Notas sobre a terceira missão da universidade

As especificidades e complexidades dos diversos contextos onde as universidades se inserem, as particularidades das expetativas das diferentes entidades e a singularidade dos cidadãos fazem com que seja bem mais difícil, para as universidades, encontrar modelos de atuação que potenciem o seu sucesso também neste vetor.

No Espaço Europeu do Ensino Superior as instituições universitárias de referência, como a Universidade do Minho, devem procurar [1]:

(i) assegurar uma educação nacional e internacionalmente reconhecida como sendo de elevada qualidade, e por isso atrativa, num vasto número de áreas de formação, no quadro de diferentes modalidades formativas, orientadas para diferentes públicos, contribuindo para histórias de vida pessoal e profissional bem-sucedidas e para o desenvolvimento do país;

(ii) assumir um papel de relevo no alargamento das fronteiras do conhecimento humano, vendo nacional e internacionalmente reconhecidos os seus contributos nas áreas científicas em que atua, criando condições para uma efetiva apropriação externa e aplicação do conhecimento que produz;

(iii) participar ativa e efetivamente no desenvolvimento cultural e socioeconómico das pessoas, do território em que se inscreve e do país, contribuindo para uma sociedade mais inclusiva e justa.

Em suma, devem procurar a excelência na educação, na investigação e na interação com a sociedade.

Nos vetores da educação e da investigação a regulação nacional e internacional e a praxis instituída determinam com razoável precisão os bons caminhos a trilhar, tornando fácil encontrar as boas práticas e os casos de sucesso que devem ser utilizados como modelos a perseguir. Já no vetor da interação com a sociedade a realidade é bem diferente. As especificidades e complexidades dos diversos contextos onde as universidades se inserem, as particularidades das expetativas das diferentes entidades e a singularidade dos cidadãos fazem com que seja bem mais difícil, para as universidades, encontrar modelos de atuação que potenciem o seu sucesso também neste vetor. O que tradicionalmente as universidades têm feito é deixar à iniciativa individual a realização de ações ad hoc ou então instituir e viabilizar instituições de interface e centros de estudos, que genericamente cumprem bem as suas missões, mas sempre demasiado “amarradas” às áreas de ensino e investigação que estão na sua origem.

Julgo que desde 2004 a UMinho entende esta limitação e encontro aí a razão da parceria iniciada nesse ano com a Câmara Municipal de Vila Verde para a instituição da primeira Casa do Conhecimento, que esteve na génese da Rede Casas do Conhecimento formalmente criada em 2012.

Entendo a participação da UMinho nesta iniciativa como uma forma de formalizar e sistematizar, de modo continuado, as relações e os canais de colaboração com as entidades e populações da sua região, numa primeira fase, e dos seus outros contextos (como por exemplo o espaço da língua Portuguesa) em fases seguintes.

Para a UMinho, as Casas do Conhecimento são “uma outra dimensão da universidade” que permite, acima de tudo, reforçar a sua condição de agente regional ativo, mas também alargar o reconhecimento e a procura da sua oferta formativa e criar um campo de experimentação, onde podem ser testadas tecnologias e serviços inovadores e desenvolvidas novas formas de participação e aproximação dos cidadãos (Internet de proximidade).

As “Casas do Conhecimento” representam, assim, os canais pelos quais a UMinho e os demais membros da rede procuram sensibilizar e envolver os seus cidadãos em desafios como a inovação, a aprendizagem, a criatividade, a experimentação tecnológica, a participação e a cidadania ativa, mobilizando as suas comunidades, locais, regionais e académicas, como atores do desenvolvimento económico, social e cultural, comprometendo-os na criação, utilização e disseminação do conhecimento e da cultura.

Apesar de se estar ainda numa fase de consolidação da Rede Casas do Conhecimento da região norte (pivotada pela UMinho), estão já a ser desenvolvidos esforços para o alargamento deste modo de interação com a sociedade noutros contextos, antevendo-se assim um funcionamento multinível de diversas redes regionais. Foi já criada a Casa do Conhecimento da UMinho em Díli, numa parceria com a Universidade Nacional de Timor Lorosa'e, e aguarda-se a aprovação pela AMA (Agência para a Modernização Administrativa) de um projeto que inclui o estabelecimento de uma rede no Alentejo, pivotada pela Universidade de Évora. Para apoiar a expansão internacional foi realizada uma candidatura ao programa Erasmus+ do projeto CAPSIC (Capacity Building in Portuguese-Speaking Island Countries), para a constituição de uma rede multinível com a participação de três Universidades Timorenses e de duas de São Tomé e Príncipe. Foi ainda realizada uma outra candidatura ao INTERREG-POCTEP com envolvimento de instituições Galegas e do norte de Portugal. Decorrem também contatos para a constituição de uma rede em Cabo Verde e uma outra que integre diversos centros do Instituto Camões.

Importa agora aproveitar os esforços já realizados e as oportunidades que se avizinham de modo a que a UMinho possa, também neste vetor da interação com a sociedade ser um exemplo de excelência, constituindo-se como uma demonstração da UMinho como uma Universidade sem muros ao serviço das suas regiões.

[1] Plano de Ação 2017-2021 Universidade do Minho

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