O que há para ver a partir da Guarda, a cidade mais alta de Portugal

A leitora Patrícia Caeiros partilha a sua experiência pelos caminhos do Centro do país.

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Aqui sentada à janela do comboio, e à medida que as terras se sucedem lá fora umas atrás das outras, apercebo-me das saudades que cresceram escondidas pela mochila às costas. Desta vez, o destino é a Guarda e as suas redondezas, e o cenário além-vidro vai ganhando relevos diferentes à medida que os caminhos-de-ferro se alongam para o Norte.

Chego já de noite à cidade da Beira Interior, mas os amigos esperam-me para uma conversa que estava em falta havia meses. A meteorologia traz-nos uma boa-nova: hoje dá neve até de madrugada para a serra da Estrela. E é por lá que começamos o domingo, pelo Covão D’Ametade. A estrada que passa na Guarda vai por Valhelhas e entra pelo Parque Natural da Serra da Estrela, e a paisagem que se abre das curvas da Nacional corta o espanto em exclamações sobre a beleza de Portugal. Continuamos até Manteigas e a serra agiganta-se à nossa frente.

Estacionamos para visitar a depressão glaciar de paisagem bucólica e, com a máquina em punho, os disparos chegam às dezenas. Ao tempo que não me via rodeada deste branco que se eleva sem a vista se cansar da mesma cor. Continuamos a estrada que sobe a serra, mas a que vira para a Torre está fechada pelo nevão da madrugada. Não faz mal, porque também paramos nas alturas, onde há famílias que aproveitam o tempo para escorregarem numa pista improvisada. O frio corta a pele que se cobre de luvas, casacos e barretes e guardo as mãos nos bolsos enquanto respiro a natureza que se abre e que deslumbra à minha frente.

O almoço segue-se pela Covilhã e a tarde alonga-se por Sortelha. Na freguesia fazemos um desvio para as antigas Termas de Água de Radium com a arquitectura a perder-se no tempo. E no espaço. Que pena. Há aqui recantos que dão retratos tão bonitos. Tivesse eu o jeito que por aí vejo e haveria fotografias a enfeitarem as paredes da minha casa.

O relógio avança nos ponteiros e visitamos Sortelha dentro de muralhas pitorescas num cume com vales que abrem até onde não se vê mais. Sento-me no alto das pedras e há o zunzum das eólicas que se elevam nas alturas e que acompanha o vento que não se faz sentir aqui onde as minhas pernas se alongam pela descida a pique. Do outro lado, os telhados vermelhos sobre as casas mantêm a tradição do antigo. Os tons do sol a pôr-se cobrem todo este cenário e o frio levanta-se num espreitar além-muralhas. Depois, escolhemos o Sabugal para um café e um aquecer de corpos, porque já agora continuamos pelas terras que são vizinhas. O castelo já está fechado, mas sentamo-nos na conversa, enquanto os dedos se ocupam a descascar tremoços com os dentes antes da noite.

Na manhã seguinte, visitamos a cidade da Guarda, com o centro histórico nas alturas e a história e património contados pelas praças e ruas de pedra escura que se cruzam pela Torre de Menagem, Sé Catedral, Igreja da Misericórdia, Parque da Cidade, e outros que constroem a capital do distrito que se diz ser a dos cinco F: Forte, Farta, Fria, Fiel e Formosa.

A tarde fica curta no tempo que ainda tenho antes do comboio do fim da tarde e do regresso, mas o carro faz viagem até Celorico da Beira para que as também muralhas dessa vila fiquem riscadas dos lugares a visitar por este meu país. Ainda tenho tanto para conhecer, e fica a promessa de um regresso para tudo o resto que faltou, e para que as saudades da companhia e da amizade não fiquem guardadas para um dia quando não puder ser.

Patrícia Caeiros

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