Portugal-Angola, os amanhãs voltaram a ser sorridentes

Presidente angolano salienta felicitações mútuas. Marcelo quase decreta fim da crise e fala no reiterar “relações fraternas e de amizade”. Ministro da Defesa estará já segunda-feira em Luanda.

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Encontro de Marcelo Rebelo de Sousa e João Lourenço em Setembro de 2017 em Luanda LUSA/MIGUEL FIGUEIREDO LOPES REPUBLIC PRESIDENCY OF PORTUGAL HANDOUT

Em menos de 24 horas as relações praticamente cortadas entre Angola e Portugal passaram a uma espécie de amanhãs radiosos. Bastou, na de tarde quinta-feira, o Tribunal na Relação de Lisboa dar razão ao recurso da defesa de Manuel Vicente determinando que o processo contra o ex-vice-presidente angolano prossiga em Angola para surgirem felicitações mútuas e o reiterar de “relações fraternas e de amizade”. E por pura coincidência, segundo garante o ministério da Defesa, o ministro Azeredo Lopes estará já em Luanda na segunda-feira em visita oficial.

As palavras foram poucas mas muito esclarecedoras. Depois de, na quinta-feira o primeiro-ministro e o Presidente da República de Portugal já terem manifestado a sua felicidade por ter desaparecido o “irritante” nas relações entre os dois países, ontem a palavra coube aos dois chefes de Estado.

Primeiro, logo pela manhã, falou o presidente Angolano, João Lourenço, através da sua conta pessoal no Twitter. “Felicitámo-nos pelo feliz desfecho do caso e reiterámos a vontade de seguir em frente com a cooperação entre os nossos dois países.”

Marcelo Rebelo de Sousa falou às 13h. Fê-lo na página online da Presidência da República com uma nota oficial. Também com um texto muito curto, o chefe de Estado luso praticamente decretava o fim da crise entre os dois países: "Os Presidentes da República de Angola e Portugal falaram esta manhã ao telefone, tendo reiterado as relações fraternas e de amizade entre os dois países, sublinhando a vontade de desenvolver a cooperação a todos os níveis."

A maio da tarde, Marcelo voltava ao assuntopara rejeitar que os seus comentários sobre a transferência para Angola do processo que envolve Manuel Vicente possam ser interpretados como intromissão na esfera da justiça, argumentando que "ninguém se imiscui numa decisão tomada".

Por outro lado, salientou a importância das relações luso-angolanas, declarando: "Estão em causa centenas de milhares de pessoas, portugueses e angolanos. E, portanto, quando estão em causa centenas de milhares de pessoas, isso é tão forte, tão forte, tão forte, que é mais forte do que tudo", disse ao jornalistas citado pela Lusa.

Para trás ficavam cancelamentos de visitas oficiais de governantes portugueses a Angola, primeiro-ministro incluído, uma cimeira empresarial luso-angolana em Luanda “congelada” e ameaças nada veladas de João Lourenço que chegou a falar, em Janeiro, num país ofendido pela não transferência para a justiça angolana processo que envolve o ex-vice-presidente de Angola.

Também ontem ficou a saber-se as datas exactas da visita oficial do ministro da Defesa português a Angola. Azeredo Lopes começa a deslocação já na segunda-feira e termina na sexta-feira.

Fonte oficial do gabinete de Azeredo Lopes assegurou ao PÚBLICO que o acerto das datas nada teve a ver com decisão de quinta-feira do Tribunal da Relação de Lisboa. A mesma fonte assegurou que o convite do Ministério da Defesa angolano a Azeredo Lopes data do “início de Abril”, mas que só ontem foi possível fechar “questões de pormenor” sobre a visita. Os pormenores da deslocação foram acertados entre representantes dos ministérios da Defesa dos dois países.

Se o Governo luso já depositava nesta visita grandes expectativas nesta visita para o retomar das relações entre os dois países, elas são agora ainda maiores, com Azeredo Lopes a apresentar-se quase como um embaixador do Estado português. E, claro, com a vida facilitada para os dois lados, uma vez que já não há a “irritação” a toldar o ambiente.

Em Angola, o ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queiroz disse não havido qualquer surpresa pela transferência do processo de Manuel Vicente o seu país. “O que constitui surpresa é o facto de o processo ter levado tanto tempo até surgir o Tribunal da Relação de Lisboa a remeter o processo para Angola”, afirmou ao estatal Jornal de Angola.

O jornal, que na quinta-feira tinha noticiado a transferência do processo como uma vitória política do presidente angolano, falava ontem, em editorial numa “decisão sensata”, lembrando que “as relações entre Estados desenvolvem-se com base no respeito mútuo e na confiança”.

E salienta a salvaguarda dos “interesses”: “Não havia necessidade de se perder tanto tempo e, por arrasto, perigar as relações entre dois países, cujos cidadãos têm interesses num lado e no outro. O número de angolanos em Portugal e o de portugueses em Angola, aliado aos interesses envolvidos, merece, de facto, um outro tratamento”, acrescenta o texto.

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