Três meses após as eleições, Rio parece ganhar agora o PSD

Foi atribulado o início da liderança do partido, mas Rui Rio começa a ganhar popularidade junto dos sociais-democratas e a fazer o seu caminho.

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Rio foi eleito com 54% dos votos nas directas de 13 de Janeiro Miguel Manso

A relação do PSD com o seu novo líder parece estar a mudar. Após a constante turbulência que marcou o primeiro mês de liderança de Rui Rio, e que levou Pedro Santana Lopes a desafia-lo a “inaugurar a liderança”, o PSD olha agora para o presidente social-democrata de outra forma, e até os mais críticos acreditam que acabará eleito primeiro-ministro.

Ao fim de um mês de liderança efectiva, Santana amplificava o mal-estar interno que existia e, no seu comentário na SIC Notícias, no dia 20 de Março, disparava: ”O PSD que existe neste momento devia ser o de preparar uma alternativa ao Governo socialista, mas o partido está inquieto”. Pedro Duarte, chamado a um debate no Clube dos Pensadores, também alertou Rio para a necessidade de “assumir uma postura diferente” da que teve no mês então decorrido.

Mas agora, que passam três meses desde que foi empossado no congresso da antiga-FIL, o PSD mostra-se mais pacificado. O PÚBLICO contactou algumas das figuras que, no início do ano, recusaram entrar na corrida à liderança e nota-se que há uma mais contenção (nas críticas). Ultrapassadas as crises iniciais – a demissão de Barreiras Duarte, a primeira opção de Rio e para secretário-geral, e a eleição de Fernando Negrão para líder parlamentar –, o momento em que se voltaram a ouvir críticas acesas foi quando Rui Rio e António Costa assinaram os acordos em matéria de fundos estruturais e de descentralização. “Não há coincidências. Acordos entre PSD e Governo podem mudar xadrez político”, voltou a dizer Santana. “Ele não enganou ninguém”.

Nessa altura, o eurodeputado Paulo Rangel, que não é propriamente um entusiasta do Bloco Central, considerou os acordos positivos ”nestas matérias”, por permitirem também ao PSD "legitimar a sua posição”. Bem mais duro foi Luís Montenegro. “Qual é, então, a finalidade do PSD? É ser mais uma muleta do PS ou é ser a alternativa ao PS”, questionou. E aproveitou para deixar um aviso: “O PS está a fazer o caminho de recentramento à boleia do PSD”. Porém, dias depois de abandonar o Parlamento, já se notava a contenção de Montenegro, que assumia que o seu “desejo" era "ver o dr. Rui Rio primeiro-ministro dentro de um ano e meio”.

Nas comemorações oficiais do 25 de Abril, o líder social-democrata conseguiu até coleccionar alguns elogios da parte daqueles que podiam ter concorrido contra si nas últimas directas. A escolha de Margarida Balseiro Lopes, recém-eleita líder da JSD, para discursar em nome do PSD na habitual sessão parlamentar do 25 de Abril, foi elogiada por Paulo Rangel e José Eduardo Martins. A aposta do PSD em atacar o PS através de Manuel Pinho, de José Sócrates e da corrupção provocou o caos nas hostes socialistas, culminando na desfiliação de Sócrates, e contribuiu para estancar as críticas internas entre os sociais-democratas.

O ex-deputado José Eduardo Martins diz que, depois do “arranque um bocadinho difícil” e de “algumas escolhas do congresso que são um bocadinho incompreensíveis, Rui Rio fez o que se pode esperar de uma pessoa confiável, como ele é: rodeou-se daqueles em quem confia em absoluto, constituindo uma equipa coesa, e passou a marcar a agenda”.

Eduardo Martins considera, no entanto, que a aproximação do PSD ao PS, a que chama “uma espécie de pazes, não foi um grande sucesso político”. E precisa que o momento em que o líder do partido se destacou “foi no último mês, quando o país entrou num turbilhão. Aí Rui Rio revelou aquilo que tem de melhor, que é a sua seriedade, o seu sentido de Estado e o seu distanciamento em relação ao bas-fond da corrupção”.

Ao PÚBLICO, o advogado acusa António Costa de ser “cada vez mais um pantomineiro e que as declarações que vai produzindo, seja sobre Sócrates seja agora sobre a Autoridade Nacional Contra a Violência no Desporto, fazem dele um primeiro-ministro de ocasião”. Enquanto “Costa diz a primeira coisa que acha que lhe convém, Rui Rio diz a primeira coisa que acha que convém ao país”, compara José Eduardo Martins, terminado com mais um elogio: “Temos um líder sério, que tem marcado pontos, a prepara-se para ser um óptimo primeiro-ministro”.

Também Paulo Rangel, que esteve para se candidatar à liderança, elogia a “eficácia” de Rio na definição da agenda política – “surpreendendo muita gente” – e aponta que os temas que este trouxe para a agenda política, como a saúde, “deixou o Governo aos papéis”. Quanto ao caso Manuel Pinho/José Sócrates, nota que “ninguém tinha antes levantado o tema nos termos em que ele o fez” e destaca a “enorme vitória que teve esta semana no caso da lista dos devedores da CGD. “Foi aprovada uma questão essencial para a transparência do regime”, congratula-se, considerando que, no caso da corrupção do futebol, o ex-presidente da Câmara do Porto “colocou a responsabilidade política nas questões do futebol”.

Rangel, que tem apoiado as decisões do líder, compara a estratégia de Rio às grandes equipas altamente eficazes que, quando vão à baliza, é para marcar golo.

Menos entusiasta, Pedro Duarte faz uma escolha cirúrgica das palavras. “Devemos ter uma postura construtiva de apoio à liderança e, nesta altura, um balanço que eu pudesse fazer, não coincidira com este propósito”. com S.S.

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