Rivais de Maduro denunciam centenas de irregularidades, incluindo "compra de votos"

Presidente pediu aos venezuelanos para escolherem "votos ou balas".

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Maduro depois de votar num liceu de Caracas Carlos Garcia Rawlins/Reuters
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Soldados numa fila para votar na capital da Venezuela Carlos Eduardo Ramirez/Reuters

Nicolás Maduro foi um dos primeiros venezuelanos a votar este domingo de manhã. O actual Presidente da Venezuela quis dar o exemplo e votou poucos minutos depois das 6h (11h em Portugal continental), acompanhado da mulher e de funcionários da máxima confiança. Numas presidenciais em que a única arma disponível para grande parte da oposição é o apelo ao boicote, Maduro deu de imediato uma conferência de imprensa onde chamou ao voto "todos os venezuelanos", dizendo que se trata de decidir entre "votos ou balas, pátria ou colónia".

"Que digam o que quiserem de mim, mas que digam que a Venezuela é uma ditadura é uma ofensa ao povo, a ti, compatriota que me escutas, sejas de que tendência fores", disse o herdeiro político de Hugo Chávez. "A Venezuela é um país de liberdade de pensamento e de acção, um país que elege com o voto permanente", acrescentou. De facto, as urnas são o lugar onde a revolução bolivariana procura com regularidade legitimar-se, mas resta saber quantos dos mais de 20 milhões de eleitores irão de facto participar.

A principal coligação de opositores, a Mesa da Unidade Democrática (MUS), pediu à população que não compactue com a "fraude de Maduro" – umas eleições marcadas com tão pouco tempo, acusam estes dirigentes, que nem conseguiram preparar uma rede de observadores para denunciar potenciais fraudes. Nalguns centros de voto vão estar activistas que pedirão a quem os ouvir para não votar.

Um dos que recusou o boicote da MUD foi o ex-chavista Henri Fálcon, o único verdadeiro crítico do Governo que se apresentou nas eleições. "Chegou o dia de fazer história e salvar a Venezuela", disse o rival de Maduro. "Vamos materializar o nosso compromisso com a maioria, a democracia e o futuro. Saiamos a votar com consciência, com a mão no coração e a mente posta no país com que sonhamos", apelou Fálcon.

Ora, quando as urnas estavam quase a fechar, o chefe de campanha de Fálcon, Claudio Fermín, dizia que tinha reunidas 900 denúncias por irregularidades nos centros eleitorais, incluindo "a compra de votos" por parte do regime, noticia a EFE.. 

Outro candidato, o pastor evangélico Javier Bertucci, já tinha acusado o Governo de pelo menos 380 situações em que os “pontos vermelhos” ou toldos montados pelo regime para ir controlando a eleições e fazendo campanha estão quase ao lado dos centros de voto. Deveriam estar pelo menos a 200 metros.

“Para além disto, a compra de consciência, a intimidação ao eleitor, que quando vem votar é abordado [nos pontos vermelhos] para ser questionado sobre o seu sentido de voto, também já se começou a oferecer-lhes dinheiro, comida. Não há liberdade para que este eleitor exerça o seu direito”, defende Bertucci.

União Europeia, Estados Unidos e vários países americanos recusam antecipadamente reconhecer os resultados, não tendo enviado as habituais missões de observadores.

Maduro, claro, insiste que as eleições são livres e acusa a oposição de escolher o boicote para não perder – a verdade é que a MUD conseguiu conquistar uma inédita maioria nas eleições para a Assembleia Nacional de 2015. A resposta do Presidente foi criar uma Assembleia Constituinte formada por gente próxima do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela), esvaziando em definitivo o já pouco influente Parlamento.

Entretanto, com os mais importantes opositores detidos, inabilitados ou no exílio, os venezuelanos enfrentam ainda uma crise humanitária, com falta de alimentos básicos e medicamentos. Para Maduro, são consequências da "guerra económica" travada pelos opositores com a ajuda de Washington. "A Venezuela é um país belo, que está em paz e merece respeito", disse ainda o chefe de Estado depois de votar.

Sondagens citadas pela agência Reuters mostram que a taxa de aprovação de Maduro está nos 20%, fruto do estado de uma economia em contracção e da maior inflação do mundo (2616% em 2017) que, em conjunto com a falta de bens essenciais está a fazer crescer a malnutrição e doenças fáceis de prevenir.

As urnas vão estar abertas durante 12 horas, provavelmente mais, já que o Conselho Nacional Eleitoral (próximo do poder) tem por hábito não encerrar os centros de voto enquanto houver eleitores nas filas.

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