Cartas ao director

Júlio Pomar

A Cultura ficou empobrecida pelo desaparecimento físico do Mestre pintor, Júlio Pomar. Também foi desenhista, escultor, ceramista, letrista para canção, escritor e poeta. Dizia que era tão atraente a escrita como a pintura. Um multifacetado à frente no seu tempo. Nasceu em Lisboa, em 1926. Iniciou estudos de arte, na Escola de Artes Decorativas António Arroio.

Fez da arte uma forma de luta antifascista e democrática. Amante da liberdade e interventor social, acabaria preso pelos carrascos da PIDE. Vendeu o seu primeiro quadro a Almada Negreiros, há décadas, por 3 cêntimos (6 escudos). Tem muita obra, destacando-se o notável O almoço do trolha, que o aproxima do neo-realismo. Os seus quadros estão espalhados por vários museus, no mundo.

Dizia que o milagre da vida era querer disfrutá-la e saber ser feliz! A vida de Pomar foi cheia de sorrisos. O neurocirurgião João Lobo Antunes disse: ‘’Em cada quadro do Júlio há uma gargalhada!’’ O olhar do artista ao pintar Mário Soares, inicia um novo e original caminho para a representação pictórica dos Presidentes da República.

Um dia, no final da Calçada do Combro (Lisboa), onde se situa o seu Atelier-Museu Júlio Pomar (a visitar), encontrei-o e saudei-o: ‘’Viva!, estou-lhe muito grato, Mestre Júlio Pomar, pela sua talentosa e luminosa pintura’’. "Quem é você?". "Sou um aprendiz de pintor e frequentei a Escola António Arroio". "Então pinte, que é sempre um regresso ao futuro!". Simples, cortês e de sorriso sociável. Portugal tem de preservar a sua memória e proporcionar-lhe uma homenagem em conformidade com a grandeza da sua alma.

Vítor Colaço Santos, Areias

 

A lapa

A lapa é um molusco que adere de tal forma à rocha que nem a acção do mar a faz desgrudar. No futebol português, existe uma espécie parecida, um presidente de um clube que se fixa ao poder como de uma concha se tratasse. Não se alimenta de algas mas de polémicas e está rodeado de outros caramujos resistentes à ondulação. Os biólogos portugueses chegaram à conclusão que a adesão ao substrato rochoso destes invertebrados não é feito através de secreções químicas mas de remunerações bastante lucrativas, vulgo ordenado, que nem a desincrustação à força resolve!  

Emanuel Caetano, Ermesinde

 

Mais mudanças na Educação

Quando comecei a dar aulas em Outubro de 89, a escola não era para todos. Mandávamos para casa miúdos reprovados por excesso de faltas em qualquer mês do ano lectivo. Tínhamos um tremendo abandono escolar, níveis de reprovação assustadores… Ao fim de quase 30 anos, algumas coisas mudaram, mas a escola continua a não ser para todos. Passam-se os miúdos porque é caro reprová-los e porque para os professores é cada vez mais difícil justificar o insucesso. Mas o insucesso existe, não é bonito, é dos pobres, é ruidoso e perturba. O insucesso camuflado e arrastado vai para os percursos alternativos ou profissionais porque a escola os quer até aos 18 anos num faz de conta que nada lhes ensina.

E as reformas cíclicas, cartão-de-visita de todos os ministros da Educação e que tanto perturbam os agentes reais da educação, continuam e continuam infelizmente sem dar respostas concretas e sérias para todos.

Paula Gonçalves, Lisboa

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