Obrigado, António Arnaut

Respeitar verdadeiramente o seu legado é continuar a discussão que ele queria que fizéssemos sobre o SNS.

A morte do presidente honorário do PS, ex-ministro dos Assuntos Sociais e grão-mestre do Grande Oriente Lusitano não comoveu apenas socialistas, quem trabalha no Serviço Nacional de Saúde (SNS) ou quem pertence à maçonaria portuguesa. A reacção ao seu falecimento resume-se a uma só e grande palavra: obrigado. De Catarina Martins a Rui Rio, dos médicos aos enfermeiros, aquela foi a palavra mais utilizada para sublinhar a importância que António Arnaut desempenhou na luta contra o salazarismo, pela defesa de um serviço de saúde universal, geral e gratuito e pela sua exemplar tenacidade e honestidade.

O seu legado é respeitado de forma consensual, não só por Arnaut ter sido o fundador do SNS, sem o qual a nossa democracia não passaria de um arremedo, mas também porque sempre combateu pelo seu aperfeiçoamento, cujo próximo passo, ao lado de João Semedo, seria lutar por uma nova lei de bases da saúde (princípio enunciado no livro que ambos publicaram no ano anterior). O que dele disse João Semedo é inteiramente justo: Arnaut foi um insubmisso e permanente lutador pela liberdade, pela igualdade e pela justiça social. Arnaut chamava-lhe teimosia. Foi precisamente por causa dessa teimosia combativa que, ainda na última sexta-feira, enviou uma mensagem a um congresso na qual dizia que há condições políticas para que “possamos todos voltar a ter orgulho” no sistema e que “é preciso reconduzir o SNS à sua matriz constitucional e humanista”. Chamemos-lhe integridade.

Respeitar verdadeiramente o seu legado é continuar a discussão que ele queria que fizéssemos sobre o SNS, como sugeria esta quinta-feira Manuel Alegre, sobre a qualidade dos serviços prestado pelo Estado e sobre a importância da ética no desempenho de cargos públicos. O futuro dos serviços de saúde, cuja “erosão” é um dos temas de preocupação do líder do PSD, é das questões mais prementes do Estado em que vivemos e não há ninguém que o possa negar. Vale a pena ler o artigo que Arnaut e Semedo escreveram há um mês no PÚBLICO: “Se nada for feito para suster e inverter esta curva descendente, o SNS deixará de ter condições para continuar a ser o garante do direito à saúde e, onde hoje temos um direito reconhecido e consagrado, passaremos a ter apenas negócio e nada mais do que negócio. Não permitiremos que a saúde deixe de ser um direito para se converter e degenerar num grande negócio.” Eis a questão.

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