O lado da maternidade do qual poucos falam

Apesar de alguma semelhança com a depressão pós-parto, o baby blues não é grave e desaparece espontaneamente cerca de duas semanas após o parto

Dakota Corbin/Unsplash
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Joana Almeida é psicóloga clínica e da saúde
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Joana Almeida é psicóloga clínica e da saúde

Há alguns dias celebrou-se o Dia da Mãe, uma data especial em que se comemora a maternidade e se homenageiam todas as mães — especialmente as nossas não é verdade? No entanto, a transição para a maternidade tem um outro lado de que ninguém fala e sobre o qual gostava de reflectir.

A transição para a maternidade conduz a uma grande mudança ao nível do estilo de vida, alterando significativamente a identidade da mulher que, a partir do início da gravidez, assumirá novas tarefas e novos papéis e adquirirá novas competências, não se devendo confundir, no entanto, alterações normais com uma depressão pós-parto.

O Baby Blues dá nome a um conjunto de reacções emocionais transitórias que afectam mais de 50% das mães e que ocorrem frequentemente nos dias posteriores ao parto, relacionando-se com factores biológicos. Apesar de alguma semelhança com a depressão pós-parto, o baby blues não é grave e desaparece espontaneamente cerca de duas semanas após o parto.

Por sua vez, a depressão pós-parto caracteriza-se pela ocorrência de um episódio depressivo no período pós-parto, podendo surgir imediatamente após o nascimento do bebé ou até um ano depois do mesmo. Apesar de este quadro poder prevalecer em ambos os progenitores, focar-nos-emos no caso das mães.

Em termos de sintomatologia, e embora este quadro clínico se revele bastante semelhante a outros episódios depressivos, existem algumas especificidades que caracterizam esta condição clínica. Deste modo, mulheres com depressão pós-parto podem manifestar: humor deprimido ou mudanças de humor severas; intensa irritabilidade; preocupação exagerada com o bem-estar do bebé e a sua própria competência parental; medo de estar sozinha com o bebé; sintomas de ansiedade; pensamentos ruminativos (“que não saem da cabeça”) sobre fazer mal ao bebé; afastamento da família e amigos; alterações do apetite (falta ou aumento de apetite); alterações do sono (insónia ou hipersónia); dificuldades de concentração e tomada de decisão; redução do interesse e do prazer em actividades anteriormente prazerosas; dificuldade em estabelecer vínculo com o bebé; diminuição do desejo sexual; sentimentos de inutilidade, culpa e/ou inadequação.

Por isso, mãe, se te identificas com algum destes sintomas ou conheces alguma amiga que esteja a experienciar a sintomatologia apresentada, procura a ajuda profissional especializada de um psicólogo clínico. Enquanto psicólogos, podemos ajudar a lidar com os sintomas, a ultrapassar esta patologia e a prevenir futuras recaídas. Uma depressão pós-parto que não é tratada pode subsistir vários anos e prejudicar não só a mãe como todos os que estão à sua volta através de um efeito dominó.

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