Chris Froome, o terceiro homem das três camisolas

Primeira vitória na Volta a Itália para o britânico, que se juntou a Merckx e Hinault no grupo dos ciclistas que ganharam as três grandes voltas de forma consecutiva.

Foto
Froome com a camisola rosa na última etapa do giro Reuters/ALESSANDRO GAROFALO

Ganhar uma das três grandes voltas por etapas (Itália, França e Espanha) é um feito ao alcance de poucos (53) e ainda menos são aqueles que conseguiram ganhar as três. Neste domingo, Chris Froome entrou nesse clube, confirmando na etapa final em Roma o seu triunfo na Volta a Itália em bicicleta, depois dos seus quatro triunfos no Tour e um na Vuelta. O britânico tornou-se no sétimo tricampeão do “Grand Tour”, para além de ter entrado num lote ainda mais restrito de campeões, aqueles que ganharam as três voltas de forma consecutiva — é o terceiro a consegui-lo, depois de Eddie Merckx e Bernard Hinault.

Depois da amarela do Tour 2017 e da vermelha da Vuelta 2017, Froome conquistou a “maglia rosa” — foi o primeiro britânico a fazê-lo — do Giro 2018 com a brilhante exibição que teve na antepenúltima etapa, em que andou 80km sozinho num percurso cheio de montanha e tomou o controlo de uma corrida que não lhe estava a correr de feição. “Foi uma das coisas mais espectaculares que eu alguma vez fiz em cima de uma bicicleta. Para ser verdadeiramente honesto, foi muito arriscado, mas foi um risco calculado”, diria o homem da Sky no final dessa etapa em que deixou a concorrência de rastos — Simon Yates (Mitchelton-Scott) tinha a camisola rosa nesse dia mas acabou a etapa a 38 minutos; Tom Dumoulin (Sunweb) ficou a 40s na geral, mas nada conseguiu fazer.

Foi um solo ao nível do melhor que alguma vez se viu nos grandes palcos do ciclismo, mas, como se tratava de Froome, os mais cínicos e desconfiados dirão que foi batota. Houve sugestões da parte da UCI (União Ciclista Internacional) de que Froome não devia competir enquanto não limpasse o seu nome de todas as suspeitas de doping que recaem sobre ele e que foram amplificadas por um controlo que detectou doses acima do permitido de salbutamol, uma substância usada para tratar a asma, na última semana da Vuelta 2017. E nem a Sky, nem Froome, explicaram de forma satisfatória o que se passou.

Um bloqueio no Tour?

Toda esta questão pode colocar em causa a participação de Froome na próxima edição do Tour, que começa a 7 de Julho. Mesmo não havendo ainda nenhuma decisão quanto à suspensão ou absolvição do britânico, a imprensa internacional tem noticiado amplamente a possibilidade de a organização da Volta a França tentar bloquear a participação do seu tetracampeão. Ou seja, se parece indiscutível que a vontade de Froome é tentar uma quinta vitória no Tour daqui a mês e meio, talvez tenha de enfrentar uma batalha nos tribunais antes de o conseguir fazer, já que a decisão sobre o caso da Vuelta não será tomada antes do início da prova francesa.

Mas o que já ninguém lhe tira é a entrada no grupo dos tricampeões, juntando-se a Eddy Merckx, Bernard Hinault, Jacques Anquetil, Alberto Contador, Felice Gimondi e Vincenzo Nibali. E é o primeiro em 35 anos a conquistar as três voltas de forma consecutiva. Antes, Merckx conseguiu quatro em 1972 e 1973, seguido das três consecutivas de Bernard Hinault, em 1982 e 1983.

Froome era um dos favoritos, mas tinha contra si o facto de já não correr o Giro desde 2010. “Tenho de dizer que a minha relação com esta corrida... Sempre tive algum medo de vir aqui porque é uma corrida muito exigente. É tão diferente das outras”, admitia o britânico de 33 anos, após cortar a meta mais de 20 minutos após o vencedor da última etapa, o irlandês Sam Bennett — os tempos desta última tirada já não iriam influenciar a classificação geral. Agora, seguem-se duas semanas sem sequer subir para uma bicicleta, antes de começar a treinar-se para o Tour, onde irá correr para ganhar.

Depois, quem sabe, talvez tente algo que nunca ninguém conseguiu, ganhar as três voltas no mesmo ano — o Tour termina a 27 de Julho, a Vuelta começa a 25 de Agosto e Froome já ganhou as duas no mesmo ano. Meio a sério, meio a brincar, era o que dizia Nicolas Portal, director-desportivo da Sky, à Eurosport: “Ele está no topo das suas capacidades. Agora vai ao Tour e, se ganhar, já são quatro seguidas. Depois disso, talvez vá à Vuelta, sei lá… Só os campeões excepcionais é que conseguem fazer estas coisas.”

Sugerir correcção
Comentar