O interior, agora ou nunca

Das duas uma, ou olhamos de vez para medidas terapêuticas que possam inverter este descalabro ou o interior, não tarda nada, será um Portugal vazio.

O diagnóstico está feito e refeito. As assimetrias entre o interior e o litoral português reforçaram-se nas últimas décadas. O Estado e os habitantes foram saindo de mansinho do primeiro e concentrando-se brutalmente no segundo (particularmente na área metropolitana de Lisboa). Que futuro pode ter um país no qual 70% da população vive numa faixa de 50 quilómetros a partir do mar ou onde vivem 82% dos menores de 25 anos? Onde se concentra 83% da riqueza produzida ou 89% dos alunos universitários? Um país partido em duas faixas verticais e tão desiguais será sempre um país mais pequeno, mais pobre; um desperdício terceiro-mundista. O que o Movimento pelo Interior hoje apresenta em Lisboa, perante Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, não se limita a ser o enésimo relatório fundamentado em números indesmentíveis sobre uma realidade que a política do Estado continua a ignorar. É bem mais do que isso que aqui é proposto. Das duas, uma: ou olhamos de vez para medidas terapêuticas que possam inverter este descalabro ou o interior, não tarda nada, será um Portugal vazio.

Ao contrário do que se possa pensar, os danos deste processo não se verificam apenas nas regiões do interior. A concentração no litoral a esta progressão geométrica vai criar um paradoxo cada vez mais evidente: o aumento populacional cria congestionamentos de toda a ordem e exige infra-estruturas que nunca serão suficientes para a procura, com as naturais consequências na qualidade de vida dos principais aglomerados urbanos. Este relatório tem ainda outros méritos: os seus subscritores pertencem a diferentes partidos, academias ou sectores empresariais, o momento em que é apresentado é oportuno ­— está quase a cumprir-se um ano após a tragédia de Pedrógão Grande — e as propostas que apresentam têm tudo para suscitar consensos legislativos no Parlamento. Mudar serviços públicos da capital para outras capitais de distrito, com várias compensações financeiras para quem aceitar a mudança, a aplicação de uma taxa de IRC de 12,5% para todas as empresas, a atribuição ao interior e em exclusivo de benefícios fiscais para investimentos acima de 25 milhões de euros são terapias que não diferem muito da discriminação positiva que o Governo determinou a favor das universidade do interior, que é igualmente proposta neste movimento. Ou discutimos isto agora ou calemo-nos para sempre.

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