Recados

“O Presidente da República não manda recados ao Governo pelos jornais”, disse António Costa. Um “recado” é uma “mensagem”, um “aviso”, um “mandado”, mas também é “censura”, “repreensão”, “ralho”.

Um “recado” pode ser entendido como “mensagem”, “aviso”, “mandado”, mas também como “censura”, “repreensão”, “ralho”. Num dicionário recente, regista-se como “aviso ou mensagem curta, oral ou escrita, remetida por uma pessoa a outra” e exemplifica-se com “mandar um recado”.

“O Presidente da República não manda recados ao Governo pelos jornais”, disse António Costa, no que seria entendido como resposta a Marcelo Rebelo de Sousa, que afirmou em entrevista ao PÚBLICO e à Rádio Renascença que não se recandidataria, se houvesse outra tragédia como os incêndios do ano passado. Por sua vez, a declaração do Presidente seria também uma resposta ao que o primeiro-ministro disse anteriormente à revista Visão, afirmando que não veria razões para se demitir, mesmo que voltasse a haver mortes nos incêndios em Portugal.

Para Pacheco Pereira, António Costa respondeu bem a Marcelo, “o que nem sempre é fácil, visto que neste combate verbal o Presidente sabe-a toda”. E escreveu: “Claro que manda [recados] por todos os meios.”

Também existe a expressão “dar conta do recado” e aqui sugerimos que se atente à diferente linguagem entre um dicionário de 1958 e outro de 2006. Escreve assim o primeiro: “Desempenhar-se cabalmente de determinada incumbência.” O segundo, assim: “Sair-se bem de um encargo, desempenhar bem uma tarefa ou função.” Ganha-se em simplificação, perde-se em requinte.

Também no mais antigo se diz que “recado”, por extensão, pode significar, “papel e pena para escrever qualquer comunicação”. Bonito.

“Recado” corresponde ainda a “pequenos serviços incumbidos a um criado ou outro serviço fora de casa” e “execução de um encargo ou tarefa ou de uma pequena compra, a pedido de alguém”. Exemplo: “O miúdo foi fazer um recado à mãe.”

No Sul do Brasil, quer dizer “conjunto de peças com que se encilha o cavalo para montaria”. No plural, “recados”, são “cumprimentos, recomendações, palavras afectuosas”. Exemplo: “Não se esqueça de lhe transmitir os meus recados.”

A expressão mais engraçada é “tomar o recado na escada”, ou seja, “responder antes de ouvir de todo”.

Antigamente, também se usava como sinónimo de “recato”, “cautela”. Dizia-se que “um homem de bom recado” era “um homem de confiança, que dá boa conta de si”. Deve ser assim que Presidente e primeiro-ministro se consideram.

Estão bem um para o outro. Fica dado o “recado”.

A rubrica Palavras, expressões e algumas irritações encontra-se publicada no P2, caderno de domingo do PÚBLICO

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