O contrato de governo entre a Liga e o Cinco Estrelas “está quase fechado”

Negociações decorrem e abrem caminho para a formação de um executivo inédito. Di Maio diz que se está a “escrever história” e pede tempo.

Foto
Luigi Di Maio não escondeu o seu optimismo GIUSEPPE LAMI / EPA

“O contrato está quase fechado”. “Há uma excelente atmosfera nas negociações”. “Temos um acordo em relação aos pontos-chave”. “Estamos a escrever história”. As frases de optimismo foram uma constante ao longo deste fim-de-semana, ditas nos intervalos da maratona negocial protagonizada pela Liga e pelo Movimento 5 Estrelas (M5S). Mas ainda não foram suficientes para a apresentação de um acordo final, com vista à formação de um executivo inédito em Itália que, a confirmar-se, marca uma ruptura com o quadro político do pós-guerra.

Com programas eleitorais e ideologias abertamente contrastantes e depois de semanas de acusações e insultos, as duas forças rivais, mas “vencedoras” das eleições legislativas de Março – o M5S foi o partido mais votado, ao passo que a Liga foi a que juntou mais apoios no seio da coligação de centro-direita – dizem-se mais próximas do que nunca de poder anunciar um programa de governo.

“Pela primeira vez na história está ser feita uma negociação de governo focada em matérias concretas”, disse este domingo aos jornalistas Luigi Di Maio, líder da plataforma anti-sistema fundada por Beppe Grillo, minutos antes de se juntar a Matteo Salvini e aos restantes representantes do partido de extrema-direita para nova ronda negocial, em Milão.

Com progressos consideráveis em matéria de imigração e economia – nesta última incluem-se a proposta do M5S de criar um rendimento mínimo para os cidadãos italianos pertencentes às classes mais desfavorecidas e a intenção da Liga de introduzir uma tributação fixa nos salários –, alcançados durante o primeiro round de discussões, na lista de prioridades a debater no domingo constou a escolha do dirigente político que poderá chefiar o governo.

Esse nome ainda não foi revelado. Dada a natureza intrincada das negociações e do executivo que se quer formar, sabe-se que não será Salvini ou Di Maio a assumir o cargo, mas uma terceira figura, fora do universo da Liga ou do Cinco Estrelas. Será “um político de altíssimo perfil”, segundo fontes próximas do M5S citadas pelo jornal La Stampa

Pressão alta

Se as divergências políticas entre as duas forças populistas já eram suficientes para dificultar um acordo, o apertadíssimo prazo pelo qual se orientaram as negociações também prometia complicar o processo.

Isto porque na semana passada o Presidente Sergio Mattarella ameaçou com a nomeação de um “governo neutral”, para fazer frente à falta de soluções políticas. Liga e M5S rejeitaram a proposta do chefe de Estado e comprometeram-se a chegar a um entendimento até segunda-feira, ficando à mercê da realização de novas eleições, em caso de falhanço das negociações.

É difícil saber se a cartada do governo técnico foi um plano arquitectado pelo Presidente para pressionar os dois partidos a sentarem-se à mesma mesa. Certo é que a “ameaça” resultou. 

À extensa lista de pressões que recaiam sobre Di Maio e Salvini, para formar governo, somou-se ainda o regresso da sombra de Silvio Berlusconi. No sábado, o antigo primeiro-ministro – que na semana passada concordou em ficar de fora da nova maioria e deixar Salvini assumir o protagonismo da direita política italiana – viu um tribunal de Milão levantar a interdição de ocupar e concorrer a cargos públicos que lhe fora aplicada até 2019, devido a uma condenação por fuga de impostos. 

A decisão judicial deu origem a uma onda de entusiasmo dentro da Força Itália, que passou a torcer pelo fracasso das negociações entre M5S e Liga, para poder apresentar a candidatura do Cavaliere a umas eventuais eleições antecipadas.

Sugerir correcção
Ler 18 comentários