Para salvar Lisboa

Costa diz claramente, como primeiro-ministro, o que toda a gente sabe. Deveria ser gravado em azulejos e espalhado pelo Porto e por Lisboa.

Sempre gostei de António Costa: é directo e inteligente, sensível mas destemido. Odeia cabalas e arranjinhos, um ódio raro em políticos. Gosto da maneira como ele acumula experiências: sabe aprender. Na excelente entrevista de Isabel Salema aqui no PÚBLICO, ele aplica sabiamente o que aprendeu como presidente da Câmara de Lisboa para falar dos problemas actuais de Lisboa com lucidez e brio.

Tanto mais que a certo ponto reage assim a uma das perguntas urgentes da jornalista: "Bom, eu já não sou presidente da câmara e não me coloque outra vez num local onde fui feliz."

Costa diz claramente, como primeiro-ministro, o que toda a gente sabe. Deveria ser gravado em azulejos e espalhado pelo Porto e por Lisboa.

"Aquilo que tem atraído as pessoas para o centro de cidades como Lisboa e o Porto é a autenticidade, e essa não resulta só da conservação do património físico, mas das vivências dadas pelas pessoas que lá habitam. Alfama, se ficar integralmente preservada mas despovoada da sua própria população, será certamente um parque turístico, mas deixará de ser um bairro com vida própria, que é o que lhe dá a sua característica. Não podemos ter os centros das cidades como Disneylândias para adultos."

E continua, desassombrado, livre: "Hoje é impossível conseguir uma casa no centro de Lisboa. Essa ilusão liberal de que liberalizando o arrendamento se liberalizava a oferta, e que liberalizando a oferta os preços baixavam e a procura se tornava acessível, fracassou completamente".

Ámen.

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