Liverpool não esquece o “milagre de Istambul” para a final contra o Real Madrid

A perderem por 3-0 ao intervalo, uma recuperação histórica permitiu aos “reds” levantarem o troféu em 2005, frente ao “todo poderoso” AC Milan.

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Gerrard ergue o troféu da Liga dos Campeões, na edição de 2005 Dylan Martinez/Reuters

O Liverpool volta, nove anos volvidos, à grande final da Liga dos Campeões. O adversário de sábado à noite não será fácil: o bicampeão europeu Real Madrid tem alguns dos melhores jogadores dos planeta e pretende revalidar, uma vez mais, o título europeu. Os ingleses, como motivação para o jogo decisivo, relembram aquela que foi uma das noites mais épicas da sua história e lhes valeu o quinto troféu da competição. 

Rafa Benítez, treinador à data dos "reds", diz que entre a sua formação de 2005 e o plantel actual do Liverpool, Jurgen Klopp dispõe de uma equipa com maiores índices de qualidade: "Conquistámos o que conquistámos — que alguns referem como o 'milagre de Istambul' — mas esta equipa é melhor". O técnico espanhol refere a vantagem orçamental de que o seu congénere alemão dispõe: "Se falarmos de dinheiro gasto, o meu orçamento era de 22 milhões de euros. Esta equipa é muito mais valiosa".  

Há 13 anos, um início de noite acalorado saudou os quase 70 mil adeptos que se deslocaram ao Estádio Olímpico Atatürk para assistir à final da Liga dos Campeões de 2005, que opunha o AC Milan e o Liverpool. Para os italianos, a simples menção do encontro disputado a 25 de Maio é suficiente para lhes estragar o dia. Para os ingleses, as memórias desses 120 minutos — e dos penáltis que se seguiram — ainda são nítidas e recordadas com nostalgia.

O AC Milan possuía uma equipa, a todos os níveis, fora de série: Dida, Maldini, Kaká, Shevchenko, Pirlo, Inzhagi, entre muitos outros, perfumavam os relvados por onde passavam com o aroma do bom futebol. Era da opinião geral que, depois de terem afastado o Manchester United, Inter de Milão e PSV Eindhoven, a final era favas contadas para a formação italiana, treinada por Carlo Ancelotti.

Do outro lado, encontrava-se um humilde Liverpool, com nomes ainda menos consagrados mas que, com o passar dos anos, deixaram a sua marca no mundo do futebol: Dudek, na baliza, Jamie Carragher, na defesa, Xabi Alonso e Steven Gerrard no meio-campo eram as principais figuras dos "reds". 

Esta mentalidade de favoritismo parece ter acompanhado as equipas à saída do balneário: na primeira jogada do encontro, Maldini, num remate à meia volta após cruzamento teleguiado de Pirlo, inaugurou o marcador e levou os adeptos italianos ao delírio.

A seis minutos do intervalo, aos 36’, Crespo fez o 2-0 e, ainda antes de o árbitro apitar para o recolher das equipas, o argentino fez o bis, colocando o AC Milan com três golos de vantagem ao intervalo. Os festejos dos adeptos “rossoneri” nas bancadas contrastavam com a pura desilusão dos ingleses.

Em pleno intervalo, surgiu das bancadas o cântico “You´ll never walk alone”, cantado a plenos pulmões pelos adeptos do Liverpool, uma garantia à equipa de que, acontecesse o que acontecesse, esta teria sempre o apoio dos fãs.  

Cinco minutos, três golos e uma equipa renascida das cinzas

Com uma atitude renovada, os ingleses jogavam cada bola como se fosse a última. Aos 54’, Steven Gerrard, de cabeça, fez o 3-1. Ainda com dois golos de vantagem, os italianos tinham alguma margem para respirar, que desapareceu dois minutos depois (56’), num remate de Šmicer de fora da área dirigido ao ângulo inferior esquerdo da baliza, sem hipótese de defesa para Dida. Faltava apenas um golo para o empate e os ingleses estavam moralizados.

Até que, aos 59’, é assinalada grande penalidade a favorecer o Liverpool, após um puxão no interior da área do Milan a Gerrard. Xabi Alonso foi o escolhido para a marcação da bola parada: um remate fraco, mal colocado, defendido para a frente por Dida voltou aos pés do espanhol que, na recarga, não perdoou. Explosão de alegria na bancada Norte e incredulidade no lado Sul do estádio. A par das emoções vividas em Istambul, um planeta inteiro, maravilhado pela incrível recuperação dos “reds” acompanhava a partida, "colado" ao televisor. 

O jogo terminou empatado e seguiu para prolongamento, muito graças a uma exibição de sonho de Dudek, que parou várias bolas que pareciam destinadas ao fundo das redes inglesas.  Na meia hora suplementar, nenhuma das equipas — como é norma — quis arriscar, não havendo qualquer golo a registar.

Alguns dos nomes referidos no início do texto para demonstrar o poderio do AC Milan foram aqueles que, sob pressão, não conseguiram converter da marca de castigo máximo. Pirlo, Serginho e Shevchenko viram os seus remates defendidos por Dudek. Dos quatro penáltis marcados pelo Liverpool, três foram convertidos e Steven Gerrard ergueu a taça da Liga dos Campeões naquela que foi a final da competição com mais golos marcados (6).

“O primeiro golo deu-nos um bocado de alívio”

Após a final emocionante, Steven Gerrard — melhor jogador da partida — referiu a importância do discurso de Rafael Benítez ao intervalo, num momento em que a equipa perdia por três bolas a zero: “O treinador disse-nos para levantarmos a cabeça, para tentarmos marcar cedo na segunda parte e mostrar respeito pelos adeptos. O primeiro golo deu-nos um bocado de alívio. Os adeptos pouparam durante meses para virem cá. Estou muito contente por levantar a taça para os nossos adeptos”.

Silvio Berlusconi, presidente do emblema italiano, comparou o jogo a uma corrida presidencial: “O futebol é como a política: pensas que já ganhaste, mas esse não é o caso. Pena, isto é uma verdadeira pena. Mas eu sei muito bem como é o futebol”.

Desde essa final épica, o Liverpool esteve novamente no palco de todas as decisões em 2007, frente ao mesmo adversário, mas saiu derrotado por 2-1. Este ano, os ingleses defrontarão o bicampeão europeu Real Madrid, num jogo que, em termos de favoritismo, será uma espécie de reedição dessa final de 2005, com os “merengues” a serem considerados favoritos para a terceira conquista consecutiva da competição. 

Texto editado por Nuno Sousa

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