Órgãos sociais dispostos a demitir-se para pressionar Bruno de Carvalho

Assembleia Geral e Conselho Fiscal apresentarão demissão se Direcção do Sporting se mantiver em funções. Presidente "leonino" antecipa-se a manobras da oposição e convoca uma assembleia geral extraordinária.

Barba
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Jaime Marta Soares, presidente da mesa da assembleia geral do Sporting LUSA/MÁRIO CRUZ
Bruno de Carvalho, Jorge Jesus, André Geraldes, Sporting CP, Derby de Lisboa, SL Benfica
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Bruno de Carvalho entre Frederico Varandas e André Geraldes, que foi detido pela PJ MIGUEL A. LOPES/LUSA

Bruno de Carvalho antecipou-se às movimentações de bastidores dos opositores à sua direcção e solicitou esta quarta-feira a convocação de uma Assembleia-Geral (AG) extraordinária. Uma reunião magna, que promete ser explosiva, para discutir a grave crise que o clube atravessa e que pretende esvaziar alguns planos que já estavam em marcha para forçar a sua destituição.

“Enviámos ao senhor presidente da Mesa da AG do Sporting Clube de Portugal um pedido de AG extraordinária a ser marcada o mais breve possível, para analisar a situação actual do clube, auscultar os sócios e dar todas as explicações que estes entendam necessárias”, refere o comunicado do clube, divulgado ao princípio da noite de quarta-feira, após uma reunião da direcção e da Comissão Executiva da SAD (Sociedade Anónima Desportiva).

Uma iniciativa tomada num momento em que vários membros dos órgãos sociais, que integram a Mesa da AG e o Conselho Fiscal, se preparam para apresentar a demissão na próxima segunda-feira, segundo o PÚBLICO apurou junto de várias fontes, data em que, Jaime Marta Soares, presidente da Mesa da AG, convocou os órgãos sociais para definir “o futuro imediato do Sporting”. Uma manobra política e mediática, para cercar o presidente, mas sem efeitos jurídicos, porque Bruno de Carvalho só cairia se ficasse também sem o apoio do Conselho Directivo (CD).

Uma hipótese pouco provável face ao firme apoio que recolhe entre os membros da sua direcção, todos escolhidos por si e da sua total confiança, sem anteriores ligações ao clube.

A ideia era que tudo se desencadeasse rapidamente, lançando o processo na segunda-feira, um dia depois da final da Taça de Portugal - e assim travar uma sangria na equipa, que pode também ser uma sangria financeira, arriscando, na visão dos opositores, levar o Sporting para “uma catástrofe”. O objectivo é ainda, tanto quanto possível, evitar a AG que, no clima actual, poderia degenerar em violência.

No entanto, a demissão em bloco dos membros da AG e do Conselho Fiscal traria um risco: o presidente poderia limitar-se a convocar eleições para esses órgãos, tentando controlar tudo no clube. Por isso, paralelamente, um grupo de sócios já está a preparar a recolha das assinaturas necessárias para convocar uma reunião magna com o objectivo de destituir o grupo liderado por Bruno de Carvalho.

Outra alternativa passaria por convencer o próprio presidente da Mesa da AG a convocar uma assembleia-geral para votar a destituição, considerando que esta direcção não reúne condições para continuar em funções. Jaime Marta Soares tem estado a ser muito pressionado para avançar para esta solução, tanto por notáveis do clube como por muitos sócios anónimos.

A direcção, contudo, antecipou-se a todos estes cenários com a decisão de avançar ela própria com a convocação de uma AG. Uma reunião que o advogado Carlos Barbosa da Cruz, antigo membro da direcção encabeçada por Filipe Soares Franco, considera fundamental no actual contexto de crise. “Face à enorme gravidade da situação, os sócios têm de tomar uma atitude. Se não o fizerem é porque o Sporting tem o presidente que merece”, afirmou ao PÚBLICO.

Comissão de gestão

O ex-dirigente defendeu que esta AG deveria incluir na agenda uma votação para a destituição de Bruno de Carvalho, assim como a nomeação de uma comissão de gestão para o substituir. Uma opinião subscrita por Paulo de Abreu, outro antigo dirigente “leonino” e actual presidente do Grupo Stromp.

“O Sporting vive uma situação sem solução com esta direcção. Estão em causa os activos do clube e tudo o resto. Nem consigo descrever a amplitude das implicações desta crise. Não é só uma coisa ‘chata’”, conclui. Por outro lado, Paulo de Abreu considera que o cenário de eleições antecipadas nesta fase não é também desejável, já que colocaria em causa a preparação da nova temporada, comprometendo também o empréstimo obrigacionista que a SAD do clube aprovou recentemente.

“O ideal seria que o Conselho Directivo tomasse a iniciativa de se demitir em bloco atendendo à gravidade da situação que o Sporting atravessa. Obviamente isto não se resolve com eleições, mas sim com uma comissão de gestão que rapidamente tome conta dos desígnios do clube”, concluiu.

E no caso da crise no clube de Alvalade culminar mesmo em eleições antecipadas, o banqueiro José Maria Ricciardi, ex-presidente do Conselho Fiscal “leonino”, já admitiu que poderá aceitar uma candidatura. “Não sei se serei [candidato], não é esse o meu projecto de vida, mas não irei dizer categoricamente que não serei. Nessa altura irei tomar uma decisão. Nunca quis ser candidato, mas irei reflectir.”

Outro eventual candidato é o advogado Rogério Alves. “Um ilustre sportinguista, com todas as condições para ser presidente do Sporting”, na opinião de Ricciardi.

Mas para que qualquer destes cenários ganhe forma será necessário esperar mesmo pela AG, já que muito dificilmente Bruno de Carvalho irá atirar a toalha ao chão por iniciativa própria. Muito menos depois de ter obtido um voto de confiança dos sócios há precisamente três meses, com esmagadores 89,55% dos votos. Tudo antes dos acontecimentos dantescos que marcaram o último mês e abalaram como nunca o reino do “leão”.

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