Bali e ilhas Gili, um guia para o Paraíso

A rota para o Paraíso pode ser árdua – de Portugal a Bali é, no mínimo, uma viagem de um dia de avião, com uma ou duas escalas. Mas a recompensa espera-nos no final. Com a ajuda de um habitante local, eis aqui um roteiro para poder melhor apreciar o que a grande ilha da Indonésia tem para oferecer.

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João Palma

Há sítios que são únicos no mundo (como, por exemplo, os Açores) e Bali é um deles, juntando praias, belezas naturais, monumentos e santuários. O que distingue Bali do resto da Indonésia é a religião predominante ser a hindu, muito tolerante face a outras confissões religiosas. Por isso, em Bali, é frequente ver lado a lado igrejas católicas, mesquitas e templos hindus. Essa convivência reflecte-se no dia-a-dia e as diversas crenças não são obstáculo às relações pessoais, não só de amizade, mas até de casamentos.

Ponto prévio: face à distância entre Bali e Portugal e ao facto de ser necessário reservar dois dias para viagens (ida e volta), tudo o que seja menos de 12 dias  não é aconselhável. No nosso caso, estivemos em Bali 12 dias, mais quatro nas ilhas Gili (de que falaremos adiante).

Já tínhamos estado na ilha e, como é frequente, quem a visita pela primeira vez fica com vontade de repetir – não só pelas belezas que encerra, mas pelas gentes, que são extremamente simpáticas e acolhedoras. Voltámos a ficar mesmo à entrada (mas fora) de um luxuoso resort em Nusa Dua, na residencial La Orein, onde tínhamos criado estreitas relações com um dos funcionários, Fransiskus (Frangky) Xavierus Way, natural de Kupang, Timor, que é segurança nessa pensão. Quando lhe dissemos que íamos voltar, Frangky trabalhou sem folgas durante um mês e tirou férias para nos poder acompanhar e nos conduzir no seu monovolume a sítios que desconhecíamos.

Porém, não é preciso conhecer alguém para nos sentirmos bem recebidos, como é exemplo o episódio que a seguir descrevemos. É usual o corte de estradas para a passagem de cortejos de casamento ou de enterros. Numa das vezes, a caminho da praia, o trânsito estava interrompido por uma cerimónia hindu de cremação. Saímos do carro para ver o desfile (com andores, músicos, etc.) e logo fomos instados a incorporarmo-nos nele. No local da cremação, fomos apresentados aos familiares do defunto, tirámos fotografias com eles e fomos convidados a assistir à cremação e participar no banquete a seguir à cerimónia.

Os hotéis

La Orein, em Nusa Dua, é uma residencial modesta, mas limpa, com ar condicionado, casa de banho privativa, camas confortáveis e preços baixíssimos (13€ por quarto normal e 16€ por uma suíte). Os funcionários são, na sua maioria, jovens, mas o que lhes pode faltar em profissionalismo é largamente compensado pela simpatia e disponibilidade. Um exemplo: Jheeyn, uma das recepcionistas, tinha saído de serviço às dez da noite mas esperou até depois da meia-noite só para nos receber e dar-nos as boas-vindas.

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Nusa Dua Reuters

Esta é, porém, uma das muitas propostas. O alojamento é barato e é possível encontrar um hotel com todas as comodidades por cerca de 50€/dia.

Kuta, a cidade que não dorme

Como apreciamos sossego e tranquilidade, ficámos em Nusa Dua. Porém, o sítio mais famoso de Bali é Kuta, recheada de lojas, restaurantes, hotéis e casas de diversão nocturna – o local certo para quem goste de férias agitadas. Já as praias de Kuta e Legian (na prática, uma única) são as piores de Bali – sujas no areal e na água, cheias de gente.

Nusa Dua, boas praias e resort de luxo

Nusa Dua, no outro lado da península, no Sul de Bali (o aeroporto fica ao meio, Kuta está pegada ao aeroporto na costa ocidental e Nusa Dua fica a 14km do aeroporto na costa oriental), é o oposto de Kuta. O sossego impera, em especial num excelente resort onde os hotéis estão escondidos pela vegetação luxuriante. Belas praias, Nusa Dua e Geger, limpas e com água transparente.

As praias

As duas praias de Nusa Dua são Geger, a maior, gerida pela comunidade local (espreguiçadeiras, toldos, restaurantes e umas muito recomendáveis massagens); e Nusa Dua, que serve o resort, com uma fila de três lojas/restaurantes à entrada da praia. Recomenda-se o último, mais junto à praia, com comida local a preços acessíveis. Um bando de esquilos que vêm comer à mão são atracção suplementar. A praia de Nusa Dua está dividida em duas partes, sendo uma delas uma baía com dois templos em cada extremidade, que merecem uma visita, bem como o Water Blow (Esguicho de Água), junto do templo mais distante.

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João Palma

A sul de Kuta, na costa ocidental, Djimbaran (jantar na praia ao pôr do sol), Pandawa, Dreamland, Padang Padang, Blue Point (Uluwatu) e Pandawa (na extremidade sul de Bali) juntam águas límpidas a paisagens deslumbrantes. Umas são boas para nadar, como Pandawa, e outras para surfar, como Dreamland e Blue Point. Não chegámos a visitar o Norte da ilha, mas dizem-nos que Amed é também uma praia muito bonita.

Sanur, na costa oriental, é local de residência de muito estrangeiros, mas a praia não é muito limpa.

A gastronomia

A gastronomia indonésia é muito similar à de outros países da região, como Tailândia ou Malásia. Porém, ao contrário dos tailandeses, que usam pauzinhos, os indonésios utilizam faca e garfo, o que se torna mais fácil para ocidentais. Os pratos mais comuns são nasi goreng (arroz frito com vegetais e ovo) ou mie goreng (massa de arroz frita com os mesmos acompanhamentos), que podem ser complementados com ayam (galinha desfiada). A versão líquida do mie goreng, uma sopa com os mesmos ingredientes da variante seca, é deliciosa. Outros pratos comuns são lumpia (rolos chineses) e satay (espetadas de carne de vaca ou galinha com molho de amendoim). Os indonésios usam pouco sal, mesmo no peixe ou nos mariscos – o gosto é fornecido pelos vegetais e pelo picante (mas em geral há sempre o cuidado de saber se o cliente quer ou não picante na comida). É normal servirem a carne de vaca muito bem passada (por vezes até de mais), pelo que se deve pedir para que tal não suceda.

A fruta é barata e abundante. Destaque para as bananitas, o ananás baby, o rambutão, o mangustão, o salak/snake fruit (come-se a polpa branca destes três frutos), a pitaia (abre-se ao meio e come-se o interior com uma colher) e o durian (muito apreciado, mas com um sabor peculiar). E, claro, o coco, servido com palhinha para beber a água e colher para comer a polpa – servido fresco, não só mata a sede como é um preventivo de desarranjos intestinais, pelo que é aconselhável beber um de manhã. Também se recomenda beber só água engarrafada. Há três marcas de cerveja, mas a mais comum e melhor é a Bintang (garrafas de 0,33l ou 0,66l). O vinho e os outros álcoois são caros. Os sumos de fruta são baratos. O café expresso é no geral bom, mas nem sempre está disponível. O mais normal é o café de Bali (tipo turco com borras), feito em cafeteira ou na chávena, de paladar agradável, mas se lhe adicionar açúcar e o mexer, deve esperar que as borras voltem a assentar no fundo.

Os restaurantes

Tanto em Bali como em Gili, pode-se comer bem por menos de cinco euros por cabeça. Em Kuta, há centenas de restaurantes para todos os preços e gostos. Em Nusa Dua, a oferta é mais reduzida mas ainda abundante. Pegado a La Orein, há um pequeno e baratíssimo warung (restaurante), Sosialita, que só serve jantares. Outro restaurante de comida local é o Warung Bule & Susy. Mais requintada e menos barata é a Tavern de Bali, com ambiente acolhedor e boa cozinha local e internacional. Nusa Dua Pizza é uma surpresa: uma excelente pizaria (ao nível das melhores napolitanas) e as pizzas (suficientes para duas pessoas) custam cerca de 5 euros.

Em Gili Air, recomenda-se o Warung Sunny. Muito barato (4/5 euros por pessoa), tem uma extensa lista de pratos tradicionais das várias regiões da Indonésia. O dono faz questão de perguntar as preferências dos clientes (mais ou menos picante, etc.) e com base nessa avaliação recomenda uma série de pratos. O Frangky, como bom indonésio, pediu nasi goreng, mas foi dissuadido: “Isso está na lista como street food, isto é, que se pode comer em qualquer outro lugar; em vez disso vai experimentar outro prato”, disse o proprietário. E, na verdade, o Frangky ganhou com a troca. Cada um de nós experimentou pratos diferentes e até o mais novo, que tem intolerância a ovos, comeu muito bem. Escusado será dizer que o Frangky, a partir daí, foi alvo de brincadeiras – cada vez que íamos comer, dizíamos: “Já sabemos, para ti é nasi goreng…” O único inconveniente do Warung Sunny é não servir bebidas alcoólicas. Outras recomendações em Gili Air são o Classico Italiano, excelentes pizzas, o Turtle Beach e o Ruby´s Café. O Coffee & Thyme Gili Air, no porto, serve um óptimo café expresso.

Os pontos de interesse

Em Bali, é obrigatório um roteiro que inclua uma visita a Thopati, às fábricas de batik (tecidos artesanais tradicionais) e de prata, seguindo para Ubud, com os seus templos e a Floresta Sagrada dos Macacos. A viagem prossegue pelos arrozais plantados em degraus (como as vinhas no Douro) e pelas produtoras de café Luwak. Este café, muito caro, é produzido da seguinte forma: a civeta (luwak em indonésio), um mamífero, come o fruto do café e expele os grãos nas fezes. Estes são lavados e torrados para produzir um café especial – um “café de merda”, com um sabor delicado e único que vale a pena degustar. A rota termina nas alturas em Kintamani, no restaurante Sari, com buffet e uma vista esplendorosa para o vulcão Batur.

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Rudi Van Starrex/Getty Images

Outra sugestão é um circuito que inclua os templos de Tamam Ayun, em Mengwi, os templos junto ao lago Berantan, com vista para a montanha, e depois rumar à costa, para o templo de Tanah Lot, junto ao mar, onde poderá tocar em cobras sagradas, formular três desejos e receber a bênção de sacerdotes hindus.

Imperdível é ainda o espectáculo de Kecak e Dança do Fogo, ao pôr do sol, em Uluwatu, dança ritual que conta uma lenda hindu. Recomenda-se a chegada com antecedência para comprar os ingressos, porque a lotação do anfiteatro está limitada a 400 lugares. Depois de assegurada a entrada, pode aproveitar o tempo que antecede o início do espectáculo para visitar o templo adjacente e percorrer um longo trilho que termina num promontório com vistas de cortar a respiração.

Já menos recomendável é a visita à Turtle Island, um local de criação e preservação das tartarugas, em Benoa. A deslocação custa 400.000 rupias (25€) para duas pessoas, e o que há para ver é uma praia sujíssima e alguns tanques onde conservam tartarugas nos diferentes estágios de crescimento – a visão das tartarugas a nadar livremente nas ilhas Gili é muito mais gratificante.

As compras

Esculturas em madeira, panos batik e pratas. Os melhores batik (mas também os mais caros) são os da tecelagem artesanal em Thopati. O mesmo se aplica à ourivesaria em prata na fábrica da localidade. Porém, é possível comprar tudo isso em inúmeras lojas de rua. O Frangky, porém, recomendou-nos que fizéssemos as compras no Krisna, em Kuta, uma grande loja onde se pode adquirir tudo (batiks, prata, esculturas em madeira) mais barato (muitas lojas de rua abastecem-se ali).

As ilhas Gili

Ir a Bali e não visitar as ilhas Gili é como ir a Roma e não visitar o Vaticano. A viagem por barco rápido demora cerca de três horas e custa entre 50€-60€ ida e volta, incluindo transporte de recolha e retorno ao hotel em Bali. Devido ao tempo de viagem, recomenda-se um mínimo de três dias de estada. O arquipélago Gili é composto por três ilhas, Trawagan, Meno e Air. Trawagan é a mais movimentada, com vida nocturna, Meno a menos, de Gili Air vê-se a costa da grande ilha de Lombok (a travessia de barco leva 10 minutos). Há ligações directas para Trawagan e Air; para Meno é preciso apanhar um barco nas duas outras ilhas. Ficámos em Gili Air, na muito recomendável Melbao Homestay, uma pequena pensão de lotação limitada, cuja diária em quarto duplo é 250.000 rupias indonésias (14,50€) pagas em numerário, incluindo um excelente pequeno-almoço. Tem boa cama, ar condicionado, casa de banho privativa (o chuveiro é ao ar livre, a sanita e o lavatório estão sob um telheiro), um alpendre com mesa, duas cadeiras (onde é servido o pequeno-almoço) e uma cama de rede.

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João Palma

Há outra oferta hoteleira, mais luxuosa, mas sempre com preços muito acessíveis.

As ilhas Gili são pequenas, perto umas das outras e lá não há automóveis: as deslocações são a pé, de bicicleta ou em carrinhas puxadas por pequenos cavalos. Porém, há inúmeras caixas de multibanco e restaurantes – ilhas primitivas mas com todos os confortos civilizacionais. Por 100.000 rupias (6€) é possível fazer um passeio de cinco horas pelas três ilhas com snorkeling (óculos e barbatanas incluídos no preço), para ver peixes, corais e tartarugas. O almoço, em Gili Meno, não está incluído.

A atracção principal das Gili (e quase única) é o mar, a praia e os corais, mas a viagem vale a pena. Em Gili Air, a melhor praia é Turtle Beach (Praia das Tartarugas), onde a 20 metros da costa existe um jardim subaquático de águas transparentes, em que, como o nome indica, é possível ver, além de corais e peixes, tartarugas.

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