Militares que guardavam arsenal nuclear admitem consumo de LSD

Os militares da força aérea admitiram ter consumido e distribuído a droga alucinogénia na base militar, chegando a afirmar que não teriam sido capazes de actuar em caso de emergência nuclear.

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Seis pilotos da força aérea norte-americana foram condenados pelo consumo e distribuição de LSD Reuters/JASON REED

Membros da força aérea dos Estados Unidos, responsáveis pela segurança e defesa do arsenal nuclear na base militar de F.E. Warren, localizada no estado do Wyoming, admitiram ter consumido drogas ilegais, como o LSD, entre 2015 e 2016.  

Durante quase um ano, uma rede de tráfico e consumo de drogas operou numa unidade das forças armadas dos EUA. Os registos, aos quais a agência norte-americana Associated Press teve acesso, revelam que pelo menos seis militares da força aérea compraram, distribuíram e consumiram alucinogénios, nomeadamente LSD, e outras drogas ilegais como cocaína, ecstasy ou marijuana. "Embora isto pareça algo de um filme, não é", afirmou o capitão Charles Grimsley, procurador de um dos conselhos de guerra – tribunal militar que julga os membros das forças armadas.

A investigação começou em Março de 2016, quando um militar publicou um vídeo na rede social Snapchat a fumar marijuana, o que despertou a atenção das autoridades. Porém, o caso só agora veio a público. No total, 14 militares foram sujeitos a medidas disciplinares, mas apenas seis foram efectivamente condenados em tribunal militar pelo consumo e distribuição de LSD. Nenhum foi acusado de consumir drogas durante o período em que se encontrava ao serviço.

A unidade militar da força aérea dos Estados Unidos em causa, a 90th Missile Wing, é responsável pelo controlo e vigilância dos silos de mísseis balísticos intercontinentais com capacidade nuclear. Opera um terço dos 450 mísseis Minuteman III que fazem parte do arsenal dos EUA e esteve no centro das atenções quando o presidente Donald Trump mostrou intenção de "fortalecer e expandir a capacidade nuclear" e quando, em 2017, trocou ameaças com a Coreia do Norte

Um porta-voz da força aérea, o tenente-coronel Uriah L. Orland, esclareceu que o consumo de drogas por parte dos militares ocorreu durante os períodos em que estes não se encontravam ao serviço. "Existem  verificações para garantir que os militares que se apresentam ao serviço não estejam sob influência de álcool ou drogas e sejam capazes de executar a sua missão com segurança e eficácia", disse. Em Dezembro de 2006, segundo a Associated Press, o Pentágono tinha eliminado o rastreio ao LSD dos testes de drogas regulares, devido ao facto de esta substância ser detectada muito raramente (em três anos, em 2,1 milhões de amostras submetidas a testes de drogas, apenas quatro tinham dado positivo para LSD).

Porém, vários militares confessaram ter consumido drogas fornecidas por militares com ligações a traficantes civis. "Eu senti paranóia, pânico", relatou Tommy N. Ashworth, um dos militares, durante o julgamento de um colega, dizendo que "não sabia se ia morrer naquela noite ou não" ao referir-se à primeira vez que consumiu LSD, em 2015.

O piloto Kyle S. Morrison chegou a reconhecer em tribunal que, sob a influência de LSD, não teria sido capaz de actuar em caso de uma emergência de segurança nuclear. "Os minutos pareciam horas, as cores pareciam mais vibrantes e claras (…) em geral, eu sentia-me mais vivo", testemunhou. 

O LSD (sigla em inglês para dietilamida do ácido lisérgico), conhecido popularmente como um "ácido", é uma substância alucinogénia que afecta o sistema nervoso central e que pode provocar alucinações, sensação de paranóia, alteração da noção temporal e espacial, entre outros efeitos como o aumento da pressão arterial e do ritmo cardíaco. Alguns consumidores podem experienciar as chamadas "bad trips", expressão inglesa para uma experiência psicadélica indesejada causada pelo consumo de drogas.

Nickolos A. Harris, aviador de primeira classe (A1C), seria o líder da rede de distribuição e consumo de drogas na base nuclear. Declarou-se culpado, admitindo ter consumido LSD oito vezes e de ter distribuído a droga aos seus colegas, desde a Primavera de 2015 até ao início de 2016. "Eu amava absolutamente ter a minha mente alterada", admitiu perante o juiz militar sob a "desculpa" de ter uma personalidade propensa ao vício. Harris foi condenado a 12 meses de prisão e evitou ser despedido através de um acordo estabelecido antes do julgamento.

O procurador neste caso, o capitão C. Rhodes Berry, argumentou que, o facto de a confiança do público nas forças armadas americanas ter sido prejudicada devido ao uso de alucinogénios e outras drogas numa base de armas nucleares era, sem dúvida, uma "circunstância agravante". Um dos acusados, Devin R. Hagarty, fugiu para o México, tendo-se depois entregado às autoridades – foi condenado a 13 meses de prisão num estabelecimento militar.

Segundo os testemunhos, o LSD, em forma líquida, era espalhado em pequenas tiras de papel branco que os militares ingeriam. Este não é o primeiro caso a vir a público de problemas comportamentais ou de abuso de substâncias nas forças de segurança nuclear norte-americanas. Entre 2013 e 2014, a Associated Press tinha denunciado irregularidades na unidade responsável pela segurança dos mísseis balísticos intercontinentais, que levaram à demissão do principal general devido ao abuso de álcool.

Notícia corrigida às 11h07

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