Reds” contra “blancos”, uma final aristocrática em Kiev

Liverpool e Real Madrid partem hoje em busca do título europeu na capital ucraniana. Salah procura o seu primeiro, Ronaldo tenta entrar no grupo dos pentacampeões.

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Reuters/ANDREW BOYERS

Poucos confrontos no futebol europeu terão tanto “star power” como a final da Liga dos Campeões que se vai jogar hoje, em Kiev, entre Liverpool e Real Madrid. Por tudo. Por todas as “estrelas” que vão estar em campo dos dois lados, pela história longa e gloriosa de “reds” e “blancos”, por esta ser uma reedição de uma final que aconteceu há quase 30 anos, por ser um duelo entre dois treinadores carismáticos. Por poder haver uma equipa que quer manter o “status quo”, e outra que o quer quebrar. Por haver um tal de Cristiano Ronaldo que quer entrar no grupo dos pentacampeões europeus, e por haver um rapaz chamado Mohamed Salah que quer chegar ao primeiro e entrar na consideração para os prémios de melhor do mundo.

Esta será a segunda vez que Liverpool e Real Madrid se encontram numa final para discutir o título de campeão europeu. A primeira foi em 1981, no Parque dos Príncipes, em Paris, e a vitória foi para os “reds” de Souness e Dalglish, por 1-0, com um golo de Alan Kennedy aos 82’, frente a um Real que tinha Camacho, Del Bosque, Juanito e Santillana. Foi um triunfo natural do Liverpool, que se apresentava nessa final de Paris como o favorito, como o grande dominador do futebol inglês (e tinha sido campeão europeu em 1977 e 1978). O Real, por seu lado, levava 15 anos desde o último dos seus seis títulos (e ainda iria esperar mais 17).

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Trinte e sete anos depois dessa final, não se pode dizer que haja um favorito claro, mas a hierarquia é diferente. O Real Madrid é o dominador incontestado do futebol europeu e, num ano em que perdeu o domínio interno para o Barcelona, vai em busca do seu 13.º título, que seria o terceiro consecutivo e o quarto nos últimos cinco anos, enquanto o Liverpool, que não fez sombra ao Manchester City na Premier League (mas fê-lo, com estrondo, na Champions) vai tentar o seu sexto, 13 anos depois da épica final contra o AC Milan ganha nos penáltis. Se a Liga dos Campeões fosse uma monarquia, podíamos colocar as coisas assim: o rei contra o pretendente ao trono.

O percurso de ambos até Kiev é um testemunho bastante fiel das forças e fraquezas de cada um. O Liverpool desbravou caminho à força do seu maravilhoso tridente ofensivo (Firmino-Mané-Salah), destruindo, sucessivamente, FC Porto, Manchester City e Roma; o Real Madrid nem sempre se mostrou confortável nas suas eliminatórias com Juventus e Bayern Munique (com o PSG não teve problemas), mas foi resiliente e Zidane até se deu ao luxo de rodar a equipa na Liga para apostar na Champions — a partir de certa altura, Ronaldo passou praticamente só a jogar nas provas europeias.

Grande parte dos jogadores que estarão hoje em Kiev estará, daqui a menos de um mês, ao serviço das respectivas selecções na Rússia. O Real Madrid tem 15 jogadores nas listas provisórias e definitivas, o Liverpool tem sete, mas, entre todas as “estrelas”, há duas bem acima das outras: Cristiano Ronaldo e Mohamed Salah, o português habituado a ganhar tudo e o egípcio que está a fazer tudo para se juntar a esse clube. E por esta final também irá passar a luta pelos prémios de melhor do mundo lá mais para o final do ano.

A novidade desta final é o egípcio do Liverpool, que está a sair melhor que a encomenda na sua primeira época em Anfield. Não sendo um ponta-de-lança, Salah marcou 44 golos e está a três do melhor registo de sempre de um jogador dos “reds” — Ian Rush marcou 47 em 1983-84 — e o que parecia uma aposta arriscada de 50 milhões no início da época transformou-se no melhor negócio do ano. Já é uma “estrela” e é um ídolo no seu país (diz a lenda que recebeu um milhão de votos nas últimas eleições egípcias), mas falta-lhe ganhar para entrar no grupo dos gigantes, alerta Jürgen Klopp. “Fez uma época excepcional, inacreditável, mas ainda falta um jogo. Os próximos anos vão mostrar se ele pode fazer o mesmo que eles [Ronaldo e Lionel Messi], mas não será fácil. O Mo tem potencial para lá chegar nos próximos anos”, perspectiva o treinador alemão do Liverpool.

Pelo contrário, Cristiano Ronaldo está mais que habituado a ganhar títulos e a ser considerado o melhor do mundo. O português irá jogar a sua sexta final da Champions para tentar chegar ao grupo dos pentacampeões, que inclui sete jogadores do Real Madrid dos anos 1950 e 1960 e dois do AC Milan — Ronaldo foi campeão europeu pelo Manchester United em 2008 e perdeu a final no ano seguinte, voltando a ganhar com o Real em 2014, 2016 e 2017. Mesmo com uma falsa partida, esta voltou a ser uma época estelar para CR7, com 44 golos, 15 deles marcados na Champions, e, antes de se juntar à selecção portuguesa para o Mundial da Rússia, vai querer mostrar ao seu desafiante egípcio (e a Messi) quem é o melhor do mundo.

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