Marcelo defende abertura das universidades à sociedade

Presidente pede “consenso de regime” para que a educação não ande ao sabor das mudanças de governo.

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Uma universidade que não procure adiantar-se ao seu tempo está condenada ao desaparecimento. Marcelo Rebelo de Sousa entende que as universidades precisam de se abrir à sociedade e de antecipar os novos desafios. Se o chefe de Estado português identifica a “endogamia” ou o “fechamento” como problemas destas instituições de ensino superior, a “incapacidade de antecipar” coloca outro tipo de desafios. “Não antecipar, para uma universidade, é morrer”.

A antecipação que defende relaciona-se com a “capacidade de ver e planear a médio prazo”. Para que tal seja possível, é preciso haver consensos. Neste ponto, tal como já fez em relação a outros sectores, Marcelo fala na necessidade de um “consenso de regime”, para que as políticas públicas de educação “não mudem com cada governo, com cada legislatura, com cada orçamento”. O horizonte precisa de ser mais distante. “Porque educar não é tarefa de um governo, de um político, de um partido, de um sindicato, de uma confederação patronal. Nem sequer de um país só. Educar é um desafio universal de hoje”, afirma.

Marcelo, que discursava na manhã desta segunda-feira, em Salamanca, na abertura do Quarto Encontro de Reitores Universia, apontou o exemplo de Portugal, onde a alteração das estruturas das universidades resultou numa abertura às comunidades, referiu. Isto numa referência ao Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior, cuja entrada em vigor levou à admissão de personalidades externas nos conselhos gerais das universidades.

“Mas fomos mais longe”, afirmou, para dar outro exemplo do papel que as universidades podem ter. O modelo apontado por Marcelo foi o do seu antecessor, Jorge Sampaio, que promoveu um programa de acolhimento de refugiados sírios nas instituições de ensino superior. É também neste campo que estas instituições têm que se abrir, “para além das fronteiras de cada Estado”, entende. O chefe de Estado português, que discursava em frente a uma plateia de cerca de 600 pessoas no Palácio de Congressos da cidade espanhola, fez as contas: “Se cada universidade recebesse cinco refugiados, teríamos 300 lugares de justiça social”.

Para reforçar a necessidade de abertura à sociedade, Marcelo realça a importância que a educação tem para a coesão social. E a “crise dos dias de hoje, dos sistemas políticos, económicos e sociais, é uma crise de falta de coesão”. Essa ausência abre espaço ao populismo, à xenofobia e à demagogia, advertiu, acrescentando que, por isso, “não há universidade que não deva ser aberta ao mundo”.

Num auditório repleto de académicos de 26 países, a maioria dos quais do espaço ibero-americano, o presidente português fez uma declaração de interesses: iria “deixar falar” o “coração de professor”. Um cargo do qual se vai jubilar dentro de seis meses, referiu, ao atingir os 70 anos. Mas “presidente é-se por períodos limitados de tempo. Professor é-se para toda a vida”.

Na primeira fila da plateia estava o rei Felipe VI, que falaria a seguir. Marcelo começou o discurso com uma saudação a Espanha, “una e eterna na sua projecção na Europa e no Mundo”. Uma referência que surge numa altura em que as tensões entre Madrid e o governo catalão voltam a subir de tom e que, por isso mesmo, suscitou uma salva de palmas da plateia. "Agradeço de coração pelas suas manifestações tão constantes de afectos a Espanha", disse o monarca espanhol na intervenção que encerrou a sessão inaugural do encontro de reitores. Marcelo deixou Salamanca sem falar aos jornalistas.

O PÚBLICO viajou a convite do Banco Santander

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