Uma nova maternidade para Coimbra

A localização anunciada para a nova maternidade de Coimbra é a que melhor salvaguarda a segurança das grávidas e dos recém-nascidos.

Foto
SERGIO AZENHA / PUBLICO

Aquando da criação do CHUC (Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra) afirmámos que havia a oportunidade e o dever de encerrar as maternidades de Coimbra (Maternidade Daniel de Matos e Maternidade Bissaya Barreto) e concentrar os seus serviços clínicos num hospital diferenciado polivalente de adultos. Entretanto, visando este objectivo, e equacionando aspectos de natureza técnica, científica e organizativa, foram realizados relatórios, segundo os quais o que melhor serve o interesse público, consubstanciado numa verdadeira e completa segurança das mulheres grávidas, parturientes, puérperas e recém-nascidos, é uma construção edificada no polo HUC, com ligações estruturais diretas ao interior desse polo hospitalar.

As maternidades de Coimbra, ou melhor, os serviços de Obstetrícia e de Neonatologia, são, na área da Administração Regional de Saúde do Centro, o expoente máximo da assistência à grávida e ao recém-nascido, estando qualificados para proporcionar cuidados do mais alto nível técnico e científico, esgotando todas as possibilidades de diagnóstico e terapêutica. Hoje, esta capacidade multifacetada de elevada diferenciação técnica, que tem de solucionar os casos mais complexos com a maior segurança e eficiência, só é possível de alcançar em serviços integrados em hospitais polivalentes diferenciados de adultos. Esta é a única forma que garante a proximidade e a disponibilidade permanente de intervenções multidisciplinares que necessitam do apoio da infraestrutura clínica e não clínica do CHUC, existente no polo HUC.

É neste sentido que os responsáveis e outros profissionais dos Serviços Clínicos das Maternidades de Coimbra, vivamente, assinalam e saúdam o anúncio da localização da nova maternidade de Coimbra no polo HUC, com base no facto de ser essa a localização que melhor salvaguarda a segurança das grávidas e dos recém-nascidos. Congratulam-se por ter sido reconhecido, como sempre defenderam e alertaram, que a decisão, quanto à localização da futura maternidade, deve seguir a evidência técnica e científica que melhor garanta a segurança das grávidas e dos seus filhos.

É com renovada expectativa que veem reconhecido, pelos dirigentes do país, que as maternidades carecem de cuidados altamente diferenciados e de uma proximidade a equipas pluridisciplinares e equipamentos de elevada diferenciação. Esta excelente decisão tem, ainda, o mérito de, finalmente, em Coimbra, o exercício da Obstetrícia não mais esteja confinado, com muros à sua volta, mas antes se junte, no polo HUC, à Ginecologia e à Medicina da Reprodução, criando uma comunidade de Ginecologistas/Obstetras e Neonatalogistas, à semelhança do que acontece em todo lado, neste mundo em permanente aceleração global. O apoio constante de equipas multidisciplinares, o acesso à inovação e às melhores práticas clínicas, bem como as novas abordagens face a emergências obstétricas e neonatais, que hoje se exigem para as mulheres grávidas, muitas com graves problemas de saúde, não são compatíveis com maternidades isoladas, situação residual em Portugal, mas de que Coimbra, infelizmente, ainda é um exemplo. As tarefas de elevada diferenciação que são exigidas, a natureza interdisciplinar das atividades assistenciais, sempre crescente, e o carácter de urgência e de emergência de que se revestem, exigem uma rapidez de articulação e de resposta que só a contiguidade física com um hospital polivalente diferenciado de adultos é capaz de proporcionar.

Já passou o tempo em que o vir-ao-mundo não parecia um ritual dramatizado, em que perder mães e filhos era um risco aceite. Como dizia Mário Mendes, subitamente, num curto espaço de tempo, os problemas que a obstetrícia e a neonatologia obrigam a defrontar são inteiramente novos, porque a ciência e a técnica deram um tremendo salto para diante e não esperaram que a flexibilidade do espírito as acompanhasse.

Nestes tempos de génese mediática, em que ainda se pode ter o privilégio de ser atendido por um serviço de saúde com uma das mais baixas taxas de mortalidade perinatal do mundo, não faz sentido assumir uma cultura de bloqueio e ignorar a realidade.

Presentemente, é graças ao grande esforço de todos os profissionais que trabalham nas Maternidades do CHUC, muitas vezes com sacrifício da sua vida pessoal, que tem sido possível manter a atividade assistencial, negando-se a tratar o futuro como destino, antes querendo assumir a responsabilidade de criar o futuro que se deseja na assistência às grávidas e aos recém-nascidos da comunidade a que pertencem.

Fátima Negrão (Diretora Serviço Neonatologia MBB); Fernanda Águas (Diretora Serviços Ginecologia); Isabel Bento (Administradora UGI Materno-Fetal); Manuela Pinto Teixeira (Enfermeira Supervisora UGI Materno-Fetal); Maria do Céu Almeida (Diretora Serviço Obstetrícia MBB); José Paulo Moura (Diretor Serviço Obstetrícia MDM); Rosa Ramalho (Diretora Serviço Neonatologia MDM); José Sousa Barros (Diretor UGI Materno-Fetal); Teresa Almeida Santos (Diretora Serviço Medicina da Reprodução); João Tomé Fèteira (Administrador UGI Materno Fetal)

Os autores escrevem segundo o novo Acordo Ortográfico

Sugerir correcção
Ler 1 comentários