Rui Rio reclama um país onde as pessoas se possam rever nos seus governantes

Líder social-democrata diz que o Governo se prepara para prejudicar as regiões mais desfavorecidas com a reprogramação do Portugal 2020 em benefício das que têm mais eleitores.

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Rio Rio nas comemorações do 44.º aniversário do PSD NUNO VEIGA/LUSA
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Mota Amaral e Alberto João Jardim foram homenageados em Beja NUNO VEIGA/LUSA

O discurso de Rui Rio na cerimónia comemorativa do 44.º aniversário do PSD que decorreu em Beja, na tarde de hoje, visou, pela sua contundência, não só a acção do actual Governo mas sobretudo anteriores governantes, sem que fosse necessário pronunciar o seu nome. “Defendemos um país mais justo e mais equilibrado. Um país onde todos sejam tratados com igual sentido de justiça. Um país onde as pessoas se possam rever nos seus governantes, porque os reconhecem como competentes, corajosos e, acima de tudo, sérios”. Mais de meio milhar de militantes e simpatizantes que encheram o cine-teatro Pax Julia, em Beja, interromperam a referência a um dos momentos mais críticos e sombrios da democracia portuguesa, com fortes aplausos. Quando o silêncio regressou à plateia, Rui Rio completou: “Pretendemos políticos sérios do ponto de vista material, que não ocupam cargos políticos para enriquecer, são coerentes e não se desdizem ao sabor das suas conveniências”.

Não era necessária a omissão dos visados quando o presidente do PSD vincou a conduta moral e ética que diz seguir, ao apelar aos“ governantes que honram a democracia”, para contrapor àqueles que “a desonrarem, como, infelizmente, tantas vezes tem acontecido”.

Jardim e Mota Amaral homenageados

João Bosco Mota Amaral e Alberto João Jardim, que foram ontem homenageados em Beja, são “dois estadistas que souberam incorporar na matriz do PSD”, aponta Rui Rio, realçando a sua vida política que interpreta como “uma lição que muito nos orgulha e um exemplo para todos os que têm da vida pública o verdadeiro sentido de serviço à comunidade”.  

O dirigente do PSD quer que os militantes do seu partido encarem a prática política “longe dos calculismos e das habilidades tácticas para meros ganhos de curto prazo”.

E dá um exemplo que pretende contrariar: a utilização de fundos comunitários “para cobrir despesas que devem estar acauteladas nos orçamentos de Estado”, seja, através de “subterfúgios contabilísticos e criatividade regulamentar”, ou investindo nas regiões que “já atingiram um melhor patamar de desenvolvimento, aumentando o seu fosso relativamente às mais desfavorecidas”. Também os fundos de coesão devem “sempre contribuir” para ajudar a equilibrar o país como um todo, “e não perpetuar as diferenças já existentes”, completa Rui Rio.

É neste sentido que pretende demarcar-se do Governo na reprogramação que este pretende fazer do Portugal 2020, para “prejudicar” as regiões mais desfavorecidas em benefício das que “têm mais eleitores”, acusa o líder social-democrata.

Solução governativa “esgotou-se”

Indo ao concreto, o presidente do PSD situa a sua análise na actuação do actual Governo, cumpridos que estão dois terços da actual legislatura. “Já ninguém tem dúvidas de que a solução governativa em que vivemos se esgotou e se está a esboroar nas suas próprias contradições ideológicas” sublinhando ter bastado um reposicionamento do PSD na forma de fazer oposição, para “vermos o alarido que vai nas fileiras dos partidos da esquerda mais radical”, que apoiam a actual solução governativa. A “credibilização” do partido social-democrata está a colocar em risco, “ as migalhas de poder que os socialistas deixam cair da mesa” para o BE e do PCP, observa Rui Rio.

No actual cenário político, o Governo limita-se a “sustentar uma ilusão conjuntural alimentada pela adequada propaganda”, critica o dirigente social-democrata, apontando a situação nos serviços de saúde como uma das referências mais negativas do actual Governo. E deixa uma advertência: “Confesso que estou preocupado com o que vi, ouvi e analisei nas visitas das quais subtraí uma conclusão.” A persistir, Rui Rio admite que o Serviço Nacional de Saúde “poderá entrar em colapso, se não mudarmos rapidamente de rumo”.

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