Cortes de relações com claques não são inéditos em Portugal

Principal claque leonina demarcou-se das agressões em Alcochete. Super Dragões sofreram consequências pesadas após incidente com treinador Co Adriaanse, em 2006.

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Claque leonina demarcou-se do incidente Nuno Ferreira Santos

A entrada de dezenas de membros encapuzados nas instalações do clube, em Alcochete, e a posterior agressão de jogadores e equipa técnica chocaram o país e o futebol nacional. Os 23 detidos, ouvidos no tribunal do Barreiro, tinham ligações à claque Juventude Leonina, fundada em 1976, e principal grupo de apoio organizado do Sporting, contando com mais de sete mil sócios. Após as agressões de terça-feira, a claque veio declinar qualquer responsabilidade no acto de violência, mas já houve casos em que uma tentativa de intimidação custou a um grupo de adeptos o apoio do clube.

Consideradas por muitos como um “braço armado” dos clubes, as claques desempenham um papel fundamental nas bancadas dos estádios portugueses: com a quebra de espectadores, os grupos de adeptos são, muitas vezes, os únicos que acrescentam cor e emoção a uma partida de futebol. Mas, por vezes, são, pelos piores motivos, as figuras principais nos estádios. 

Em Janeiro de 2006, após um empate a zero bolas com o Rio Ave, adeptos ligados aos Super Dragões abordaram Co Adriaanse, treinador à época do FC Porto, no centro de treinos do Olival, e “emboscaram” a viatura em que este seguia. Uma tocha colocada debaixo do carro e algumas amolgadelas foram os principais estragos a registar, mas a mensagem estava dada. Assustado pelo episódio, Co Adriaanse pediu a saída do FC Porto, mas permaneceu até ao final da época, persuadido pela direcção. O técnico holandês acabaria por sair em Agosto, em plena pré-época dos “azuis e brancos”. O clube cortou relações com os Super Dragões, principal claque dos "dragões", três dias após o incidente. 

Um membro, à época, da claque "azul e branca" disse ao PÚBLICO que as consequências para o grupo foram severas: “ [As sanções] prenderam-se sobretudo com questões logísticas. O FC Porto deixou de vender bilhetes de sócio para a bancada em que nos situávamos, deixámos de ter um local para guardar o material no estádio e não podíamos vender o material da claque na Loja Azul [espaço oficial de venda de merchandising do clube na altura]”. O adepto diz ainda que, para além das sanções, aquilo que ficou mais evidente no episódio foi o poder da SAD portista sobre o grupo organizado: “O FC Porto só tem claque porque quer. [O corte de relações] mostrou o poder que o clube tem [sobre a claque]".

Em resposta à perda de privilégios, os Super Dragões protestaram a decisão da SAD portista, boicotando o apoio em alguns jogos e assobiando o ténico sempre que este era referido nos altifalantes do Dragão. Nos primeiros dez minutos de jogo, os adeptos do topo Sul faziam completo silêncio, voltando costas ao relvado. Estes protestos duraram várias semanas. Aos poucos, a normalidade foi voltando ao clube, com a SAD portista a reatar relações com a claque sensivelmente um ano após o corte institucional.

Em Alvalade, não há, para já, dados que apontem no sentido de uma punição da claque, com o clube a prometer que se os detidos fizerem parte da lista de associados serão expulsos do clube.

Texto editado por Nuno Sousa

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