Us + Them, o grito de união de Roger Waters, está a chegar a Portugal

O primeiro de dois concertos no Altice Arena, em Lisboa, é já este domingo. O ex-Pink Floyd fará uma viagem pela sua carreira, entre os muitos clássicos de ontem e algumas canções do seu álbum mais recente, Is This the Life We Really Want?

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Os concertos da digressão têm servido, como habitualmente, para o música expôr em palco os seus ideais MARIO ANZUONI/REUTERS

Em 2011, quando se apresentou em Portugal para dois concertos da digressão The Wall Live, no mesmo palco, o Altice Arena, em Lisboa, a que subirá agora mais duas vezes, domingo e segunda-feira, Roger Waters estava a ponderar descansar no final daquela maratona iniciada um ano antes e que só terminaria em 2013. Quase septuagenário, terá pensado em parar de levar mundo fora a sua voz, o som do baixo e as suas ideias tornadas música. Como sabemos, não o fez. Pelo contrário, editou em 2017 um novo álbum a solo, Is This the Life We Really Want?, e iniciou em Maio desse ano uma digressão que passa agora por Portugal e que se prolongará até Dezembro. Fê-lo porque, diz, o palco lhe sabe cada vez melhor. Fê-lo porque o estado do mundo o motivou a usar as suas canções como comentário e activismo. A digressão Us + Them, em que se combinam canções do percurso a solo com clássicos da carreira dos Pink Floyd, é o resultado dessas motivações.

Será, como é habitual em Roger Waters, um espectáculo rock com forte componente cénica. Dividido em dois actos, por ele passarão canções de álbuns como Wish You Were Here, Animals, The Wall ou, claro, daquele The Dark Side of the Moon em que encontramos a canção que baptizou a digressão. Também haverá algum espaço, bem menor, a julgar pelo alinhamento dos últimos concertos, para pontuais visitas a Is This the Life We Really Want?. Segundo expressou à Rolling Stone em Fevereiro do ano passado, a digressão pretende ilustrar em música e imagem aquilo que o antigo baixista dos Pink Floyd considera ser o tema recorrente da sua carreira (na entrevista, é mais taxativo: “Escrevi sobre uma coisa apenas ao longo da minha vida”), isto é, “o facto de nós, como seres humanos, termos responsabilidades uns para com os outros”, do que decorre a importância de “sentir empatia pelo outro e de organizar a sociedade de forma a sermos mais felizes e a atingirmos a vida que desejamos”. Concretizando, continuava, o objectivo deve ser proporcionar “às nossas crianças e aos nossos netos” a educação necessária para que “possam aspirar a ser melhores e mais produtivos, menos nacionalistas, menos colonialistas”.

Nos concertos, vem aludindo ao muro que a Administração americana quer erguer na fronteira com o México; em Barcelona, criticou no palco os Capacetes Brancos que operam na Síria, considerando-os uma fachada para promoção da "propaganda" em favor de "jihadistas e terroristas". Tem também sido um dos artistas mais empenhados na crítica à actuação do estado de Israel relativamente à Palestina, apelando a um boicote cultural ao país no âmbito do movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções.

A última digressão?

Acompanhado por uma banda de dez elementos, divididos entre guitarras, pianos, órgãos, bateria, percussões, saxofone e coros, Roger Waters tocará Time, The great gig in the sky, Wish you were here, Welcome to the machine, Us and them, The last refugee, uma das canções do álbum mais recente, ou Pigs (Three different ones). Esta última tem destinatário muito específico: Donald Trump. Durante o concerto, o Presidente norte-americano surge em várias imagens, incluindo uma em que veste um capuz do Ku Klux Klan e outra em que surge com a forma de um porco. O facto levou a que, nos concertos americanos da digressão, alguns espectadores abandonassem as salas em protesto e a que um dos patrocinadores da mesma, a American Express, retirasse o seu financiamento. Confrontado com o sucedido, Roger Waters declarou em tom mordaz, em entrevista à CNN: “É um pouco surpreendente que alguém possa andar a ouvir as minhas canções há 50 anos sem se ter apercebido [de que o comentário à política faz parte da sua obra e de que Waters não poderia apreciar um político como Donald Trump]”. Revelou ainda que o cancelamento da American Express representou a perda de quatro milhões de dólares – “mas note que mantiveram o patrocínio para a digressão no Canadá”.

Na supracitada entrevista à Rolling Stone, perguntaram-lhe o que o motivava a continuar com as digressões. “Tenho a forte suspeita de que esta pode ser a última que faço, porque não estou a ficar mais novo. Mas é viciante.” Roger Waters, 74 anos, continuará enquanto puder. Por agora, não só pode como quer levar a palco o seu passado e o seu presente para comentar o mundo que habita.

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