Desp. Aves vence no Jamor e crava mais um prego na crise sportinguista

Dois golos do ex-“leão” Alexandre Guedes levaram a festa da Taça à pequena vila do Norte do país. Lisboetas saíram do relvado entre assobios e aplausos.

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LUSA/ANTÓNIO COTRIM

Regressou ao convívio com os "grandes" esta temporada e contratou quase duas dezenas de jogadores. Poucos apostariam no seu sucesso, mas garantiu a manutenção já no capítulo final. Chegou pela primeira vez ao Jamor, planeou a partida com serenidade, sem grandes atenções. Bateu o pé ao Sporting com mérito (2-1) e tornou-se na 13.ª equipa a festejar uma Taça de Portugal. Um enorme feito que vai valer ao Desportivo das Aves a estreia nas competições europeias, via Liga Europa.

A história do futebol está repleta de Davides que derrotam Golias. Casos de superação que contribuem para tornar o pontapé na bola no desporto com o reflexo mundial que se lhe reconhece. E após uma semana durante a qual o futebol mostrou algumas das suas faces mais tristes e autodestruidoras, não deixa de ser comovente ver como o clube de uma vila com perto de 8500 habitantes demonstrou, com grande humildade, o que é a essência deste desporto centenário.

Apesar de defrontar um adversário que atravessa a pior crise da sua existência, o Desportivo das Aves não antecipava qualquer tipo de facilidades no Jamor. Trabalhou muito para aqui chegar e honrar os seus adeptos. Do outro lado, os jogadores “leoninos” marcaram uma posição no conflito que os opõe ao presidente Bruno de Carvalho: só treinaram na véspera desta final. Não se sabe se seria assim se o oponente se chamasse FC Porto ou Benfica, mas percebe-se esta reacção por parte de profissionais que foram agredidos por elementos da claque do próprio clube, na última terça-feira.

Não se pode também dizer que tenham facilitado ou cedido à depressão que afecta todo o plantel, ainda a digerir os últimos e surpreendentes acontecimentos. O Sporting veio ao Jamor para ganhar aquele que seria o seu 17.º troféu nesta competição (ultrapassando o FC Porto no ranking) e esteve perto de marcar logo nos instantes iniciais.

Por duas vezes e com os mesmos protagonistas: Gelson e Quim (10’ e 14’). O avançado sportinguista foi perdulário na cara do golo, mas houve também enorme mérito do experiente guarda-redes, de 42 anos, na baliza do Desp. Aves. A equipa de José Mota acreditou que tinha a retaguarda bem protegida - até porque Quim contava com a inspiração de Diego e Carlos Ponck no centro da defesa – e ia procurando beliscar o “leão”. E beliscou mesmo mais cedo do que podia prever.

A jogada que antecedeu o golo avense, aos 16’, é um recital ao contra-ataque. Amilton dominou uma bola à saída da sua área defensiva, abriu para Nildo Petrolina na direita, este lançou Braga no mesmo lado, que cruzou para Alexandre Guedes cabecear ao segundo poste de ângulo quase impossível. O avançado, formado no Sporting, foi feliz, com a entrar apesar do ângulo difícil.

Os “leões” abanaram, complicaram o seu futebol, deixaram de ter critério a atacar, abusaram dos passes errados e dos cruzamentos mal medidos (Fábio Coentrão em destaque). O resultado não merecia grande contestação ao intervalo e Jorge Jesus tirou da cartola Fredy Monteiro para acompanhar o solitário Bas Dost na frente.

Os lisboetas melhoraram mas o Desp. Aves não piorou. Surgiram lances de relativo perigo em ambas as balizas, quase sempre a partir de remates de fora da área, mas voltou a ser o conjunto de José Mota a fazer estragos. A lutar contra o cronómetro, o Sporting abria espaços atrás e Alexandre Guedes aproveitou a oportunidade. Lançado por Amilton (após uma perda de bola de Gelson) contou ainda com as facilidades da defesa adversária (Coates tinha obrigação de fazer mais) para rematar cruzado e comemorar o segundo golo, aos 72’.

Entre o desânimo e os impropérios dos seus próprios adeptos, os “leões” ainda conseguiram reagir, mas quando Bas Dost, de baliza aberta, atirou à trave, aos 79’, pressentiu-se que esta não seria uma tarde para os sportinguistas recuperarem dos dias de tempestade. O lance coincidiu com uma carga policial nas bancadas onde estavam as claques "leoninas", com os atletas, abatidos, a assistir.

Retomado o encontro, Fredy Monteiro aproveitou um raro momento de desconcentração do adversário e reduziu aos 85’. A equipa carregou com tudo para chegar ao prolongamento, mas desta vez não houve um final épico, como aquele que valeu ao Sporting de Marco Silva esta mesma taça há três anos.

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