Quando a música clássica vai à escola para deixar lá o "bichinho"

Vera Dias cresceu em Guimarães, numa família onde ninguém ouvia ou tocava música clássica. Não escolheu tocar fagote, mas agora não se imagina com outro instrumento. Em 2006, entrou para a Orquestra da Gulbenkian. Quando levou pela primeira vez a família a um concerto de música clássica, percebeu pelas suas reacções que o preconceito da música ser "elitista" ou "aborrecida" facilmente podia ser quebrado. "Foi tão bonito, tão bom. Não sabia que era assim", disseram-lhe a mãe e a avó. "A música clássica não é uma música que só chega a certas pessoas, não há é uma educação feita nesse sentido", conta a música de 32 anos.

O projecto "Música na Escola", desenvolvido pela Fundação Gulbenkian, surgiu para dar resposta a esse afastamento e levar os músicos às escolas, para dar a conhecer o outro lado da música clássica aos mais pequenos. O projecto abrangeu 600 alunos, distribuídos por 22 turmas do 2.º ciclo de dois agrupamentos de escolas de Lisboa, Padre Bartolomeu de Gusmão (Escola Josefa de Óbidos) e Marquesa de Alorna, e proporcionou ainda a formação a vários professores de dois agrupamentos de escolas: Ferreira de Castro (Mem Martins) e Azambuja.

Neste projecto, os músicos saem do seu lugar de conforto, do espaço da Fundação, para tocarem entre livros e secretárias, com um público a poucos metros de distância e muito curioso. O fagote é um dos instrumentos que fazem sucesso entre os mais novos. "Acabo sempre por mostrar umas das notas mais graves que parece o som dos cruzeiros. Como é um instrumento cómico, toco também o Dartacão e é nesse momento que os consigo conquistar", conta a fagotista. "Mas acho que o mais importante destas sessões, para além de dar a conhecer e educar, é deixar aquele bichinho de 'eu quero ir lá assistir, quero ir lá vê-los'."