A oportunidade perdida

O Parlamento Europeu falhou na sua missão de representar os eleitores da União. É possível e obrigatório fazer melhor.

O Parlamento Europeu teve uma excelente oportunidade de demonstrar que é uma referência a seguir. Teve essa oportunidade e perdeu-a. A audiência a Mark Zuckerberg no Parlamento Europeu foi incompetente a demonstrar representação democrática e liderança política num tema em que os cidadãos da União bem precisam dos seus representantes.

Originalmente, estava previsto que a sessão decorresse à porta fechada. Quando foi criticado por isso, o presidente do Parlamento Europeu Antonio Tajani respondeu de forma arrogante no Twitter – mimetizando os hábitos públicos de Donald Trump. E depois não foi capaz de criar um ambiente favorável à discussão que se impunha: o formato foi completamente bacoco, pois em 90 minutos de audição os parlamentares falaram 60 e a para Zuckerberg sobrou apenas metade disso. À incompetência do Presidente do PE somou-se a mania das grandezas da maioria dos parlamentares, que se mostraram mais interessados em ouvir-se do que em fazer perguntas concretas. O que era importante discutir – impostos, empregos, práticas monopolistas, manipulação de massas – não o foi. 

Tudo isto ocorre a um ano das próximas eleições europeias, que poderiam ser uma lufada de ar fresco democrático. Só que não: as listas transnacionais estão a ser recusadas, as primárias nos partidos para escolher os candidatos a deputados também. E está longe de ser claro para os cidadãos a forma como os partidos se associam no Parlamento Europeu, como decorre a escolha do presidente e como se valida a presidência da Comissão.

Nada disto desvaloriza o Parlamento Europeu e a sua importância estrutural. Antes pelo contrário, aliás. É essencial que tenhamos presente a importância deste plenário como garante do espaço democrático da União Europeia – e que saibamos fazer as escolhas que se impõem nas eleições daqui a um ano. 

Seria mesmo bom começar por aqui: obrigar quem se candidata a representar os nossos interesses a discutir realmente a representação democrática dos cidadãos e a implementar políticas de maior transparência e representatividade. Se elegermos como requisito para o voto um compromisso transparente, ganhamos todos. E se a seguir esquecermos a lógica da cor partidária e nos preocuparmos com o que efectivamente pensam os candidatos a deputados, teremos muito melhores condições para ser dignamente representados. É disso que precisamos – nós e a Europa.

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