Este ano ainda só abriram cinco Unidades de Saúde Familiar

Reforma dos cuidados de saúde primários está quase parada, lamenta a maior parte dos coordenadores das Unidades de Saúde Familiar ouvidos num inquérito.

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mrh Martin Henrik

Três em cada quatro coordenadores das Unidades de Saúde Familiar (USF) declaram-se insatisfeitos ou muito insatisfeitos com a actuação do Ministério da Saúde e dizem que a reforma dos cuidados de saúde primários, iniciada há mais de uma década, está praticamente parada.

Os números são inequívocos: nos dois últimos anos, quadruplicou o número de coordenadores destas unidades que se dizem insatisfeitos com o ministério liderado por Adalberto Campos Fernandes, indicam os resultados de um inquérito feito pela Associação Nacional de USF e que este sábado vão ser apresentados no seu encontro anual, em Gondomar.

As USF surgem de candidaturas voluntárias de grupos de profissionais que trabalhavam nos centros de saúde tradicionais. O país está actualmente dividido entre estas unidades que devem dar resposta no próprio dia a todas as situações agudas - e que, no modelo mais avançado (B), prevêem metas e incentivos para os profissionais -  e as Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados, o modelo tradicional dentro dos centros de saúde. 

Este ano, segundo adiantou ao PÚBLICO o presidente da direcção da associação, João Rodrigues, ainda só foram criadas cinco unidades modelo A e, do modelo B, apesar de estarem aprovadas 66 candidaturas, foram fixadas quotas e só estão autorizadas a evoluir para este modelo 20 USF em Outubro próximo.

No total, segundo o estudo promovido pela associação e ao qual responderam cerca de dois terços dos coordenadores das USF de todo o país, 76,1% destes responsáveis declararam-se insatisfeitos ou mesmo muito insatisfeitos com o Ministério da Saúde, queacreditam estar a travar o avanço da reforma dos cuidados de saúde primários.

“Este Governo conseguiu mesmo em 2017, pela primeira vez na história desta reforma, bloquear na totalidade a abertura de USF de modelo B”, lamenta João Rodrigues na nota introdutória do estudo, lembrando que foi lançada recentemente uma petição online que reclama o fim das quotas.

O médico criticou mesmo o Governo por decisões que considera “contraditórias”, em declarações à Lusa. O Ministério da Saúde publicou recentemente um estudo, com dados de 2015, a validar esta informação, “dizendo haver uma eficiência de 103 milhões de euros anuais se todo o país estivesse em USF ‘modelo B’”, enfatizou João Rodrigues, que nota que as USF modelo B “produzem mais qualidade nos cuidados e custos menores em termos de resultado final”. Porquê? Porque, entre outras coisas, "há menos internamentos evitáveis". "Por exemplo, um utente diabético vigiado numa USF modelo B é menos internado, pois é melhor controlado, sendo que estes doentes vão menos ao serviço de urgência".

Interpelado pela plateia no encontro, o secretário de Estado adjunto e da Saúde, Fernando Araújo, admitiu que “2017 e 2018 não estão a ser tão frutuosos e positivos quanto deviam ser”, mas sublinhou que isso não o “desmoraliza nem tira a força”. E reiterou a vontade do Governo de promover a reforma dos cuidados de saúde primários com que se comprometeu em 2015.

Relativamente à aplicação dos incentivos institucionais, Fernando Araújo revelou que o “valor que está a ser discutido com as Finanças ronda os três milhões de euros” e que “até Julho deverá haver um documento enquadrador” de como “recorrer à subvenção”.

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