Trump perdoa pena de 1913 aplicada ao primeiro negro campeão de boxe

Terá sido o actor Sylvester Stallone quem convenceu o Presidente dos EUA a assinar o perdão. “Acho que Jack Johnson é uma pessoa digna de perdão, de forma a corrigir um erro da nossa História.”

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Donald Trump na Casa Branca ladeado por uma comitiva relacionada com este perdão Reuters/KEVIN LAMARQUE
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Donald Trump, Martin Chin S MD
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Donald Trump, Jack Johnson, Casa Branca, Escritório Oval, Perdão
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O Presidente norte-americano assinou nesta quinta-feira o perdão de uma pena de prisão com mais de um século de história. Trata-se do caso de Jack Johnson, o primeiro campeão de boxe peso-pesado afro-americano, condenado a prisão em 1913 por ter mantido uma relação com uma mulher branca com a qual viria a casar, Lucille Cameron.

“Acho que Jack Johnson é uma pessoa digna de perdão de forma a corrigir um erro da nossa História”, disse Trump durante a assinatura do documento, citado pela Reuters. Jack Johnson foi o detentor do título de campeão mundial de boxe peso-pesado, entre 1908 e 1915.

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Jack Johnson, numa fotografia sem data Library of Congress via REUTERS

Mas nem esse facto o livrou de ser detido, em 1912, e julgado e condenado, em 1913, por violar o Acto Mann, lei de “pureza moral” que tornava ilegal transportar mulheres brancas entre os estados norte-americanos “para prostituição, depravação, ou qualquer outro propósito imoral”.

Seria este último ponto a causa da querela. Explica o New York Times que esta lei era muitas vezes usada enquanto dispositivo “anti-miscigenação”, razão pela qual Johnson foi condenado. 

Os procuradores norte-americanos deste caso consideraram que a relação entre Jack Johnson e Lucille Cameron era “um crime contra a natureza” e um júri (composto apenas por pessoas brancas) levou menos de duas horas a condená-lo. Para a decisão, pesou a história de Belle Schreiber, prostituta com a qual Johnson se teria relacionado, trazida a tribunal pelas autoridades norte-americanas para testemunhar contra o pugilista.

Jack Johnson esteve preso durante dez meses, mas a história permaneceu na memória colectiva norte-america e tornou-se num símbolo da injustiça racial.

Terá sido o actor Sylvester Stallone, conhecido por interpretar a personagem do pugilista Rocky Balboa, quem convenceu o Presidente a assinar o perdão.

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Stallone com Trump nesta quinta-feira, na Sala Oval da Casa Branca, em Washington EPA/Olivier Douliery

Pelo menos, é o que dá a entender o tweet de Donald Trump, de Abril deste ano: “Sylvester Stallone ligou-me a contar-me a história do campeão de boxe peso-pesado Jack Johnson. As suas provações foram enormes, a sua vida complexa e controversa. Outros olharam para isto ao longo dos anos e muitos acharam que seria feito, mas sim, estou a considerar um perdão total”.

Semanas depois, cumpriu. “Aprovei uma autorização executiva de clemência, um perdão total e póstumo a Jack Johnson, o primeiro afro-americano a sagrar-se campeão do mundo de boxe peso-pesado”, disse Trump, esta quinta-feira durante a assinatura do perdão, citado pela BBC. “Ele cumpriu uma pena de dez meses por uma coisa que muitos vêem como uma injustiça com motivações raciais.”

Stallone esteve presente no momento da assinatura, assim como o pugilista Lennox Lewis, ex-campeão do mundo, e Linda Bell Haywood, sobrinha-neta de Jack Johnson.

Jack Johnson nasceu em Galveston, Texas, numa família de antigos escravos. A sua história serviu de inspiração para o filme The Great White Hope (1970) e para a personagem de Apollo Creed, da saga Rocky (1976-2006). O atleta morreu em 1946, num acidente rodoviário.

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