Stacey Abrams é a primeira mulher negra candidata a governadora nos EUA

Concorreu como representante da ala progressista do Partido Democrata num estado conservador e vai enfrentar candidato do Partido Republicano em Novembro.

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Abrams venceu de forma expressiva uma corrida a dois no Partido Democrata Reuters/Christopher Aluka Berry

Os eleitores do estado norte-americano da Georgia fizeram história esta semana ao escolherem uma mulher afro-americana como candidata ao cargo de governadora. Stacey Abrams foi eleita nas eleições primárias do Partido Democrata e vai enfrentar o candidato do Partido Republicano nas eleições gerais, em Novembro.

Abrams, de 44 anos, venceu de forma expressiva uma corrida a dois no Partido Democrata contra outra candidata, Stacey Evans: 76% contra 24%, num universo com pouco mais de 500 mil eleitores.

No lado do Partido Republicano a decisão foi adiada para uma segunda volta, já que nenhum dos seis candidatos chegou aos 50%. O desempate está marcado para Julho entre os dois mais votados: o actual vice-governador, Casey Cagle (39%), e Brian Kemp (26%).

O actual governador é Nathan Deal, do Partido Republicano, que chega ao fim do seu segundo mandato consecutivo em Janeiro de 2019. Entre os 50 estados norte-americanos, 36 têm limites de mandato para os governadores – no caso da Georgia, os governadores não podem ser eleitos por mais do que dois mandatos consecutivos, mas podem voltar a candidatar-se quatro anos depois da saída.

Stacey Abrams foi líder da minoria do Partido Democrata na Câmara dos Representantes da Georgia entre 2011 e 2017 – foi a primeira mulher afro-americana a liderar a representação de um dos dois maiores partidos na Assembleia Geral do estado.

Lembrando o seu passado difícil, agradeceu a quem acreditou na "criança negra que por vezes não tinha electricidade nem água corrente". "Provámos que uma voz activa pode abalar as fundações do statu quo. Mostrámos ao país que há poder nas nossas vozes e que há poder nos nossos pés", disse Abrams, numa mensagem que pode ser lida como um apelo à união no Partido Democrata a nível nacional.

Olhos postos em 2020

O resultado de Stacey Abrams nas eleições de Novembro será um dos mais importantes testes para o Partido Democrata na sua busca por uma estratégia para derrotar Donald Trump nas eleições presidenciais de 2020.

Para além de ser mulher e afro-americana num estado do chamado "Sul Profundo", onde a escravatura era a base da sociedade antes da Guerra Civil, Stacey Abrams é também representante da ala progressista do Partido Democrata, a que mais se identifica com figuras como Bernie Sanders, o candidato que chegou a pôr em causa a escolha de Hillary Clinton como candidata às eleições presidenciais de 2016.

Apesar da mudança demográfica que está a acontecer há anos na Georgia e noutros estados norte-americanos, como o Texas, os eleitores brancos são ainda mais numerosos e mais participativos nas eleições, e por isso qualquer candidato do Partido Republicano é ainda considerado favorito. Para além de Nathan Deal como governador, os republicanos ocupam também os dois cargos de senadores atribuídos ao estado e dez dos 14 lugares de membros da Câmara dos Representantes.

Neste contexto, a vitória de Abrams nas eleições para o mais alto cargo político na Georgia ajudaria o Partido Democrata a sair do actual impasse sobre a melhor estratégia para derrotar Trump – por um lado, há quem defenda que é melhor apostar em candidatos moderados nos estados mais conservadores, para recuperar os eleitores desiludidos que votaram em Trump; por outro lado, há quem defenda que o melhor é apostar em candidatos mais progressistas para marcarem a diferença em relação aos conservadores e, dessa forma, motivarem os eleitores mais liberais a acreditarem que existe uma alternativa clara a Donald Trump.

As eleições para governador, para o Congresso ou para as várias estruturas políticas locais em cada estado não têm influência directa sobre as eleições presidenciais – um mesmo eleitor pode votar em candidatos de diferentes partidos de acordo com as eleições em causa. Mas numa altura em que a sociedade americana parece estar mais dividida do que nunca, é mais provável que os eleitores que escolhem candidatos progressistas a nível local estejam motivados para votarem contra Donald Trump nas presidenciais.

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