Accionistas decidem empréstimo de Bruno de Carvalho

SAD detida maioritariamente pelo Sporting deverá aprovar nova emissão obrigacionista que pode ascender aos 60 milhões de euros.

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LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS

Os accionistas da Sporting SAD (sociedade anónima desportiva) deverão aprovar hoje, em assembleia geral (AG), a emissão de um novo empréstimo obrigacionista proposto pela administração liderada por Bruno de Carvalho. Em causa estão 30 milhões de euros que servirão para liquidar um anterior empréstimo realizado em 2015 que iria maturar este mês — os responsáveis do clube pretendem adiar o reembolso para Novembro. Uma proposta que terá ainda de ser aprovada pela AG de obrigacionistas, marcada para o dia 20 de Maio.

A nova emissão obrigacionista proposta aos accionistas da SAD (onde o clube detém directa e indirectamente 64% do capital) poderá ascender aos 60 milhões, mas dividida em duas fases para evitar a sua maturação na mesma data. Uma operação que os dirigentes “leoninos” já consideraram “fundamental” para o cumprimento dos compromissos financeiros da sociedade que gere o futebol e ainda financiar as operações de tesouraria.

Este tipo de empréstimos tem sido uma alternativa aos financiamentos bancários encontrada pelos clubes de futebol, como explicou ao PÚBLICO o economista António Samagaio. “Houve uma mudança de paradigma nos últimos anos: até há pouco tempo, as SAD financiavam-se maioritariamente junto da banca, que actualmente quer reduzir a exposição a este tipo de empréstimos de risco.”

Os riscos são maiores para os clubes que recorrem a esta opção. Enquanto junto dos bancos, sobretudo nacionais, era mais fácil renegociar e alargar maturidades, neste tipo de empréstimos essa possibilidade reduz-se drasticamente. “Estamos a falar de milhares de investidores sem rosto, o que complica qualquer tentativa de renegociação, já que não existe a mesma flexibilidade, o que obriga a uma gestão ainda mais rigorosa das SAD.”

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Mas os investidores não ficam também isentos de riscos. Pelo contrário. O mais gravoso passa pela possibilidade de a entidade emissora não reembolsar a dívida nem pagar os juros, normalmente mais atractivos do que os de outras alternativas de investimento, precisamente por causa dos riscos envolvidos. Algo que até ao momento nunca sucedeu com o Sporting, que já realizou cinco operações deste tipo (ver tabela), nem com nenhuma outra SAD.

Para convencer os obrigacionistas (um total de 4241 investidores) a prorrogarem o prazo de reembolso em seis meses, o Sporting acena com a manutenção do pagamento da actual taxa de juro bruta de 6,25% (taxa anual), 4,5% líquida. Depois de uma primeira AG obrigacionista realizada a 4 de Maio, em que acabaram por participar apenas 1,03% dos credores, não havendo o quórum exigido, foi agendada uma nova votação para 20 de Maio (10h). E as condições para o adiamento do reembolso tornaram-se mais flexíveis, bastando uma maioria de dois terços dos votos emitidos na AG.

Dívida de perfil “especial”

Esta operação decorre de uma nova reestruturação financeira negociada entre a SAD sportinguista e a banca credora (Novo Banco e Millennium BCP), “em condições [muito] favoráveis”, segundo admitiu recentemente Bruno de Carvalho, num artigo de opinião publicado no Diário de Notícias a 30 de Abril. Na mesma reestruturação ficou definida a aquisição dos VMOC (Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis, no caso em acções da SAD) na posse dos bancos, por 40,5 milhões de euros, em vez dos anteriores 135 milhões.

No fundo, os VMOC eram dívida da SAD ainda que reconvertida nestes certificados. Foi a solução encontrada em 2013 depois de Bruno de Carvalho tomar posse e avançar para uma primeira renegociação com os bancos credores. Estes sempre assumiram não estarem vocacionados para gerir sociedades desportivas, apesar de poderem passar a deter a maioria de capital da SAD “leonina”, caso esta não tivesse músculo financeiro para os reembolsar, terminado o prazo de maturação.

“Na perspectiva de um banco, ser accionista deste tipo de sociedades não faz muito sentido. Contabilisticamente, esta foi uma forma para o Sporting tornar o capital próprio da SAD positivo, já que com esta dívida continuaria em falência técnica. Não deixa de ter uma dívida, mas tem estas características especiais”, defende Samagaio, admitindo que, caso se confirmem os termos da renegociação anunciados por Bruno de Carvalho, estaremos perante um “perdão bancário”.

“Mas nada disto é ainda oficial, o que é estranho face ao impacto que esta renegociação tem nas contas da SAD. A única explicação para a inacção da CMVM [Comissão do Mercado de Valores Mobiliários] nesta matéria será o facto de estarem em causa entidades e valores que não têm impacto no mercado de capitais, apesar do seu mediatismo”, justifica. “A confirmarem-se estas notícias, a SAD ficará bastante aliviada.”

Confirmado ou não este “perdão”, o economista considera que a actual administração da SAD sportinguista “tem estado a fazer um bom trabalho” na recuperação financeira da sociedade. “Desde que tomou posse [em Março de 2013] gerou resultados líquidos de 28 milhões de euros entre os anos desportivos de 2013-14 e 2016-17. Ou seja, conseguiu um equilíbrio, ao contrário do passado, em que foram acumulados prejuízos bastante significativos.”

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