Rival da bitcoin vítima da falha que a bitcoin nasceu para resolver

Alguém conseguiu usar mais do que uma vez os mesmos fundos de bitcoin gold, uma criptomoeda que nasceu de uma divisão da bitcoin.

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Uma operação de "mineração" de bitcoins, em Itália Reuters/ALESSANDRO BIANCHI

A bitcoin gold, uma criptomoeda que surgiu de uma divisão da bitcoin em 2017, foi alvo de um ataque que permitiu que os mesmos fundos fossem usados mais do que uma vez – o que é precisamente o problema que as bitcoins foram inventadas para resolver.

O ataque tem sido levado a cabo nos últimos dias e está agora a chegar às notícias. Surgiu depois de alguém ter conseguido mais de metade do poder de computação da rede das bitcoins gold. Isso permitiu-lhe acrescentar transacções à base de dados destas criptomoedas, ou blockchain, defraudando o habitual processo de validação. As mesmas moedas foram depositadas em mais do que uma bolsa de transacções, onde puderam ser trocadas por outras.

Este gasto duplo é um problema associado ao dinheiro digital: sem uma representação física (como notas e moedas) é preciso um sistema que impeça uma pessoa de gastar os mesmos fundos mais do que uma vez. No sistema financeiro convencional isto é feito por entidades (como os bancos) que mantêm o registo de quem tem quais montantes, bem como das transferências feitas.

A bitcoin surgiu em 2008, numa altura de crise provocada pelas práticas das instituições financeiras, como uma alternativa descentralizada aos bancos. “Propomos uma solução para problema do gasto duplo usando uma rede peer-to-peer”, escreveu o misterioso criador da bitcoin, Satoshi Nakamoto, logo no primeiro parágrafo do artigo em que descreve a tecnologia.  

A bitcoin (tal como as muitas criptomoedas que se seguiram) assenta numa blockchain, uma base de dados distribuída (cada elemento da rede tem uma cópia), à qual vão sendo acrescentadas as novas transacções. Estas transacções são validadas pelos computadores ligados à rede, que competem para resolver uma tarefa computacional necessária àquela validação. O primeiro que conseguir fazer essa tarefa é recompensado com bitcoins. É a esta actividade que normalmente é chamada “mineração”, ou, mais frequentemente, mining, em inglês.

Um dos fundamentos da segurança da blockchain é o de que quem queira criar transacções ilegítimas – como foi agora o caso com a bitcoin gold – tem de conseguir superar o poder de computação do resto da rede. É algo a que se chama “ataque de 51%” e que é mais fácil de fazer em moedas mais pequenas do que nas moedas mais populares. O caso da bitcoin gold não é o primeiro de um “ataque de 51%”, que já aconteceu em algumas criptomoedas obscuras. A bitcoin gold é a 27.ª moeda com mais valorização total, de acordo com o site especializado CoinMarketCap. A totalidade das bitcoins gold em circulação ronda os 785 milhões de dólares (aproximadamente 160 vezes menos do que a bitcoin). O site lista cerca de 1600 criptomoedas.

O director de comunicação da Organização Bitcoin Gold explicou que as vítimas do ataque serão sobretudo as bolsas de transacções que aceitam automaticamente depósitos. “O custo de montar um ataque contínuo é elevado”, observou Edward Iskra, referindo-se ao custo dos processadores e da electricidade que são necessários. “Como o custo é elevado, o atacante só pode lucrar se conseguir rapidamente algo de valor elevado a partir de um depósito falso. Um interveniente como uma bolsa pode aceitar depósitos elevados automaticamente, permitindo ao utilizador cambiar rapidamente para uma moeda diferente, e depois levantar [os fundos] automaticamente.”

Notícia corrigida às 18h04: o artigo referia que a bitcoin gold era a quarta criptomoeda mais popular; a quarta criptomoeda mais popular é a bitcoin cash, uma outra divisão da bitcoin, que também surgiu no ano passado. A bitcoin gold é a 27.ª criptomoeda com mais valorização, de acordo com o site CoinMarketCap.

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