Moses Farrow defende o pai, Woody Allen, e acusa a mãe de abuso contínuo

Num longo texto publicado esta semana, o filho adoptivo de Woody Allen e Mia Farrow diz que o produtor nunca abusou sexualmente da sua irmã, Dylan Farrow, e descreve a mãe como manipuladora e abusadora.

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REGIS DUVIGNAU/Reuters

Meses depois de Dylan Farrow ter voltado a vir a público para alegar que o seu pai adoptivo tinha abusado sexualmente dela, o seu irmão adoptivo Moses Farrow decidiu partilhar com o mundo a sua versão dos acontecimentos do Verão de 1992, num longo texto publicado no seu blogue pessoal. Segundo este, a irmã mais nova nunca foi molestada por Woody Allen, mas antes vítima de uma campanha de manipulação da mãe, Mia Farrow. 

De acordo com Moses – hoje terapeuta profissional –, a sua infância ficou marcada pelo abuso físico e psicológico por parte da sua mãe. Descreve mesmo ocasiões em que esta arrastou um dos filhos pelas escadas abaixo e o trancou num barracão durante a noite, ou que atirou uma peça de porcelana a Soon-Yi. Na altura em que Dylan Farrow diz ter sido alvo de abusos por parte de Allen, tinham passado sete meses desde que Mia Farrow descobrira a relação entre a sua filha adoptiva Soon-Yi e o então parceiro Woody Allen – o realizador e Soon-Yi Previn ainda hoje são casados. Nessa altura, recorda Moses, há meses que Mia Farrow dizia aos filhos que Woody era “maldoso, um monstro, o diabo”, e que Soon-Yi “estava morta” para eles.

“A minha mãe era a nossa única fonte de informação sobre Woody – e ela era extremamente convincente”, descreve. “Também tinha aprendido repetidamente que ir contra a sua vontade trazia repercussões horríveis.”

Por isso, quando Woody Allen foi passar o dia com os filhos adoptivos à casa de Connecticut – enquanto Mia foi às compras –, todos estavam alerta. “Além de cinco miúdos, havia três adultos na casa [duas amas e uma explicadora de Francês], os quais tinham todos sido instruídos durante meses de que Woody era um monstro. Nenhum de nós teria permitido que a Dylan se afastasse com Woody, mesmo que tentasse”, garante, atestando que, mesmo tendo visto Woody a entrar e sair da sala nesse dia, este nunca o fez ao mesmo tempo que Dylan.

Moses comenta que as pessoas se apoiaram na relação de Woody e Soon-Yi (que nunca foi sua filha adoptiva) para se convencerem de que as alegações de Dylan eram verdadeiras. “Sim, [a relação] era pouco ortodoxa, desconfortável, perturbadora para a nossa família e magoou terrivelmente a minha mãe. Mas a relação, por si só, não foi nem de perto nem de longe tão arrasadora para a nossa família como a insistência da minha mãe em fazer da sua traição o centro das nossas vidas a partir daí”. O terapeuta aponta ainda algumas incongruências na versão dos acontecimentos da irmã mais nova, como o comboio de brincar que Dylan associa ao momento do abuso e que não estaria na divisão da casa onde esta afirma que aconteceu o incidente.

Dylan detalhou pela primeira vez o alegado abuso numa carta aberta ao The New York Times em 2014 e este ano voltou a falar do assunto numa entrevista televisiva ao programa CBS This Morning. Há dois anos, Moses Farrow veio a público dizer que a irmã tinha sido manipulada pela mãe. “O que não compreendo é como é que esta história doida de eu ter sido alvo de uma lavagem cerebral e treinada [para fabricar uma história de abuso de menores] é mais credível do que o que estou a dizer sobre ter sido atacada sexualmente pelo meu pai”, atirou Dylan, recentemente.

Desta vez, Hollywood não ficou indiferente e várias estrelas fizeram questão de afirmar publicamente que estavam do lado de Dylan. Foi o caso de Mira Sorvino – que lhe escreveu uma carta aberta –, Natalie Portman, Jessica Chastain e Timothee Chalamet, que anunciou que iria doar o seu salário do filme realizado por Woody Allen, A Rainy Day in New York. Houve também quem, como Diane Keaton, Kate Winslet e Alec Baldwin, viesse a público em defesa do realizador, considerando que este estava a ser alvo de uma injustiça. 

No seu texto, Moses Farrow dirige-se às pessoas que se mostram arrependidas por terem trabalhado com o seu pai no passado: “Precipitaram-se ao juntar-se a um coro de condenação com base numa acusação desacreditada [por múltiplas investigações], por medo de não estarem no lado ‘certo’ deste grande movimento social [o #MeToo]”. Deixa ainda uma nota à irmã: “Desejo-te paz e a sabedoria para compreenderes que dedicar a vida a ajudar a nossa mãe a destruir a reputação do nosso pai não te trará, provavelmente, nenhum consolo.”

Woody Allen sempre negou ter cometido qualquer abuso sobre Dylan Farrow e o caso foi alvo de duas investigações, nos anos 90, que não resultaram em qualquer acusação formal ao realizador. Em Janeiro, quando Dylan Farrow falou à CBS sobre o alegado abuso, Allen reagiu em poucas horas acusando a “família Farrow” de “usar cinicamente a oportunidade dada pelo movimento Time’s Up”.

Além de Mia e Dylan Farrow, também Ronan Farrow, o jornalista que assinou uma das duas primeiras investigações sobre Harvey Weinstein, defende que Woody Allen (o seu pai biológico) abusou de Dylan Farrow.

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