Adeus, Portugal amigo

Juntas tudo: o belo e o torto, o Algarve e o Porto. Com o último olhar sobre o Tejo, torço por esta terra, que me recebeu e sorriu. És tão grande e tão esquecido, és tão pequeno, tão vasto e bonito

Glauco Zuccaccia/Unsplash
Fotogaleria
Glauco Zuccaccia/Unsplash
Pedro Sampaio Minassa, 21 anos, licenciado em Direito pela Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil
Fotogaleria
Pedro Sampaio Minassa, 21 anos, licenciado em Direito pela Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil

Meu pequeno Portugal, quantas lágrimas de teu sal foram minhas também. Quantas saudades da minha terra eu senti, quantos sorrisos, porém, eu dei por ti. Hoje, depois de seis meses em teu solo e uma história que parece a vida inteira de embalo em teu colo, posso dizer com todo meu coração: amar-te-ei até à linha do horizonte que deita sobre o Atlântico em Belém, seu maior símbolo romântico.

Valeu a pena? Ah, Fernando, na vida tudo vale se a alma não é pequena, ou apequenada. Já nos disse Caetano Veloso, "gosto do Pessoa na pessoa". Por aqui, encontrei filhos únicos de Pessoa, filhos desta terra navegante, sinceros e amigos, saudosistas e antigos. Foram tantos dias nesta terra que me apeguei a ti, ao teu mar, tuas ilhas e tua serra. 

Da Mouraria ao Intendente, vivi noites, triste, e dias, contente. De Alfama ao Paço, andei por entre histórias, procissões e abraços. Do Oriente ao Cais, lembrei das tuas memórias de guerra e de paz. Já te carreguei no passado e no presente, na razão e na saudade. Hoje, carrego-te no meu futuro, na minha mocidade. Corre, como nunca dantes tão intenso em minhas veias, teu sangue, bem vermelho, o mesmo que tinge a tua bandeira quase por inteiro. De Belém, levo a torre, os pastéis e o mar, levo a vontade eterna de a ti voltar. De Cascais, levo o cheiro, os temperos e o progresso, levo a esperança de que um dia estejas esperando meu regresso. De Sintra, levo os travesseiros, os mouros e a Pena. Levo nostalgia de Azenhas e de sua bucólica cena. És tão grande e tão esquecido, és tão pequeno, tão vasto e bonito. 

Juntas tudo: o belo e o torto, o Algarve e o Porto. Fincas em meu peito uma faca de mil amores, enquanto olho de relance em despedida aos Açores. Meu pequeno Portugal, de Camões, de Saramago, de Eça, de Amália e de outras figuras de renome mundial, de tantos nomes nas letras de Antero de Quental. Com o último olhar sobre o Tejo, torço por esta terra, que me recebeu e sorriu. Quero sempre esta imagem do Cristo Rei e da 25 de Abril. Que o comboio da vida me permita um dia retornar e ter-te no reflexo de meu olhar. Rezei a todos os santos, do alto de São Jorge à cripta dos Santos Antónios, entrei em cada capela, igreja e catedral. Quero tatuar em minha pele os Jerónimos e respirar para sempre o ar de Portugal.

Até logo, meu pequeno país! Que o Tejo continue a ser a tua porta de entrada para o novo mundo e que um dia o mundo novo volte a reconhecer teu valor profundo. Adeus, Portugal! Carrego comigo saudade, amor e sal. Levo-te no bolso, na alma e no fado original. Hoje, uma lágrima escorre, meu amigo, caindo neste solo que foi meu abrigo. E desta lágrima há de nascer um cravo de saudade, em memória de tua revolução e de tua liberdade. Um cravo solitário, no meio da cidade, entre as pedras portuguesas de uma das tuas praças ou nalgum azulejo duma de tuas casas. Adeus, Portugal amigo. Levar-te-ei para todo sempre comigo!

Sugerir correcção
Comentar