Os Aliados voltaram a ser o porto de abrigo para o campeão

A festa do título do FC Porto estendeu-se da Alameda do Dragão até à Câmara Municipal. Mais do que um gesto simbólico, foi um regresso “a casa”, testemunhado por milhares de adeptos.

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Manuel Fernando Araújo/LUSA

Tinha passado tanto tempo desde que o FC Porto havia festejado pela última vez um título na sala de visitas da cidade que, para alguns, já era difícil fazer contas: “Há nove anos que o clube não festeja nos Aliados. Nove, não é? Não? Dezanove, dezanove anos”. Vaná, um campeão de última hora no dia de encerrar as contas da época 2017-18, falhou os cálculos mal terminou o jogo em Guimarães e também fez uma previsão conservadora quando se tratou de imaginar a mole de adeptos que esperava a comitiva na baixa do Porto. Eram milhares (quantificar com rigor é um exercício arriscado), milhares a aplaudir e a olhar para cima — primeiro para o topo do autocarro panorâmico, depois para o varandim da Câmara Municipal.

“Já estive em muitas festas, mas como esta nunca vi”. Palavra de um emocionado “Moreno”, técnico de equipamentos do clube, que corrobora a visão de Nelson Puga, médico de longa data. Também com experiência nestas andanças, mas a mais de 300km de distância, Maxi Pereira não destoou: “Nunca vivi uma coisa assim. Estava à espera, pois tinha muita vontade de ser campeão no FC Porto e nunca imaginei que tivesse de esperar tanto por este momento”, desfiou, ao Porto Canal.

Os estados de alma foram saindo uns atrás dos outros, durante um percurso que começou no Estádio do Dragão — onde foi feita a troca do autocarro oficial para o da festa ambulante, com a inscrição “Nascidos para vencer” — e foi, paulatinamente, recolhendo gritos de incentivo e acenos pelas ruas do Porto, em direcção ao centro. Um centro que se foi compondo desde as primeiras horas da tarde e que envolveu o longuíssimo palco instalado no meio da avenida para a parada das estrelas.

Não foi apenas uma festa, foi a terceira festa no período de uma semana. Uma megafesta com guião e margem de erro suficiente para acautelar a vontade dos adeptos e testar a resistência dos jogadores. A mini-viagem do estádio até aos Aliados começou às 20h40 e terminou às 22h. Mas ainda faltava uma volta à avenida, a volta da consagração, com o motorista a pedir licença para ir furando por entre a multidão.

“Campeões, campeões, nós somos campeões”. Nada de novo nos dizeres arrancados às gargantas anónimas azuis e brancas e, sobretudo, nada de novo para Iker Casillas, protagonista de tantas e tão brilhantes cerimónias de aclamação pelo mundo fora. Se há algo de distinto no Porto, para o multititulado guarda-redes espanhol só pode ser isto: “Incrível. Estou emocionado. Este ano foi diferente, fizemos uma época muito boa e esta é uma festa a durar praticamente uma semana. Creio que isso mostra a fome de títulos que havia”.

“Foi muito tempo”

Por essa altura, já Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto (que foi moderadamente aplaudido quando um dos speakers agradeceu o convite), esperava a comitiva na porta de entrada do edifício. Seguir-se-ia a entrega da medalha de ouro da cidade a Pinto da Costa, dirigente máximo do FC Porto, cerimónia que exigiu um intervalo momentâneo no ritual de saltos e abraços que os jogadores perpetuaram, já nos corredores da autarquia.

Fez-se silêncio, trocaram-se cumprimentos e elogios e, das declarações do presidente dos “dragões”, ficou uma ideia acima das outras: “Dezanove anos foi muito tempo, não só nos anos em que não vencemos, mas sobretudo nos anos em que encontrámos as portas da câmara fechadas. Mas felizmente que hoje temos à sua frente não um homem que gosta do FC Porto, mas um homem que ama a cidade do Porto. E quem ama a sua cidade tem de abrir as portas àqueles que honram a cidade do Porto e levam o seu nome a todo o mundo”.

Um título colectivo para o FC Porto, o 28.º do palmarés no campeonato, e um título pessoal para Pinto da Costa, traduzido no discurso breve interpretado por Rui Moreira: “O senhor representa aquilo que é de mais essencial na cidade do Porto, por isso lhe digo apenas que estamos a fazer justiça e que estamos aqui para lhe atribuir um título que, no fundo, há muito é seu”.

Lá fora, os adeptos esperavam pacientemente pelo momento de verem o troféu nas mãos do capitão, a reluzir debaixo das luzes azuladas dos projectores. Um momento de simbiose, de união, essa palavra tão propalada ao longo da temporada para definir os elos que seguraram o balneário. “Já esperava isto há três anos. Trabalhámos muito para este título, desde a pré-época que não foi fácil. Na verdade, tinha uma foto dos Aliados e dizia para mim: ‘Um dia vou estar ali’. E isso concretizou-se”. Sim, Danilo esteve lá. E muito do que é o Porto esteve com ele.

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