governo são instrumentais para garantir esse equilíbrio virtuoso”, apontou.

Já Francisco Assis que se voltou a assumir “contra a geringonça” defendeu que o PS deve governar sozinho e deve ir a eleições para ganhar, seja com maioria absoluta, seja sem ela.

Valorizar o interior

“Uma estratégia integrada de valorização do interior com medidas concretas e recursos concretos” foi o desafio lançado pelo deputado Pedro do Carmo, entre muitos outros socialistas que passaram pelo congresso no segundo dia dos trabalhos (o dirigente Hugo Pires, por exemplo, também defendeu a valorização do território). “Precisamos de recuperar dos passivos acumulados por anos de indiferença”, disse o também presidente da Federação do Baixo Alentejo do PS, dando conta da existência, no interior do país, de uma “força produtiva do mundo rural pronta a desenhar um futuro diferente” para as regiões de mais baixa densidade populacional. No âmbito do combate à desertificação e indiferença, o parlamentar pediu melhores acessibilidades para as sedes de distrito. “É para isto que o PS pode contar com os autarcas do Baixo Alentejo: para fazermos o que ainda não foi feito.”

Dialogar sobre descentralização

A descentralização foi um tema constante nas intervenções dos congressistas. Carlos César, Vasco Cordeiro, Marcelino Gaspar, Luís Graça falaram sobre o assunto, mas foi Joaquim Barreto a deixar um alerta: é preciso que o partido continue a dialogar nessa matéria. “É preciso envolver os militantes em causas que os motivem, com tudo aquilo que lhe diga respeito no dia-a-dia”, disse o socialista da federação de Braga, em jeito de conselho. Uma dessas causas, explicou, é precisamente a descentralização. “Depois da assinatura de acordos genéricos, temos de incluir o partido, militantes e simpatizantes, nessa discussão sobre uma causa identitária do PS”.

Viabilizar a eutanásia

A eutanásia foi provavelmente o tema que mais consenso obteve entre os socialistas. A viabilização do projecto de lei que será votado no Parlamento na próxima terça-feira, dia 29, marcou presença em vários discursos, de António Costa a Francisco Assis. Por razões de respeito pelas opções individuais ou por razões filosóficas profundas. Nem uma voz dissonante. O que leva a crer que o apelo vindo de Peniche não terá a resposta desejada. Assunção Cristas, líder do CDS-PP, participou no congresso do JP e aproveitou para fazer um pedido a António Costa. "O nosso desafio é que [António Costa] faça votar no seu partido a decisão de, porventura, apoiar a eutanásia, mas fazê-lo depois do próximo acto eleitoral, na próxima legislatura. Aí sim, estarão a dar um sinal de coragem, de transparência e maturidade política", afirmou a líder do CDS. Aceitando este repto, o PS atiraria qualquer decisão sobre a eutanásia para depois de 2019.

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