Serviços públicos, trabalho, cultura e CTT no congresso do PS

No Congresso do PS não se discutirá apenas a estratégia global do partido. Vários militantes de base e dirigentes apresentam moções sectoriais. O PÚBLICO sistematiza os temas nelas expostos.

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Renacionalização dos CTT, pede uma das moções ao Congresso do PS SEBASTIAO ALMEIDA

São 24 as moções sectoriais apresentadas por militantes do PS ao 22.º Congresso do partido que se realiza na Batalha, entre 25 e 27 de Maio. Um número mais alto do que é costume em reuniões magnas socialistas, o que pode indiciar que os militantes querem debater e participar. Daí que a organização do Congresso esteja a ponderar encontrar espaço para que estas moções, além de apresentadas, possam ser também debatidas, o que normalmente não ocorre, transitando a sua discussão para a comissão nacional subsequente aos trabalhos congressuais.

A maioria das moções é de militantes de base, mas há uma apresentada por um membro do Governo, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, outras duas por deputados - Wanda Guimarães, antiga dirigente da UGT,  e Paulo Pisco - e três da JS. Até o PS-Porto compareceu com uma moção sectorial.

Estado congregador

O secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, apresentou uma moção, ontem divulgada pelo PÚBLICO, de que é segundo subscritor o vereador em Lisboa e presidente da FAUL, Duarte Cordeiro, em que é proposto que seja repensada a intervenção do Estado, de modo a que este se transforme em catalisador do desenvolvimento, congregando agentes públicos e privados. A fórmula encontrada é a de “missões colectivas”, avançando mesmo com a sugestão que o modelo seja usado para diminuir a dependência de Portugal das energias fósseis. A moção afirma a necessidade de a social-democracia defender que “o Estado deve, na sua acção, ser um mecanismo de redistribuição de rendimento e de protecção social, mas também de desenvolvimento e inovação socioeconómica”. Avançando com a ideia de “missões colectivas”, diz que elas serão “um processo mobilizador de vontades e de recursos, com uma arquitectura transparente”. Para garantir a transparência, prevê a criação de um organismo que institucionalize as “relações entre sector público e privado num espaço alargado com funções de coordenação, de comunicação e de deliberação que reúna representantes do Governo, da Administração Pública, das Universidades e centros de interface, das empresas e dos trabalhadores”.

Renacionalização dos CTT

O secretário-coordenador do PS Porto, Rogério Pereira, é o primeiro subscritor de uma moção que propõe a “renacionalização dos CTT”. Alertando para a degradação dos serviços postais desde que os CTT foram privatizados – um acto que caracteriza como ditado “por razões meramente ideológicas” -, a moção pede “a defesa da marca CTT no caminho da modernização e sustentabilidade responsável, reforçando a empresa como elemento fundamental e estratégico no desenvolvimento social e económico do país”. Outra exigência é a da salvaguarda “do futuro sustentável e respectiva criação de valor” dos CTT e do “seu estatuto de grande empresa a nível nacional e no mundo”. A garantia de “um Serviço Postal universal, acessível e abrangente” é outra das questões levantadas. Por fim, é pedido que seja evitado “a tempo a destruição irreversível da rede pública postal e o agravamento da degradação do serviço postal de qualidade”.

Precariedade e direitos

As questões do trabalho surgem em três moções, pela mão do líder da JS, Ivan Gonçalves, da deputada Wanda Guimarães, e de Paula Reis. Ivan Gonçalves centra-se na defesa dos direitos laborais e no combate à precariedade. Defende, por exemplo, a extensão da semana de 35 horas ao sector privado, pede a reavaliação do “vasto conjunto de vínculos temporários” laborais existentes e mais fiscalização.

Wanda Guimarães faz uma desenvolvida abordagem do trabalho precário relacionando-o com a nova sociedade digital e com as consequências das novas tecnologias e da robotização sobre o trabalho e o emprego. Lembrando que Portugal é, com a Espanha e a Polónia, o país com mais precariedade, alerta para o peso desta no sector privado. E pede, entre outras medidas, uma reanálise do Código Laboral que “regule de forma mais adequada as normas laborais de acordo com os novos desafios”. Paula Reis apresenta uma moção para que o regime de teletrabalho seja facilitado.

Em defesa do SNS

A defesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS) é o tema da moção de Bruno Gomes que propõe uma reestruturação, apostando nas novas tecnologias e na transformação em holding. Na extensa lista de medidas que apresenta, refira-se que, ao nível da “aposta no capital humano”, advoga que “todas as carreiras existentes” sejam “assentes no mérito" e a progressão seja “associada ao desenvolvimento profissional e científico de cada um, atestado em concursos com provas públicas”. Propõe o fim dos “contratos individuais de trabalho, passando todos os funcionários a contratos de trabalho em funções públicas”. Quer ainda a “implementação da exclusividade no SNS, com a respectiva compensação remuneratória” e que “a contratação de recursos humanos por intermédio de empresas” passe a “residual, estabelecendo o limite de 3% das horas totais, por grupo profissional”.

Ensino superior gratuito

A instituição do ensino superior gratuito é a principal proposta da moção da JS, que tem o seu líder, Ivan Gonçalves, como primeiro subscritor. “Iniciar um processo de progressiva gratuitidade do ensino superior durante as próximas duas legislaturas, de forma faseada”, é a primeira proposta da JS, seguindo-se a definição de “um regulamento geral e uniforme de taxas e emolumentos para todas as instituições de ensino superior, com a fixação de valores máximos a cobrar”, o reforço da “democracia interna, a valorização dos processos de participação na gestão das escolas e o reforço do pluralismo nos órgãos de gestão”, a revisão do “regulamento de atribuição de bolsas de estudo” e a aposta “num plano nacional de habitação para estudantes deslocados”. Por sua vez, Rudolfo Caramez apresenta uma moção em defesa dos estudantes-trabalhadores para que não sejam prejudicados ao terem de mudar de faculdade devido à mudança de local de trabalho. Já João Catela é primeiro subscritor de uma moção que pede o regresso da Formação Cívica aos currículos escolares.

Apoio aos emigrantes

O deputado eleito pelo círculo da Europa, Paulo Pisco, é autor de uma moção em que defende mais apoio ao regresso dos emigrantes. Pede que “a administração pública, através dos ministérios respectivos, identifique os domínios relevantes para facilitar o regresso ao país dos portugueses residentes no estrangeiro”, bem como “sistematize esta informação e a disponibilize da forma mais ampla possível por via digital e através de brochuras nos postos consulares, câmaras municipais e serviços da administração”.

Serviço público de cultura

A criação de um “serviço nacional público de cultura” é proposta por Paulo Matos, que defende uma rede nacional de centros culturais descentralizada e coordenada com as autarquias. Advoga que seja instituída no Orçamento do Estado “a meta de 1%” para o sector, até ao fim da próxima legislatura. Pede ainda uma nova lei do mecenato, o “incremento da arte na educação”, a instituição de “concursos regulares, anuais e plurianuais de financiamento à criação artística”, o “fomento do associativismo cultural tradicional e de proximidade”, a “criação do orçamento participativo na Cultura”, o aumento da “efectiva aplicação de fundos europeus” nesta área e a “luta efectiva contra a precariedade”.

Economia Social

Há duas moções sobre a Economia Social, uma apresentada por Idalina Forte outra por Susana Ramos. Ambas defendem a aposta num sector que o PS elegeu como prioritário no último Congresso, tendo mesmo criado um Departamento Nacional da Economia Social. Idalina Forte centra-se nas IPSS, alerta que a rede de apoio a estas instituições está “em regressão”, lembra a responsabilidade histórica do PS em relação a este sector, referindo a governação de António Guterres, e pede que o Governo aposte neste sector. O mesmo objectivo é avançado por Susana Ramos, que apresenta diversas soluções concretas de apoio às instituições de Economia Social e centrando-se nas necessidades do sector cooperativo.

Protecção civil

A reestruturação da protecção civil é abordada pela moção que tem como primeiro subscritor Joaquim Gomes. A ideia central é a de que sejam unificadas as forças do sector. Questionando que estejam a ser multiplicadas as forças de combate a incêndios, defende que sejam reunidos “os conhecimentos humanos e o material existente, todos numa só organização de combate a incêndios florestais, urbanos e emergência pré-hospitalar”. Advoga ainda a unificação dos bombeiros.

Autonomia regional

O aumento das competências dos governos das regiões autónomas é defendido em duas moções. A de José Sousa pede mais poder na gestão do mar. A de Francisco César (que também subscreve a outra) pede que “sejam devidamente acauteladas as prerrogativas políticas e constitucionais das regiões autónomas” no processo de descentralização.

Voto electrónico

A adopção do voto electrónico para as eleições nacionais é a proposta da moção de Pedro Santos. Defende uma alteração à lei eleitoral para que o Governo possa introduzir “um sistema de voto via Internet”. E quer mesmo que o sistema esteja a funcionar nas legislativas de 2019 para os círculos eleitorais da Europa e de fora da Europa, sendo progressivamente alargado a todos os eleitores.

Regulamentar a prostituição

A JS insiste, mais uma vez, na necessidade da “regulamentação da prostituição”, numa moção que tem como primeiro subscritor o seu líder, Ivan Gonçalves. Lembrando que esta causa é defendida pelos jovens socialistas há dez anos, a moção propõe que o caminho a seguir escolha um de três modelos: o do trabalho independente, para o qual “bastaria uma alteração do crime de lenocínio”; o cooperativo, que obriga a “legislação especial e algumas alterações ao Código Cooperativo” e o de “trabalho dependente”, que “permitiria aos trabalhadores sexuais ter uma carreira contributiva igual à do resto dos portugueses” e a estarem protegidos pelo Código do Trabalho e pela contratação colectiva.

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