Klopp tem o prestígio, Zidane tem os títulos

Dois estilos de liderança diferentes para o mesmo objectivo: ganhar a Liga dos Campeões.

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Pelas suas próprias palavras, Jurgen Klopp, o jogador, tinha talento para jogar na quinta divisão, Zinedine Zidane foi um dos melhores da sua geração e não precisa de o dizer. Como treinador, Klopp começou de baixo e teve de construir uma reputação, enquanto Zidane foi directo para o topo. São dois estilos diferentes de liderança, mais emotivo o alemão, mais impassível o francês. E há outra diferença fundamental entre os dois homens que se vão defrontar neste sábado, a partir do banco, em Kiev. Klopp pode ter o prestígio de uma carreira construída sempre em ascensão e com formação académica, mas Zidane, a quem lhe entregaram as chaves do castelo numa emergência, já ganhou tantos títulos europeus em menos de três anos como Alex Ferguson em quase 40.

Pode ganhar mais um e, se isso acontecer, Zizou entrará no restrito clube de treinadores com três títulos, que, para já, tem como membros Bob Paisley (todos no Liverpool) e Carlo Ancelotti (dois no AC Milan, um no Real Madrid). Mas não é apenas pelos 18 meses de experiência como treinador do Real Madrid que Zidane está habituado aos grandes palcos, às grandes decisões e ao convívio com as grandes “estrelas”. O currículo como um dos melhores médios de sempre, na Juventus (bicampeão italiano), no Real (campeão espanhol e uma Champions) e na selecção francesa (campeão europeu e mundial), fala por si.

Klopp nada ganhou como jogador durante 11 anos no Mainz (nem sequer jogou na Bundesliga), e fez o seu percurso ascendente como treinador, primeiro na equipa em que jogou e, depois, no Borussia Dortmund, onde foi o último a conseguir desafiar com sucesso a hegemonia do Bayern Munique – foi duas vezes campeão, mas perdeu uma final da Champions, em 2013, com os bávaros. A melhor memória dessa campanha foi, no entanto, o jogo da primeira mão das meias-finais, em que o seu Dortmund ganhou 4-1 ao adversário que terá hoje pela frente.

Há diferenças de currículo, mas também de personalidade e no estilo de liderança. Klopp parece nunca ter falta de energia na forma como nunca está quieto durante um jogo, com o seu ar meio desmazelado, despenteado e com a barba por fazer. Grita com os jogadores da mesma forma como celebra com eles, e os jogadores respondem. Zidane parece exactamente o contrário, em tudo semelhante ao que era como jogador. Calmo, impassível, e bem aprumado (nunca anda despenteado porque não tem cabelo) mas isso não quer dizer que que as coisas lhe passem ao lado. Basta ver como terminou a sua carreira de jogador, da pior forma possível, a ser expulso numa final do campeonato do mundo por causa de uma cabeçada ao italiano Materazzi.

Equipas diferentes precisam de líderes diferentes. O Liverpool, menos habituado a ganhar nos últimos tempos, precisa de um comandante que lhes diga o que têm de fazer e é o que Klopp oferece aos “reds”. O Real Madrid feito de galácticos cheios de títulos só precisa de saber que alguém está atento ao que eles fazem. Zidane pode não ter décadas de experiência, mas lidera pelo exemplo. E ambos têm as suas equipas na mão. “Que tipo de líder precisamos? Queremos um que grite? Queremos um tipo agressivo? Queremos um comunicador? Há muitos tipos de liderança e todos podem liderar desde que tenham o respeito dos jogadores”, resumia o ex-Liverpool e ex-Real Madrid Steve McManaman em entrevista ao El País.

Klopp não tem dúvidas sobre as credenciais de Zidane como treinador. “Se há muita gente que pensa que Zidane não sabe muito de táctica – porque há muita gente que pensa isso de mim – isso tem muita piada, ter dois treinadores na final que não percebem nada de táctica. Eu estou há mais tempo no Liverpool que ele no Real Madrid e ele pode ganhar a Liga dos Campeões pela terceira vez. Dele, só podemos esperar que seja brilhante. Ele e os jogadores funcionam como um relógio suíço”, comenta o treinador alemão, que ainda não conquistou qualquer título desde que aterrou em Anfield em 2015.

Zidane retribui os elogios a Klopp, mas diz que está preparado para o “gegenpressing” característico de todas as equipas treinadas pelo alemão: “Já lidámos antes com o caos e de certeza que vamos ter caos na final. O futebol é simples: são duas equipas e temos de saber a altura certa para causar danos ao adversário e controlar os danos que ele nos pode causar. Vamos tentar sofrer o menos possível. Mas vamos sofrer.”

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